Dia 29, os caminhoneiros prometem parar o Brasil

Líderes dizem que categoria se mobiliza para mais uma greve.  

Greve de 2018 durou 11 dias e causou prejuízos

Segundo o jornal Valor Econômico, Wanderlei Alves, o Dedéco, de Curitiba, um dos articuladores dos caminhoneiros em grupos de WhatsApp, afirmou que a categoria começa uma paralisação à zero hora do próximo dia 29 em todo o país. "Está confirmado nos nossos grupos, dia 29 do quatro de 2019, a partir de zero hora, os caminhoneiros vão começar a parar o Brasil", informou ele ao Valor.

Ao fazer o alerta, diz o jornal, o transportador autônomo antecipa a data que havia informado inicialmente à imprensa para a paralisação, 21 de maio. Após a Petrobras anunciar o reajuste de 4,84% no preço médio do litro de diesel nas refinarias, ele disse em vídeo disparado a grupos de WhatsApp e lideranças que o impacto de R$ 0,10 nas bombas leva a categoria ao "fundo do poço". Em maio, a greve de 2018 que causou enormes prejuízos à economia completa um ano.

A mobilização por meio de grupos de WhatsApp, de acordo com a matéria, também foi a tática usada no ano passado pela categoria, que tem organização pulverizada, inclusive com muitos articuladores não sindicalizados. A posição de Alves e seus colegas, no entanto, diverge do que pensam algumas das principais lideranças sindicais.

De acordo com o Valor, Francisco Wild, presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas de Volta Redonda e Região Sul Fluminense (Sinditac-VR), acredita que o reajuste do diesel será compensado com aumento do piso do frete. "Tem que ser assim, está na lei, e o gatilho vai resolver. Antes, o combustível aumentava e o piso só era reajustado muito tempo depois", afirmou ele, após o anúncio da Petrobras. Wild garantiu, informa a matéria, que os motoristas autônomos de sua região não têm intenção de parar.

Segundo Alves, porém, as representações que atuam, hoje, em Brasília junto ao governo federal não têm controle sobre caminhoneiros de todo o país. "Há de 20 a 30 lideranças espalhadas por todos os Estados se comunicando em articulação. Eles podem dizer com todas as letras que não vamos parar, mas nós vamos, se nada for feito", disse ele, referindo-se à falta de fiscalização do piso do frete e à política de preços do diesel da Petrobras, antes mesmo de a estatal comunicar o aumento.

Em folder distribuído aos grupos de WhatsApp, diz o Valor, os caminhoneiros batizaram a parada do dia 29 de "paralisação Onyx Lorenzone [sic]", também com a inscrição "Ônix [sic] sabia que estava negociando com as pessoas erradas". São referências ao ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. A mobilização pede piso mínimo do frete em vigor imediato ou redução do preço do diesel e congelamento.

O jornal lembra que em reunião na quarta-feira à noite, lideranças de caminhoneiros renovaram as cobranças aos ministros Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Tereza Cristina (Agricultura) por maior fiscalização nas estradas ao cumprimento das tabelas de frete rodoviário de carga por parte da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

O encontro aconteceu na sede do Ministério da Agricultura, horas depois de a Petrobras anunciar o aumento de R$ 0,10 no preço do diesel. "A gente cobrou mais uma vez a fiscalização para 100% do piso mínimo de frete. Dentro da lei, tem um gatilho para reajuste do preço do diesel e queremos que o governo cumpra", disse ao Valor o líder Wallace Landi, o Chorão. "Com trabalho e cumprindo piso mínimo não tem preocupação."

Ponto de descanso

Chorão disse que a categoria dos transportadores autônomos está "insatisfeita" com as sucessivas altas do diesel e reconheceu as ameaça por parte de algumas lideranças de um novo movimento de greves. Por outro lado, evitou falar em novas paralisações imediatamente e aposta no diálogo com o governo. O movimento dos caminhoneiros vem sendo considerado por fontes do governo como disperso e representado por lideranças regionais, desvinculadas de federações ou centrais sindicais que representem a categoria nacionalmente.

Vem daí a dificuldade de negociação com os autônomos, ainda que um grupo de caminhoneiros venha tendo mais acesso ao Palácio do Planalto, diz o Valor. Chorão disse que levou à ministra da Agricultura a preocupação dos autônomos em eliminar a participação de "atravessadores" nas negociações de frete entre tradings e transportadores de grãos e fertilizantes. Ele também pediu a Tereza Cristina para que trate do assunto com as multinacionais do setor exportador.

Em outra frente, o Ministério da Agricultura informou, segundo a matéria, por meio da sua assessoria de imprensa, que o primeiro ponto de descanso para caminhoneiros será incluso no contrato de concessão da BR-050, na região de Catalão (GO), terra de Chorão. Além de Chorão, participaram da reunião Paulo Costa, David Rocha e Marcelo Aparecido, diretores da Acav, associação dos transportadores autônomos do Porto de Santos; Carlos Henrique, da Coopertrans, também do Porto de Santos; Rodney Larocca, da Coopertrac, cooperativa de Castro, no Paraná; e Gustavo Ávila, representante de caminhoneiros autônomos.