Como evitar que o golpe do cartão estrague seu carnaval

"Os criminosos conseguem retirar grandes somas de dinheiro em questão de minutos através de diversas transações em outros estabelecimentos. Mas a pior parte do golpe ainda está por vir: os bancos costumam negar o ressarcimento dos valores roubados na calada da noite".

Golpe do cartao carnaval - Foto: Informed Mag/Reprodução via Flickr

Depois de uma noitada, o profissional de relações públicas Vitor Selli acordou no dia seguinte e foi checar o seu extrato bancário para ver quanto havia gastado. Embora ele esteja acostumado a tomar um drink ou outro nos rolês, o valor gasto quase o fez cair da cadeira. Cerca de 5 mil reais evaporaram de sua conta num período de 12 horas. Parte desse valor era o limite do seu cheque especial. Sua conta estava negativada. Pensando que se tratava de uma clonagem clássica, Vitor ligou para o seu banco com o seu cartão em mãos. Durante a ligação, tomou o segundo susto: aquele cartão tinha o nome de outra pessoa. Juntando as peças, Vitor se ligou que seu cartão foi trocado no bar que estava bebendo e sua senha foi gravada quando ele pagou uma cerveja na máquina do estabelecimento.

A história de Vitor aconteceu em 2015 no centro de São Paulo, porém casos similares se repetem até hoje pela capital paulistana. As vítimas relatam que os criminosos aproveitam a distração gerada pelo álcool para agir. Grande parte relata ter passado o cartão ao comprar uma bebida com um vendedor ambulante e recebe sem perceber um cartão do mesmo banco, cor e bandeira, mas pertence à uma outra pessoa — provavelmente também vítima desse golpe.

Pelas características do golpe, mais de uma pessoa age para efetuar a troca e pegar o máximo de dinheiro possível na conta bancária da vítima. Muitas vezes, os criminosos conseguem retirar grandes somas de dinheiro em questão de minutos através de diversas transações em outros estabelecimentos. Mas a pior parte do golpe ainda está por vir: os bancos costumam negar o ressarcimento dos valores roubados na calada da noite.

No dia seguinte que descobriu o golpe, Vitor registrou um boletim de ocorrência na delegacia e solicitou que o banco não cobrasse a dívida no cheque especial que os criminosos fizeram em seu nome. Após 15 dias de espera e oito idas presenciais à sua agência, sua solicitação foi negada. Mesmo o relações públicas sendo cliente há mais de sete anos na época e ter um bom perfil de correntista, a instituição se recusou a devolver o valor alegando que as transações foram feitas com senha e, portanto, seriam de sua responsabilidade.

“Me indignou o descaso para julgar uma situação que fugiu totalmente do meu perfil de conta corrente”, conta Selli, que precisou entrar com uma ação no Tribunal de Pequenas Causas para conseguir seu dinheiro de volta. Seu advogado entrou com uma ação contra o Banco Itaú e o estabelecimento que supostamente aplicou o golpe.

“Além de tudo, eu tinha um seguro de cartão de débito que tinha contratado que me protegia também de movimentações estranhas e que o banco me ligaria caso isso acontecesse, mas eles nunca me ligaram”, relata. O seguro foi um dos elementos que fizeram o juiz do caso julgar a ação procedente para Vitor. O Itaú teve que pagar os valores retirados da conta de Vitor. No entanto, o relações públicas perdeu o processo que moveu contra o estabelecimento que supostamente aplicou o golpe. Não havia provas para sustentar as acusações.

O caso de Vitor até que teve um final feliz, porém julgamentos de casos parecidos como o dele no geral não tem favorecido as vítimas. Segundo reportagem do UOL publicada em 2018, magistrados e membros do Superior Tribunal de Justiça têm julgado a favor dos bancos quando se trata de transações feitas com cartão com chip e senha do correntista. Nas decisões, os magistrados acreditam que são as vítimas dos golpes que se descuidaram e foram negligentes com a senha e o seus cartões. Também pedem provas de que houve, de fato, uma fraude, como alegam.

O golpe tem se popularizado tanto que Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e alguns bancos têm feito campanhas para conscientizar consumidores a ficarem atentos com seus cartões e suas senhas. Com a chegada do carnaval, a tendência é esse golpe se tornar ainda mais recorrente. Recentemente, o Banco Itaú enviou mensagens de SMS para alguns correntistas alertando sobre o golpe do cartão trocado.

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública disse que não sabe afirmar quantos golpes foram aplicados nos últimos três anos, mas também pediu atenção à população. “As pessoas devem sempre ficar atentas após pagamentos e sempre verificar se o cartão entregue é o correto. Se for vítima, é vital que o caso seja registrado, pois assim a ocorrência é investigada e o autor preso.”

Para você também não cair nessa cilada, se liga nessas dicas:

* Leve dinheiro vivo para os blocos de rua e deixe os cartões em casa. Se você for furtado, será apenas aquela quantia que você estava carregando e não o seu cheque especial inteiro;

* Sempre fique de olho no seu cartão na hora de passá-lo na máquina. Não entregue diretamente para o vendedor, espere ele te esticar a máquina de cartão;

* Se seu cartão for de crédito ou múltiplo, apague o Código de Segurança na parte de trás;

* Fique atento na hora de digitar sua senha e retire seu cartão por conta própria depois da confirmação da compra;

* Evite comprar substâncias ilegais no cartão (essa é óbvia, mas não custa nada);

* Coloque um adesivo chamativo para você conseguir identificá-lo de longe;

* Não anote senhas e outras informações de segurança no seu ceular;

* Sempre confira o valor que o vendedor digitar na máquina de cartão. Muitas vezes, os golpistas fazem você digitar sua senha no campo do valor da compra, deixando os números expostos;

* Assim que receber o cartão, confira o nome. Se não for o seu, ligue imediatamente para o banco para cancelá-lo;

* Não deixe de fazer um boletim de ocorrência caso você for vítima do golpe. Isso ajuda a polícia a elucidar casos semelhantes;

* Busque seus direitos. A identificação de movimentações bancárias atípicas são também responsabilidade do banco.

Veja os tipos de golpe do cartão: