A galinha e o cofre de ouro

 Por Aluísio Arruda*

Foto: Reprodução

Em uma pequena cidade havia um garimpeiro que após encontrar um filão comprou um cofre, encheu de ouro e guardou em casa. No quintal criava muitas galinhas. Certa noite ao perceber um alvoroço percebeu que suas galinhas estavam sendo roubadas. Chamou logo os policiais, o delegado, e saíram todos na captura dos ladrões de galinhas. Quando voltou percebeu que seu cofre de ouro havia sumido.

Essa história se encaixa bem com a realidade de um país chamado Brasil.

Enquanto boa parte da população se satisfaz ao ver líderes de oposição perseguidos e presos por, supostamente, ter recebido merrecas em reformas de apartamento ou sítio, não percebe ou se chateia com o volumoso saque de nossas riquezas, através de privatizações a preço de bananas dos mais ricos poços de petróleo, de gigantescas empresas de eletrificação, de aviação, e outras tão importantes e estratégicas para o desenvolvimento do nosso país.

Muito mais entreguista que o atual, o futuro presidente que não mostrou nem debateu seu programa de governo, já prepara um plano de privatização quase total, criando inclusive uma inédita secretaria para agilizar a entrega de cobiçadas empresas e refinarias. Fatalmente irão sucatear por completo a nossa mais rica empresa, a Petrobras, uma das dez maiores do mundo, causando prejuízo milhões de vezes maior do que as supostas propinas.

O futuro presidente e os ministros já indicados, entre eles um que trabalhou de forma decisiva para a sua vitória, e tido pelos seus admiradores como o ícone no “combate” à corrupção, dirige toda a sua fúria contra líderes opositores, alguns que receberam propinas de empresas, uma velha prática da política brasileira, somente agora proibida por ação da ex-presidente Dilma que vetou a contribuição de empresas para partidos e políticos. Esse mesmo juiz agora retribuído com um superministério, para combater desvio de migalhas diante da entrega de nossas riquezas através de “privatizações”, nada fala, como também fingiu não ver o derrame de dinheiro através de Caixa 2 ao seu candidato predileto, através de contribuição de centenas de empresas que bancaram o Whatsapp para divulgar milhões de mensagens fake-news, e outras despesas de campanha, nas barbas do TSE, que agora na maior cara de pau aprova as contas do vitorioso.

Apesar de eleito com apenas 38% dos votos, já que 29% do eleitorado se absteve e 33% votou no adversário, ele já se julga imperador para fazer o que bem entende (se é que entende de algo, já que nunca administrou nem um boteco).

Infelizmente conta com expressivo apoio dos que serão os grandes beneficiários que bancaram sua vitória, o chamado mercado, os bancos, rentistas, os magnatas credores da nossa dívida, os grupos midiáticos, do judiciário, da maioria do Congresso. Conta também com expressiva parcela da classe média, e de trabalhadores desprovidos de consciência política e de classe, que no Brasil ainda seguem como cordeirinhos a elite que eternamente os exploram. Esse setor inclusive não consegue superar seu complexo de vira-latas, ao apoiarem as tais privatizações, justificando que é melhor entregar, porque nós brasileiros, não temos competência para administrar.

Enfim como o garimpeiro que priorizou suas galinhas e perdeu seu cofre de ouro, nossos futuros dirigentes preferem punir severamente líderes opositores, roubar direitos do povo, cortar gastos da saúde, da educação, e descaradamente se esforçam e se vangloriam em entregar as riquezas do Brasil.