O suspeitoso Moro e o iracundo Bolsonaro

Há quem creia na Lei do Retorno. Um moço judeu, por nome Joshua, fundador de religião então nova, já alertava para isso: “Não faça aos outros o que não quer que façam a você”. Os tão religiosos ministro Sérgio Moro e procurador Deltan PowerPoint , por seus explícitos enlaces com o credo do moço crucificado, deveriam estar atentos a tão precioso ensinamento.

Elder Vieira*


Presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sergio Moro - Foto: Agência Brasil/Antonio Cruz

Para quem invadiu conversa entre Lula e Dilma e expôs diálogos, que incluíam impressões pessoais e privadas, entre uma chefe de Estado e um ex-presidente da República, isso que o Intercept publicou, respeitando assuntos privados, não deveria causar protesto. Afinal, os jornalistas de Greenwald, diretor e editor do veículo, nada mais fizeram do que jornalismo, denunciando o que lhes pareceu ser uma grande armação.

Armação? Armação. Contra quem? Contra Lula e Dilma? Contra Lula e Dilma, mas não somente. Armação contra o Brasil e sua gente.

Não é segredo para ninguém as ligações entre a dupla Moro-Bolsonaro e os Estados Unidos da América, potência estrangeria que não se constrange em meter-se na vida do Brasil desde ao menos os anos 50 do século passado. Toda a vez que um golpe róla por aqui, corrido um tempo, a gente encontra as digitais do imperialismo estadunidense. Os EUA foram ativos na articulação dos golpes contra Getúlio, contra JK (sustado pelo general Lott), contra Jânio (que preferiu renunciar a ser posto pra fora) e contra Jango (este, efetivamente deposto, assim como Vargas, seu mentor).

O suspeitoso Moro e seu chefe, o iracundo Bolsonaro, são americanófilos. Amar os Estados Unidos, em si mesmo, é algo um tanto esquisito, dado o histórico do objeto amado, mas amá-los em detrimento dos interesses do Brasil, bem… aí já é traição. Traição nacional, que, numa nação soberana, cevada no amor-próprio e orgulhosa de sua história, tenha ela as contradições que tiver, daria cadeia, expropriação de bens e exprobação pública até a vigésima geração do meliante.
A traição de Moro e Bolsonaro ficou evidente durante a Lava jato e a campanha eleitoral de 2018.

Atendendo aos interesses das petroleiras estrangeiras, a suspeita operação do juiz paranaense focou a Petrobras, patrimônio da nação, legado getulista, conquista das lutas em defesa do petróleo, lutas que envolveram desde Monteiro Lobato, militares nacionalistas, estudantes liderados pela UNE, trabalhadores e intelectuais, até o Partido Comunista do Brasil.

O resultado aí está: golpe de estado contra Dilma, legitimamente eleita, entrega da Petrobrás nas mãos de um notório traidor da pátria que atende pelo nome de Pedro Parente, lacaio dos interesses norte-americanos, tucano de quatro costados, cujo pendor traidor se compara ao de José Serra, senador que fez aprovar normativa que retira da Petrobrás o pré-sal e o entrega a seus financiadores de campanha: as petroleiras dos EUA e da Europa.

Moro é suspeito de atitudes nada cristãs desde muito tempo. O que veio dar a sua Vaza a Jato já se anunciava em germe em seu passado pouco límpido. Suas ligações com gente corrupta datam do início de sua trajetória. Uma das mais curiosas é a com Irivaldo Souza, tributarista paranaense condenado por desvio de 500 milhões de reais, formação de quadrilha e sonegação fiscal, que, por sua vez, teve ligações nada transparentes com um secretário municipal de Maringá, assassinado numa situação obscura e envolvido em esquemas escusos.

Moro também tem seu nome relacionado ao nebuloso caso do Banestado, às reduções de pena para doleiros do tipo Alberto Yousseff e ao fato de sua esposa ser advogada de multinacionais do petróleo e também do PSDB de Beto Richa, ex-governador do Paraná envolvido em mais de uma confusão digamos… ética?…
É um rosário de coincidências, não?

Bolsonaro não fica atrás em passado e presente comprometidos com o que não soa bem. Amigos do peito de milicianos, dentre eles, gente envolvida com o assassinato da vereadora Mariele, o atual presidente da República, seus filhos e correligionários agem como se fossem um deles. A família distribuiu à farta condecorações a bandidos hoje procurados. Por meio do assessor Queiroz, hoje tão famoso quanto convenientemente debilitado de saúde, tiveram suas contas-correntes recheadas com alguns milhões de reais pagos pelo sempre achacado contribuinte.

É gente deste tipo a quem recorre o Imperialismo, os banqueiros e o latifúndio para seus golpes contra o Brasil. Bolsonaro e sua milícia familiar irrompem no cenário como os fantoches ideais para catalisar a indignação popular contra a política podre criada e cevada pelo próprio Imperialismo norte-americano e europeu desde pelo menos nosso período monárquico. Moro e seus cabeças de powerpoint foram a pá de mexer o caldeirão de maldades preparado pelo mesmo Imperialismo para detonar a Petrobras e a economia nacional, nosso sistema político e constitucional, derrubar Dilma, encarcerar Lula e impor a gangue que hoje nos governa.

Bolsonaro e Moro são elementos do mesmo fenômeno. São a face a um tempo visível e oculta do mesmo governo de extrema-direita. A diferença conjuntural é que hoje Moro é o ponto frágil da muralha da cidadela golpista. Às forças do povo e da democracia cabe concentrar aí por algum tempo seus bombardeios.

Os fatos revelados pelo The Intercept estabelecem, portanto, liames entre interesses poderosos e a Lava Jato, e entre os crimes desta e o atual governo, sua nefasta reforma da previdência, seus ataques à educação e seu entreguismo empedernido. Revelam, ao mesmo tempo, o quanto foi e tem sido atacada nossa democracia e a liberdade para que estes inimigos do Brasil se apropriem ainda mais de nosso patrimônio público, de nossos ativos econômicos, de nossa força de trabalho, de nosso mercado, de nossas riquezas, enfim.

Além de comprovarem a dimensão do crime perpetrado por Moro e seus procuradores, os fatos revelados também demonstram a justeza da bandeira de união ampla de forças em defesa da democracia, da economia nacional e dos direitos do povo. Em face do poder dos inimigos do Brasil e seus expedientes desonestos, só a união de muitas forças sociais e políticas será capaz de recuperar um ambiente minimante transparente, regrado e pluralista, que permita encontrar perspectivas de solução para a crise nacional e abra caminho para a luta dos trabalhadores e do povo.

A hora é, pois, de amplificar a denúncia e intensificar as operações de construção da ampla frente democrática em defesa do Brasil.