Zema, o governador do "Novo", barra CPI da Vale em Minas Gerais

Nos corredores da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputados reclamam de uma interferência de  Romeu Zema, o governador, do "Novo". Tudo porque Zema, empossado em 1º de janeiro, se empenha para barrar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o rompimento da barragem de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Vale mineradora

No último dia 4, o deputado estadual Sargento Rodrigues (PTB) protocolou um requerimento pedindo uma CPI para investigar a tragédia. O documento conta com assinatura de 74 dos 77 membros da Casa. Mas, desde então, o colegiado não foi criado.

Parlamentares se queixam que o chefe do Executivo – que já tratou o tema publicamente como “incidente” – está pressionando o Legislativo por conta da sua proximidade com diretores de mineradoras. A incumbência de dar prosseguimento à abertura de comissão cabe ao presidente da Assembleia, Agostinho Patrus (PV), e não foi feito até o momento.

Outros dois requerimentos para instauração de CPI para apurar o caso de Brumadinho foram protocolados por Beatriz Cerqueira (PT) e Doutor Wilson Batista (PSD) na mesma data. Mas, durante reunião da Comissão de Administração Pública, Rodrigues declarou que obteve informações de que o governador não quer a abertura da CPI das barragens.

“As informações que estão chegando lá do Palácio (Tiradentes) – e não são de quaisquer pessoas – é que o governador não quer a CPI. Mas é um governador que ganhou a eleição com o discurso de absoluta transparência e de defesa da sociedade”, diz Rodrigues. “Defender a sociedade é defender a CPI da tragédia criminosa de Brumadinho. Ele está com medo de quê? Onde esta a transparência? Ou será que as poderosas mineradoras continuam cercando o Parlamento e o governo do estado?”

De acordo com um deputado governista, o que se tem visto é que há interferência direta do Executivo no Legislativo. “Ele tem feito pressão para que não se abra essa CPI, que tem um poder de investigação grande e que, justamente por ser independente, foge do poder de interferência do governo ou da própria Mesa da Assembleia”, criticou.

Outro político ouvido afirma que o entendimento é que Zema procura não se indispor com essas empresas porque elas geram empregos no estado. “Ele é empresário, conhece todos desse setor e sabe com quem não quer se indispor”, afirmou a fonte do bloco de governo.

Respostas

Questionado, o governo de Minas desmentiu que haja qualquer tipo pressão ao presidente da Assembleia e aos deputados, seja qual for o tema. Sobre o desastre da Vale, em Brumadinho, a assessoria informou que todas as ações do estado são para que os responsáveis sejam devidamente punidos – e que os esforços são para auxiliar toda e qualquer ação investigativa.

Conforme a nota, no dia seguinte à tragédia a Advocacia Geral do Estado, seguindo a solicitação do governador, moveu ação e conseguiu o bloqueio preventivamente de R$ 1 bilhão das contas bancárias da empresa mineradora. Por fim, o governo se pôs à disposição pelos canais da Ouvidoria Geral do Estado para receber manifestações quanto ao caso de Brumadinho.

Reunião

Nesta quarta-feira, Zema se reuniu em Brasília com o secretário de Mineração do Ministério de Minas e Energia, Alexandre Vidigal de Oliveira. O encontro não apareceu na agenda oficial do governador de Minas, apenas na do secretário. Outro fato curioso é que, após a reunião com Zema, o responsável pela pasta terá encontro com os advogados da Vale que tratam da tragédia de Brumadinho.

Na segunda-feira, na agenda com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, Zema afirmou que se encontraria hoje com o ministro de Minas e Energia para discutir a tragédia de Brumadinho. O governador afirmou que as empresas e o governo estão tendo dificuldades para encontrar profissionais para atuarem na fiscalização das barragens. “Depois dessa tragédia de Brumadinho, nenhum técnico e nenhuma auditoria verifica mais barragem alguma. Ninguém quer ficar com a batata quente na mão”, declarou Zema.

O governador declarou que é preciso encontrar uma solução que “concilie segurança e a viabilização da atividade mineradora no estado”. Segundo ele, caso a situação continue como está, Minas terá uma desestruturação total no setor. “Não é fácil lidar com um problema desses. Não podemos expor ninguém a riscos, mas também não podemos parar uma atividade tão relevante para o estado.”

Com informações do O Tempo