PCdoB-CE e professores debatem desafios e fortalecimento da categoria

Com o objetivo de reforçar a participação comunista junto aos profissionais ligados à Educação e fortalecer a categoria diante da nova conjuntura política, a direção do PCdoB no Ceará realizou, neste sábado (01), o 2º Encontro Estadual de Professores. Participaram da reunião secretários, professores das redes públicas estadual e municipal, estudantes e militantes. Na pauta do encontro, os desafios a serem enfrentados pela categoria diante das ameaças já apresentadas pelo futuro governo.

PCdoB-CE e professores debatem desafios e fortalecimento da categoria

Ana Lúcia Viana, secretária estadual sindical do PCdoB-CE, iniciou o debate ressaltando que a atual conjuntura apresenta expectativas ruins para os movimentos sociais e para o país como um todo. “Viemos debater este cenário político, com o recorte da Educação, porque entendemos que esta seja a frente que está mais ameaçada com o novo governo e, ao mesmo tempo, é a categoria que tem as melhores condições de reagir”, avalia. A dirigente ratificou a necessidade de manter os movimentos sociais organizados, fortes e conscientes dos riscos que o futuro governo de Jair Bolsonaro (PSL) poderá implantar. “Nós do PCdoB, como já fizemos ao longo de quase 100 anos de história, iremos reagir, como sempre fizemos”, ratifica.

Benedito Bizerril, vice-presidente estadual do PCdoB-CE, também destacou a importância do encontro. “Esta reunião se dá em momento difícil e decisivo, com ameaças a todas as frentes do povo brasileiro. É necessário construirmos uma grande frente para resistirmos e esta unidade deverá ser pautada com a consciência política de que estamos prestes a cairmos num retrocesso imenso, de sérias ameaças às conquistas da democracia, dos direitos, da organização popular”.

O advogado falou sobre a forma que o imperialismo tem atuado para destituir governos que buscavam manter sua soberania, em especial na América Latina. “O que estamos vendo é um governo submisso e subserviente diante dos Estados Unidos e isso representa grave ameaça, surgindo principalmente quando o país se preparava para dar saltos ainda maiores. A luta em defesa do pré-sal garantiria benefícios importantíssimos, em especial na área da educação, mas tudo isso está saindo do controle do Brasil. Com postura fascista, passam por cima dos princípios democráticos e impõem medidas negativas para o povo”.

Bizerril reforça a necessidade de a militância e os movimentos sociais permanecerem unidos. “É este o governo que vamos enfrentar e, neste cenário, o PCdoB tem papel importantíssimo. Temos trajetória política, diálogo com os trabalhadores e compreendemos que, para enfrentarmos os desafios que se apresentam, só com uma grande frente, englobando entidades, movimentos sociais e instituições. Vamos contar com todos os que não aceitam o retrocesso, com responsabilidade e compromisso com o povo brasileiro. Esta luta importa a todos, em especial aos professores, que o fascismo tenta calar e impedir o avanço do pensamento. Não irão nos calar, não aceitaremos cerceamento aos professores e aos estudantes. Ao contrário, iremos permanecer, como sempre tivemos, protagonizando a luta”, defende.

Desafios para a Educação no novo governo

Edilson Cavalcante, membro da direção estadual do PCdoB-CE, também destacou a necessidade de os comunistas reforçarem sua marca de atuação e organização. “O cenário que se avizinha será diferente das lutas que travamos nos anos de Lula e Dilma. Por isso temos que nos organizar também de forma diferente para que nossa atuação seja ainda mais forte e qualificada. Vamos debater a conjuntura e fazer uma reflexão coletiva destacando que o complexo momento não parece ser a ordem natural de um processo histórico. A perspectiva é de que não se trata de disputa normal de pensamentos divergentes, mas da manutenção da própria existência e direitos do partido e dos comunistas”.

Segundo Edilson, o próximo governo, que venceu uma eleição baseada na disseminação do ódio ao contraditório, às minorias e à oposição, deverá seguir na mesma linha. “Não houve sequer debate de programas, apenas a concepção de que, quem era contrário, merecia ‘bala’”. O discurso implantado na disputa eleitoral deverá ser prolongado. “Trata-se de uma questão de perspectiva ideológica. As bancadas da ‘bala’ e da ‘Bíblia’ foram as que mais cresceram através do fortalecimento de um debate conservador pensado, construído e financiado pelo capital. O resultado eleitoral no Brasil trouxe grande impacto político e econômico e este alinhamento cego aos Estados Unidos, traduzido no gesto simbólico de o presidente eleito bater continência para um funcionário de quinto escalão americano, demonstra nossa subserviência”, critica.

“Esta é a realidade que vamos enfrentar”, reitera Cavalcante ao afirmar que se aprofundará a crise no campo educacional. “A PEC do Fim do Mundo, proposta por Michel Temer, que congelou por 20 anos os investimentos públicos, é uma amostra disso. Já acompanhamos ataques ao Enem, com diálogos para acabar com a prova nacional. Há também a loucura de o presidente declarar que a prova será revisada por ele antes de sua aplicação, significando uma vigilância ideológica”, enumera.

Para Edilson, a chamada “Escola sem Partido trata-se na verdade de uma escola com mordaça”. “Eles querem aprisionar o professor para que não tenha diálogo, inclusive do ponto de vista do conhecimento. Eles não permitem a existência de opositores”. Edilson citou ainda as questões ligadas à proposta de ensino à distância, inclusive a partir do fundamental “Pense no impacto disso para mães, estudantes e crianças”, pondera.

No Ceará, o membro do Comitê Estadual do PCdoB-CE considera estar na contramão do retrocesso na educação. “Por mais contradições que tenhamos, estamos num certo espaço de zona protetora. O Estado vive anos de crescimento econômico, temos as melhores escolas do Brasil, fruto de um trabalho com investimento e qualificação de professores. Isto talvez nos deixe em melhores condições de enfrentar esta questão preocupante. Por isso nossa importância para articular, debater, contribuir e construir esta resistência”.

CTB em luta

Luciano Simplício, presidente da CTB-CE, participou do debate e apresentou informes sobre a 19ª Reunião Nacional da entidade, realizada nos últimos dias 28 e 29 de novembro, em São Paulo. “Na análise da conjuntura política, a conclusão é a de que o perfil do Congresso Nacional eleito neste ano é ainda pior que o de 2014. Para se ter uma ideia, em 2010 era 88 parlamentares alinhados aos pensamentos da classe trabalhadora. Em 2014 este número caiu para 51 eleitos e agora serão apenas 33 deputados federais”, cita.

Ele falou sobre a necessidade de se realizar um seminário jurídico da CTB para avaliar a reforma trabalhista, já aprovada, e a previdenciária, que deverá ser votada em breve, além da implantação da terceirização irrestrita. “Vivemos uma desorientação política a nível planetário, com avanço do fascismo e retirada de direitos trabalhistas. Mesmo assim, temos visto casos de resistência na França, devido ao aumento de combustíveis, e na Argentina, na luta contra o ajuste fiscal”, cita.

Simplício acrescentou ainda que, durante o encontro nacional da CTB, além da questão mundial, foi debatido o cenário brasileiro. Apresentado pelo ex-presidente do PCdoB, Renato Rabelo, a expectativa é de que a realidade imposta pelo recente governo eleito será “um verdadeiro terror”. “Sem intelecto, cultura e nem projetos. Trata-se do clã familiar, da toga, da farda e da intimidação de que quem não concordar. Daí a resistência ser imprescindível. A população dependente de nossa atuação porque sabemos que a saída será pela política”.

APEOC em debate

Sobre organização e fortalecimento da categoria, o professor Aurélio Matias, vice-presidente regional da APEOC no Cariri, destacou o processo de eleição da nova direção do Sindicato APEOC, que ocorrerá em fevereiro de 2019. “Esta eleição terá ainda mais importância diante deste cenário em que nos encontramos. Devemos reforçar nossa articulação nos municípios para garantirmos maior força e representatividade na chapa e na direção”.

“Estamos na defensiva vendo o avanço das forças de ultradireita e do conservadorismo. Eles nos elegeram como inimigo, retrato da eleição que apresentou a disputa entre um capitão e um professor. Tentam nos deslegitimar, mas o que encontrarão é resistência. Agora caberá a nós, apesar da dificuldade, nos mantermos mobilizados e somar forças”, defende Matias.

Considerado o maior sindicato do Ceará, reunindo cerca de 35 mil sócios, o Sindicato APEOC atua com quase 50 comissões municipais, tem arrecadação considerável e grande estrutura, com sede, alojamentos, casa de praia, escritórios e representantes de todos os municípios. “Nosso papel para o próximo pleito é intensificar nossas ações, articular com outras correntes visando ampliar nossa força, realizar reuniões periódicas visando dar uma cara própria aos comunistas dentro do Sindicato voltada ao debate qualificado na defesa da educação e do país”.

Aurélio propôs ainda realizar um mapeamento dos professores ligados ao PCdoB em todo o estado com a criação de um grupo ainda mais organizado, forte e coeso. “Devemos traçar plano de trabalho, com base nos municípios, para fortalecer o nosso sindicato. Será com ele que defenderemos a nossa categoria”, ratifica.

Mais

Germana Amaral, presidente estadual da UJS-CE, ressaltou que o projeto do futuro governo é o desmonte da educação. “E para isso quem fica na ponta do fuzil são os professores, tornando-se o alvo principal desta desconstrução do conhecimento e do acesso à informação. Eles não querem que as pessoas pensem. Além da disputa local, a eleição do Sindicato APEOC ganha perspectiva ainda maior quando pensamos que ele pode ser ferramenta de luta nacional contra o cerceamento da liberdade de ensinar, de falar e de pensar. Nós, da UJS, estamos à disposição para colaborar nos debates, na construção de uma categoria forte e na mobilização de estudantes e professores na defesa da educação e do país”, reitera.

Ana Lúcia Viana destacou o papel preponderante que a eleição nos sindicatos, de maneira geral, terá na luta política do país a partir de agora. “Em especial os professores têm papel profundo, no dia a dia, na sociedade. Defender a escola também é tarefa do professor e, sendo professor comunista esta tarefa é dobrada. Podemos e devemos contribuir com este debate criando um coletivo no partido que seja organizado e atuante apresentando como pensam, o que propõem para a educação e para a sociedade. Devemos traçar essas diretrizes práticas para avançar nossa atuação e representação dentro do Sindicato”.

Após as apresentações, o encontro foi aberto para intervenções dos convidados, onde todos puderam apresentar sua atuação em seus municípios e locais de trabalho. A troca de experiências foi a marca da reunião, que mostrou que a organização e a mobilização do povo pode alcançar melhorias para todos.