Maria Fattorelli: Crise fabricada ataca aposentadoria dos mais pobres

A coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lúcia Fattorelli, diz que o Brasil não sofreu nenhum fator de risco do capitalismo como guerra, catástrofes, ataque de pestes ou quebra de safra que justifique a atual situação econômica. Para ela, vivemos uma crise fabricada para o sistema financeiro se apropriar da aposentadoria dos trabalhadores por meio da capitalização, regime de poupança individual.

Por Iram Alfaia

Maria Lúcia Fattorelli - Foto: Richard Silva/PCdoB na Câmara

Uma das palestrantes nesta terça-feira (04), do Seminário Internacional: Experiências em Previdência Social, realizado no Auditório Nereu Ramos, Maria Lúcia Fattorelli disse que o país vive num cenário de crise produzida.

“Nós temos R$ 1,7 trilhão na conta do Tesouro Nacional, R$ 1,2 trilhão no caixa do Banco Central, R$ 1,5 trilhão em reservas internacionais. Só na gaveta nós temos mais de R$ 4 trilhões”, contabilizou.

Pelo seu levantamento, de 1995 a 2015 o Brasil produziu um R$ 1 trilhão de superávit primários, ou seja, gastamos menos do que arrecadamos.

“E nesse período a dívida que era pede R$ 86 bilhões saltou parta R$ 4 trilhões, então a dívida não é fruto de despesas de manutenção do estado ou com serviço prestado à população, a dívida tem crescido por conta da política monetária suicida do Banco Central em mecanismo que geram dívidas”, protestou.

Segundo ela, até 2015 o PIB brasileiro cresceu 4% ao ano quando no mesmo ano houve uma redução de quatro ponto percentual e, no ano seguinte, mais três pontos.

Nenhum fator que produz crise

“Nós não tivemos aqui nenhum dos fatores do capitalismo que produzem crise. O Banco Central pegou os juros de 7% em 2013 e dobrou em 2015. Chegou a 14,25% e ficou um ano. Só isso seria suficiente para quebrar qualquer economia. Mais o Banco Central ainda fez mais: gerou escassez de moeda no mercado e gastou em dez anos R$ 1 trilhão para remunerar a sobra de caixa dos bancos”, explicou.

Maria Fattorelli diz que é aí que está o rombo das contas públicas e não na previdência. “O que tem provocado o déficit é a conta dos juros. Nós tínhamos superávit em 2015. Então o que está derrubando a economia brasileira é o escândalo como remuneração da sobra de caixa de bancos, que gera dívida pública de R$ 1,2 trilhão, gera um rombo de R$ 724 bilhões segundo balanço do Banco Central”, diz.

Além disso, a política monetária ainda produz escassez de moeda, provoca elevação brutal das taxas de mercado, falta de acesso ao crédito e quebra das empresas e milhões de desempregados.

Em resumo, a coordenadora diz que a crise fabricada serviu para que o país tomasse medidas como a reforma trabalhista, a PEC dos Tetos, autonomia do Banco Central, privatização das empresas públicas e a reforma da previdência.

“Paulo Guedes diz que quem amarra o Brasil é a previdência. Mentira! O que amarra é esse esquema escandaloso”, denunciou.

Para ela, o jogo está claro: “De R$ 1 trilhão, R$ 715 bilhões sairá do Regime Geral da Previdência, quase 90% recebe até dois salários mínimos, R$ 182 bilhões do BPC (Benefício de Prestação Continuada) e o abono salarial quem ganha. O R$ 1 trilhão vai sair do mais pobre para entregar para bancos na capitalização”.