Paulo Guedes achincalha o sentimento nacional de civis e militares

"A blasfêmia do ministro Paulo Guedes fere tradições de luta e dignidade".

Por Haroldo Lima*

Paulo Guedes - Foto: Marcos Corrêa/Abr

A traição no Brasil aparenta estar tão naturalizada que vendilhões da Pátria se sentem à vontade para anunciar em auditório estrangeiro venda de bens estratégicos brasileiros como se fosse uma liquidação. Foi o que fez no dia 17 deste mês de maio Paulo Guedes, Ministro de Economia do Brasil, durante a viagem com Bolsonaro à cidade americana de Dallas. Em tom debochado, de quem anunciava pechinchas no país que ele tratava como se fosse uma quitanda de sua propriedade, entre outras coisas disse o Paulo Guedes:

“Nosso amigo Salim Mattar está aqui, ele é um bilionário brasileiro. Ele vai vender tudo o que nós temos. Do palácio presidencial à casa onde eu deveria morar…Tudo, tudo o que nós pudermos vender!

Claro, vai ser difícil, pois o presidente já cortou em 70% a 80% os custos com o palácio. Mas nós vamos tentar expulsá-lo, tirá-lo do palácio e vamos tentar vender a Petrobras, tentar vender o Banco do Brasil ou, talvez, fazer uma fusão! Tentar unir o Banco do Brasil ao Bank of America.

Eles são ótimos no mercado imobiliário! Mercado imobiliário e empréstimos ao agronegócio. Então, vamos juntos! Já fizemos isso com a Boeing e a Embraer.”

Isto é uma afronta inominável, uma ousadia, uma desfaçatez assombrosa.

Os civis brasileiros, todos os que lutam por construir um Brasil soberano, democrático, próspero e respeitado, os que sonham com um país grande em prestígio como grande é em território e em riquezas, todos os que cultivam o amor à Pátria, tem razões para se chocarem com tamanho entreguismo e falta de respeito ao sentimento nacional.

Os militares brasileiros, constitucionalmente comprometidos com a defesa da Pátria, são herdeiros dos que sustentaram no passado grandes batalhas pela construção de uma Nação forte e independente. Todos estão ultrajados com o desprezo com que foram tratadas suas conquistas pretéritas.

Porque toda essa blasfêmia do ministro Paulo Guedes fere tradições de luta e dignidade.

Na história do Brasil, tem sido assim. Quando entra em questão os interesses nacionais, nacionalistas civis e militares unem-se, mesmo com opiniões diferentes sobre outros temas, para combater os entreguistas, os vendilhões da Pátria. Assim foram conquistadas nossa liberdade e nossas grandes empresas.

A República estava em seus primórdios, quando, em 1893, o general Floriano Peixoto, então presidente da República, foi consultado sobre como receberia tropas desembarcadas de esquadra inglesa que estava na Guanabara, supostamente para lhe ajudar. “À bala”, respondeu o general, de pronto.

A Petrobras, orgulho dos brasileiros, e que agora Paulo Guedes quer vender como se fosse uma coisa banal, surgiu depois de muita luta. Líderes civis e militares sustentaram batalha demorada por sua criação. Uma grande campanha nacional, chamada de “o petróleo é nosso”, mobilizou o povo em sua defesa. Comandou-a o Centro de Estudos e Defesa do Petróleo, criado em 1948, como entidade civil que reunia civis, militares, estudantes, profissionais liberais, etc. A UNE pôs em tensão todas as suas forças.

O presidente de honra do CEDP foi o civil Artur Bernardes, nacionalista decidido que fora presidente da República. Entre seus presidentes efetivos estiveram o general Horta Barbosa e o general Felicíssimo Cardoso, este que ficou conhecido como o “General do Petróleo” e que, perguntado sobre sua profissão, em uma pesquisa, em Copacabana, respondeu “general e comunista”! Sim Bolsonaros e Olavos, os comunistas sempre estiveram na linha de frente da construção do Brasil que hoje vocês ridicularizam e querem destruir.

Outro general, que no caso se declarava anticomunista, o general Lott, em agosto de 1958, quando chegou ao Brasil o secretário de Estado norte-americano John Foster Dulles para pressionar o governo para enfraquecer a Petrobras, chamou a imprensa e incisivo bradou "a Petrobras é intocável."

Hoje, quando a defesa da Petrobras e da Pátria leva-nos a lembrar de figuras centrais de nossa história, acorre-nos também a lembrança de um símbolo da Marinha, o almirante Barroso, que, em junho de 1865, combatendo pela Nação que se construía, na batalha de Riachuelo, sentindo-se em desvantagem, mandou divulgar o slogan mobilizador, “o Brasil espera que cada um cumpra o seu dever”. Ganhou. O Brasil espera, agora, que cada um cumpra o seu dever. 

Paulo Guedes também mostrou sua disposição de vender o Banco do Brasil ou de fundi-lo com o Bank of América, um dos maiores dos EUA. Ficou patenteada assim, a sanha entreguista tresloucada do “superministro” do Bolsonaro.

Mas fica escancarada a vileza antinacional do negócio pretendido pelo Guedes, quando se compara o valor das estatais brasileiras com o que ele quer auferir pela venda de todas elas, pois esta é a sua pretensão.

O professor Alessandro Otaviani, coautor do livro “Estatais”, calculou que, apenas 5 dessas empresas que o Guedes quer vender – a Petrobras, o Banco do Brasil, a Eletrobrás, a Caixa Econômica e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – só essas cinco, em 2018, deram um lucro de R$70 bilhões. E o “super-ministro” disse que pretende receber por todas as estatais, R$75 bilhões. Ou seja, o “superministro” quer vender todas as estatais por um valor que corresponde ao lucro que cinco delas deram em um único ano, 2018. É o “superministro” do entreguismo.

Civis e militares de tradição nacionalista não podem aceitar que se consuma semelhante embuste.