Favela onde Queiroz se escondeu é alvo de operação contra milícias

Para escapar da Justiça, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro e ex-policial, Fabrício Queiroz, se escondeu em uma casa na favela de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, durante duas semanas em dezembro. Trata-se da segunda maior favela carioca e totalmente dominada pela milícia mais antiga da cidade. Nesta terça-feira (22), a Polícia do RJ fez uma grande operação na região para prender milicianos, vários deles ex-PMs.

rio das pedras

Em sua coluna no jornal O Globo, o jornalista Lauro Jardim conta que no dia 7 de dezembro, um dia após o repórter Fabio Serapião, do Estadão, revelar que Fabrício Queiroz tinha movimentado de forma suspeita R$ 1,2 milhão entre 2016 e 2017, o ex-motorista sumiu.

Queiroz não apareceu em casa, um sobrado modesto na Taquara, ao longo de duas semanas. O ex-assessor de Flávio Bolsonaro estava, segundo o colunista, “escondido na favela de Rio das Pedras, também na Zona Oeste. É a segunda maior favela da cidade e dominada da primeira à última rua pela milícia mais antiga do Rio de Janeiro”.

O lugar é também reduto eleitoral de Marcello Siciliano, ligado por testemunha à execução de Marielle Franco. Siciliano teria tramado o assassinato junto com o ex-PM Orlando de Oliveira de Araújo. Ele foi eleito vereador pelo PHS com 13 mil votos.

A maioria deles, afirma El Pais, provenientes de bairros “nos arredores de Jacarepaguá, Barra da Tijuca, Recreio, Vargem Grande e Vargem Pequena”. Essas regiões abrangem áreas “como Anil, Gardênia Azul e Rio das Pedras — dominadas por milicianos, grupos paramilitares formados por agentes do Estado da ativa e da reserva, tais como policiais e bombeiros, que controlam serviços como o de transporte, distribuição de gás e instalação de internet e TV a cabo, além de possuir o respaldo de políticos e lideranças comunitárias.”

Siciliano, igualmente, é um dos autores de lei autorizando que a igreja que Michelle Bolsonaro frequentava na Barra da Tijuca tenha 5 andares.

A "estadia" de Queiroz em território dominado por milícias não parece novidade para quem conhece o passado do ex-PM. Antes de paralisar a investigação por ordem do STF, os procuradores do MP do Rio estavam impressionados com a ficha de Fabrício Queiroz durante sua passagem pela Polícia do Rio. O ex-assessor de Flávio Bolsonaro tem cerca de 10 autos de resistência no currículo (quando um suspeito é morto pela polícia).  

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Operação policial

Nesta terça-feira (22), uma força-tarefa do Ministério Público e da Polícia Civil do RJ tentava prender 13 pessoas suspeitas de integrar milícia que age em grilagem de terras na mesma região. Equipes estão em endereços da Zona Oeste do Rio, nas favelas de Rio das Pedras e da Muzema e nos bairros da Barra, Recreio, Vargem Grande e Vargem Pequena.

Entre os procurados estão um PM reformado e outro ex-policial do Bope. 

Segundo a denúncia, Capitão Adriano, Major Ronald e o tenente Maurição são os líderes da organização, e Beto Bomba, presidente da Associação de Moradores de Rio das Pedras, conquistou o cargo a partir de ameaças e uso de força. 

Em 2004, o então deputado estadual e agora senador eleito Flávio Bolsonaro propôs uma menção de louvor e congratulações a Major Ronald "pelos importantes serviços prestados ao Estado do Rio de Janeiro".

Os promotores afirmam que a entidade presidida por Beto Bomba concentra as transações de compra e venda dos imóveis construídos ilegalmente e a manipulação de documentos necessários à concretização de operações ilícitas.

Beto Bomba, ainda de acordo com a denúncia, possuía informações privilegiadas sobre operações policiais realizadas nas localidades dominadas, sempre alertando seus subordinados com antecedência.

Entre os crimes praticados pela milícia estão grilagem, construção, venda e locação ilegais de imóveis; receptação de carga roubada; posse e porte ilegal de arma; extorsão de moradores e comerciantes, mediante cobrança de taxas referentes a ‘serviços’ prestados; ocultação de bens adquiridos com os proventos das atividades ilícitas, por meio de ‘laranjas’; falsificação de documentos; pagamento de propina a agentes públicos; agiotagem; utilização de ligações clandestinas de água e energia; uso da força como meio de intimidação e demonstração de poder, para manutenção do domínio territorial.

Da redação, com agências