De Olho no Mundo, por Ana Prestes

Um resumo diário das principais notícias internacionais. 

Fuera Trump

Segundo o porta-voz da Presidência, Otavio Rêgo Bastos, no dia de ontem (19), o Brasil vai participar dos eventos promovidos pelo governo dos EUA e parte da oposição venezuelana na fronteira da Venezuela com a Colômbia no próximo sábado, 23. Segundo nota do Itamaraty, que explica a operação, caminhões dirigidos por venezuelanos serão abastecidos com alimentos e remédios nas cidades de Boa Vista e Pacaraima em Roraima e se dirigirão à Venezuela.

 
Juan Guaidó, o autointitulado e autoproclamado presidente encarregado da Venezuela disse que estão sendo preparados quatro pontos para a entrada de “ajuda humanitária” no próximo sábado na Venezuela. São eles, Cúcuta, na fronteira com a Colômbia, Roraima, na fronteira com o Brasil, uma ilha do Caribe (tentaram Curaçao que se negou) e outro local ainda não especificado.
 
A Venezuela fechou suas fronteiras aéreas e marítimas com as Antilhas Holandesas. Os opositores estavam tentando usar a ilha de Curaçao como uma das entradas para a “ajuda humanitária”.
 
No dia de ontem, o presidente venezuelano Nicolas Maduro voltou a recusar a entrada de “ajuda humanitária” norte americana e anunciou a chegada de 300 toneladas de ajuda enviadas pela Rússia.
 
Os países que recebem ajuda humanitária real, geralmente o fazem via Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteiras, Acnur, OMS, FAO e outros organismos internacionais. No presente caso da Venezuela, nenhuma destas está mobilizada e a Cruz Vermelha se pronunciou oficialmente de que não participaria “do circo”.
 
Ainda repercute mundialmente o discurso de Trump na última segunda (18) em clara confrontação com os militares venezuelanos. Segundo o discurso, “na Venezuela o socialismo está morrendo, e está nascendo a prosperidade”. Ele ainda atacou Cuba e Nicarágua, durante a fala. Em resposta, o ministro da defesa venezuelano, Vladimir Padrino, disse que os EUA precisarão “passar por cima dos cadáveres” dos militares venezuelanos para impor um “governo fantoche da oposição”. Segundo Padrino, os militares continuarão posicionados na fronteira para “evitar qualquer violação de território”.
 
Presidente da Bolivia, Evo Morales, também respondeu ao discurso de Trump: “A América Latina é uma zona de paz”. Chancelarias da Espanha e da Rússia também se pronunciaram contra o discurso intervencionista.
 
Os olhos do mundo estão voltados para a Venezuela e há grande expectativa pelo que pode ocorrer no próximo sábado, 23. Uma das parlamentares opositoras, Gabi Arellano, que está em Cúcuta para coordenar a “ação humanitária”, disse ontem para jornalistas que “a fronteira com a Colômbia é imensamente longa”.
 
Em Conferência de Imprensa realizada ontem (19), o chanceler cubano Bruno Rodriguez, alertou para a agressão militar iminente à Venezuela. Segundo Rodriguez, menos de um quarto dos estados reconhecidos pela ONU reconhecem o presidente “made in Washington”, Juan Guaidó. “É preciso separar a propaganda da realidade”, disse ele. O chefe da diplomacia cubana também pediu ao presidente Trump que apresente provas da acusação de que Cuba mantem um “exército privado na Venezuela”. Segundo ele, Cuba tem 20 mil cubanos cooperando na Venezuela, todos civis, sendo 94% na área da saúde. Para fechar seu pronunciamento, disse: “quantas vezes na história os EUA decretaram o fim do socialismo ou o fim da história?”.
 
Um festival artístico e cultural está marcado para os próximos dias 22 e 23 na fronteira da Venezuela com a Colômbia. Mais precisamente na Ponte Simon Bolívar em San Antonio de Tachira que faz fronteira com Cúcuta. Do outro lado da fronteira também está agendado um “concerto artístico”. Por trás da música e das atrações, correrá solta a realidade de uma tentativa de invasão militar sem precedentes na América Latina nas últimas décadas.
 
James Petras, sociólogo norte-americano, sobre a tensão na Venezuela: “creio que vão tratar de invadir a ponte que separa a Colombia da Venezuela, querem um mártir, um morto, um atacante ferido ou morto, para dizer que estão lançando ataques contra civis que realizam tarefas humanitárias”. “Estão organizando um festival e outras coisas de diversão para criar uma imagem de inocência, uma imagem que só buscam ajudar o povo. Mas por trás está Jonhy Guaidó, como o chamam em Washington”.
 
Uma Assembleia Internacional dos Povos em solidariedade com a revolução bolivariana e contra o imperialismo será realizada em Caracas de 23 a 27 de fevereiro com a participação de mais de 400 delegados e delegadas de movimentos sociais e organizações políticas de todas as partes do mundo. O líder do MST brasileiro, João Pedro Stédile é o organizador.
 
A Argentina luta contra a inflação. No ano passado o índice chegou a 47,6% (mais alta em 27 anos). Grande parte da inflação se deve aos “tarifaços” de Macri que acabou com os subsídios da era kirchnerista aos preços de luz, gás, transporte público e outros serviços. A falta de controle da economia levou à uma desvalorização do peso em 2018 e o país recorreu a um empréstimo de 57 bilhões de dólares ao FMI. A perda salarial ficou em torno de 10% em 2018. No último dia 7/2, Macri assumiu que foi “otimista demais” ao achar que a inflação seria combatida rapidamente e novamente culpou a herança dos Kirchner. A Argentina vai às urnas em outubro. (Com dados de Marcia Carmo para a BBC).
 
Governo brasileiro enviou à União Europeia pedido de compensações pelas salvaguardas às importações de aço impostas no começo de fevereiro. Em paralelo, encaminhou à OMC notificação de que o governo brasileiro poderá adotar medidas de forma a reequilibrar seu comércio com a UE. Assim diz a nota assinada pelos ministérios das relações exteriores, economia, agricultura, pecuária e abastecimento.
 
Ementa do novo curso de Política Internacional, que está na grade dos alunos do Instituto Rio Branco, futuros diplomatas, diz que o curso terá como propósito fazer o aluno “conscientizar-se das amarras ideológicas eventualmente adquiridas em sua formação anterior, tomar distância delas, e passar a organizar seu trabalho com base em fatos, não em lugares-comuns e frases feitas”.
 
Jean-Claude Juncker, Presidente da Comissão Europeia, disse ontem (19) que se o Reino Unido pedir prorrogação do prazo para efetivar o Brexit (29 de março), nenhum membro do bloco impedirá. Desde que não seja além das eleições do Parlamento Europeu que ocorrem no fim de maio. Sem o Brexit, eleitores britânicos terão que votar para o Parlamento Europeu. 
 
Macron visitou ontem (19) túmulos judeus vandalizados com suásticas e slogans antissemitas em um cemitério judeu no leste da França. Pela noite houve uma marcha em Paris contra o antissemitismo, com a participação dos ex-presidentes Françoi Hollande e Nicolas Sarkozy. Marchas antissemitas estão convocadas. Segundo a imprensa francesa, houve mais de 50 ataques antissemitas em 2018, um aumento de 74% em relação a 2017. Os últimos protestos dos coletes amarelos tiveram manifestações de grupos antissemitas. A França tem a maior comunidade judia da Europa.
 
Aumentou o nível de animosidade entre Índia e Paquistão após atentado na Caxemira. Região que historicamente é disputada pelos dois países.
 
Secretário geral da ONU, Antonio Guterres, voltou a afirmar que Jerusalém deve ser a capital de dois Estados. Ele pediu a autoridades do Hamas em Gaza que “evitem provocações”. Disse ainda que “Israel, também, possui responsabilidade para exercer máxima contenção”. A ONU tenta forçar uma perda de autoridade do Hamas na faixa de Gaza e chama o governo do Fatah de “governo palestino legitimo”.
 
Continua grave a situação no Haiti.

De Brasília, Ana Prestes.