Euzébio Miranda: Regresso Civilizacional
Baseado na Lei de Talião, o Código de Hamurabi é um conjunto de 281 leis criadas na Mesopotâmia, por volta do século XIII a C. Dentre elas destaco um mandamento: “olho por olho, dente por dente”.
Publicado 04/04/2019 11:26 | Editado 04/03/2020 17:15

Atravessando os séculos avançamos e esta lógica há muito e felizmente não prevalece mais. Quem nas democracias e mesmo ditaduras detém o monopólio da segurança é aparato Estatal, através das polícias, do direito penal e processual penal, além de regras outras.
Dentre muitas falaciosas, uma das principais promessas do governo eleito foi o de facilitar a posse e posteriormente o porte de armas à população.
E pra quê? Pra que possamos substituir, na qualidade de cidadãos, o Estado no enfrentamento da insegurança pública, tarefa a qual ao cidadão comum não compete.
Nos EUA, onde o porte é permitido há 5,3 mortes a cada 100 mil habitantes. No Brasil, mesmo sem a permissão, há 30,3 mortos na mesma proporção. Por outro lado, na Europa desenvolvida o índice não alcança 1.
Ainda sobre os EUA, Nova York constitui uma particularidade, eis que na década de 1990 chegou a registrar 30,7 mortes a cada cem mil habitantes, taxa que caiu vertiginosamente com a proibição do porte em 2017 para 3,4. Por quê? Porque a cidade é uma das únicas em que o porte de armas é proibido naquele País.
A permissão de armas (EUA) ou mesmo a sua obtenção por meios ilegais (Brasil) guarda relação
direta com o alto índice de mortes violentas ao passo que a proibição (Europa desenvolvida) nos ensina que menos armas, bem menos mortes.
E ainda tem gente que festeja, que comemora, que se matricula em cursos de tiro para habilitar-se à posse residencial e depois à perspectiva do porte no Brasil. Isso é um regresso civilizacional impressionante. Queremos mesmo voltar aos tempos de Hamurabi, quando imperava o “olho por olho, dente por dente”? Lembro Gandhi, que sentenciou: “olho por olho e a humanidade terminará cega”.
Por ocasião do nascimento dos filhos de um amigo, estive hoje com meu filho no mesmo hospital onde a maioria das vítimas da tragédia da escola Raul Brasil foram atendidas.
Ao ir embora, andamos mais uma quadra e chegamos ao colégio. Havia imprensa, alunos consternados, pais e populares em geral.
Diversos cartazes com dizeres diversos cobriam o muro da escola.
Fiz algumas fotos. Não! Não me acusem de sensacionalismo!
Na volta, Caio, meu filho, lembrou-me que dois Caios morreram na tragédia. Percebi que ele sentiu o clima pesado, triste e tenso. Conheço meu garoto.
Das imagens que fiz, deixo a você leitor duas das que mais me chamaram a atenção.
Termino dizendo um sonoro não à posse e ao porte de armas, que devem ser combatidos tenazmente pelos brasileiros, eis que uma arma, de um momento a outro, pode transformar um cidadão de bem num monstro.