Belluzzo: sem bancos públicos, não há desenvolvimento

O Sindicato do Bancários de São Paulo, em mais um evento de celebração dos 96 anos de existência, promoveu um evento com a participação do economista, ministrou a palestra “Bancos Públicos e o Desenvolvimento Nacional”.

Do Site do Sindicato

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Estiveram na mesa de abertura da palestra a presidenta do Sindicato, Ivone Silva; a presidenta da Contraf-CUT e ex-presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira; Sérgio Takemoto, vice-presidente da Fenae e secretário de Finanças da Contraf-CUT; Leonardo Quadros, diretor administrativo financeiro da Apcef-SP; e Débora Fonseca, Conselheira de Administração Representante dos Funcionários (Caref) do Banco do Brasil.

“Esse debate sobre a importância bancos públicos e a sua defesa sempre fizemos no Sindicato, uma vez que os bancos públicos sempre sofrem ataques. Mas agora o ataque ele tem sido muito maior por um governo que não se importa nenhum pouco com o bem público do país”, enfatizou Ivone Silva na abertura do evento.

Durante a sua palestra, Belluzzo fez uma retomada histórica da importância histórica da atuação do setor público no sistema financeiro no Brasil e em outros países do mundo como, por exemplo, Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha.

“O Banco da Inglaterra, por exemplo, teve um papel fundamental na organização da economia inglesa pré-industrial e depois muito mais na industrialização. Ele funcionava como um banco que permitiu que a riqueza fundiária, a terra, se transformasse na riqueza mobiliária. O salta para a industrialização não se faria sem o Banco da Inglaterra”, disse o economista.

Como exemplo atual de bom uso dos bancos públicos para o desenvolvimento, Belluzzo citou o caso da China.

“China é um exemplo de eficácia e boas políticas com bancos públicos. Mais de 80% do crédito na China é publico. A articulação chinesa são bancos públicos, empresas públicas, cada vez mais refinadas, e impulso ao setor privado. Os chineses são muito pragmáticos. Não tem preconceitos (…) O mercado não existe na forma como o Paulo Guedes quer. O mercado é uma articulação, uma arquitetura. Os chineses aprenderam com os soviéticos que não devem ter uma economia rígida, de comando. Entenderam que é necessário uma economia flexível. Foi isso que levou a China a ter uma participação no comércio mundial igual a do Brasil em 1980 e hoje ter cinco, seis vezes mais. Se você olhar o gasto público da China, está em 20% do PIB. Não tem déficit. O que eles fizeram? Usaram os bancos públicos como ferramenta parafiscal. Um exemplo é o programa de painéis solares. Começa com uma empresa que produzia esquadrias metálicas, incluem e empresa no programa de expansão, os bancos públicos financiam e as empresas públicas compram. Esse é o maior programa de energia solar do mundo. O Brasil está na contramão disso.”, explicou.

Sobre os bancos públicos brasileiros, Belluzzo destacou a importância do Banco do Brasil, Caixa para setores estratégicos e a atuação dessas instituições durante a crise econômica de 2008.“No caso do Brasil, sempre os bancos privados correram atrás dos públicos quando falamos da expansão do crédito. Os bancos públicos lideravam. Vou dar um exemplo. Na crise de 2008 foi crucial o impulso dos bancos públicos – BNDES, BB e Caixa – para dar dinamismo para a economia. A economia se recuperou porque os bancos públicos foram utilizados como instrumento para a recuperação. Um exemplo é o mercado de automóveis. O mercado de carros usados paralisou. Então, para você recuperar o mercado de carros novos, você tinha que começar com o usado para dar liquidez ao mercado. Afinal, a pessoa vende seu carro usado e compra um novo. E quem financiou isso foram BNDES, Banco do Brasil, Caixa e o Banco do Nordeste.”

“Outra dimensão dos bancos públicos é a tremenda ocupação do território nacional. Se você vai lá numa cidade não sei aonde, tem lá um BB ou uma Caixa. Isso é fundamental para a cidadania”, acrescentou o economista.

De acordo com Belluzzo, o sistema financeiro no mundo inteiro se desviou um pouco da função de financiar o desenvolvimento. “É por isso que hoje existe uma movimentação grande nos EUA e na Europa para recuperar esse papel do crédito dos bancos como instrumento de desenvolvimento. Os ingleses, com o Partido Trabalhista, têm uma proposta de um banco de investimentos público. Nós estamos na contramão. Estamos pensando em um mundo que já acabou, se é que um dia existiu.”

“O desenvolvimento brasileiro não é compreensível sem os bancos públicos”, concluiu o economista.

Confira abaixo o vídeo na íntegra da palestra de Belluzzo: