Conferência de Dublin impulsiona luta contra bases militares

Decorreu entre 16 e 18 de novembro, em Dublin, a 1ª Conferência Internacional Contra Bases Militares dos EUA e da OTAN, com a participação de diversas entidades e ativistas da paz, anti-imperialistas e ambientalistas.

Conferencia de Dublin - Foto: Moara Crivelente

Com painéis temáticos variados, os participantes discutiram a militarização da África, das Américas, da região Ásia-Pacífico, e da Europa, destacando que tal estratégia das potências imperialistas, encabeçadas pelos Estados Unidos, é a maior ameaça contra a qual é urgente a mobilização mais ampla, efetiva e unitária em todos os continentes.

A iniciativa por uma Campanha Global contra Bases Militares dos EUA e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) nasceu de uma confluência de esforços em diversos países e regiões, como os sucessivos Seminários Internacionais pela Paz e a Abolição das Bases Militares Estrangeiras, organizados pelo Movimento Cubano pela Soberania dos Povos e a Paz (MovPaz) e outras entidades cubanas, em parceria com o Conselho Mundial da Paz (CMP); e a ampla Coalizão Estadunidense contra Bases dos EUA no Exterior, que realizou sua primeira conferência neste ano, em janeiro, sob a liderança do Conselho Estadunidense da Paz, um membro do CMP.

A convergência em Dublin foi impulsionada pela Coalizão Estadunidense contra Bases Militares dos EUA no Exterior e pela Aliança pela Paz e a Neutralidade (PANA) da Irlanda, co-organizadores do encontro. O Conselho Mundial da Paz e o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) estão entre as organizações promotoras do esforço, assim como outras entidades de cerca de 30 países. No primeiro dia, os pariticpantes realizaram um ato contra as bases militares.

Durante os três dias de conferência, denúncias contundentes do impacto da militarização do planeta, através das ameaças generalizadas contra os povos, os gastos exorbitantes com as guerras e o sofrimento causado às nações vítimas das agressões, assim como o impacto ambiental das bases e dos exercícios militares, estiveram entre os temas discutidos pelos panelistas. A conferência foi transmitida ao vivo e os vídeos podem ser assistidos a seguir.

Os participantes enfatizaram sobre a abrangência da estratégia ofensiva das potências imperialistas aglutinadas na OTAN e liderada pelos Estados Unidos, desde a ingerência nos assuntos internos das nações, com a desestabilização e o patrocínio a forças reacionárias e fascistas até as intervenções diretas e agressões que dizimam os povos e devastam países, como o Afeganistão, o Iraque e a Líbia.

A abertura do evento ficou a cargo de Ed Horgan e Roger Cole, secretário internacional e presidente da PANA, respectivamente; e de Bahman Azad, coordenador da organização do evento, do Conselho Estadunidense da Paz. Os oradores da abertura foram os parlamentares irlandeses Aengus Ó Snodaigh e Clare Daly, que falaram da luta do seu povo contra o colonialismo e o imperialismo inglês e fizeram veemente defesa da neutralidade da Irlanda contra o envolvimento do país nas guerras da OTAN e contra o uso do aeroporto de Shannon como uma base militar estadunidense, por onde passam aviões militares em casos que levantam grande protesto no país.

Em seguida, abrindo a Noite Internacional, a presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP) Socorro Gomes saudou a iniciativa e destacou a urgência do empenho redobrado pela unidade mais ampla e efetiva para o fortalecimento da luta comum da humanidade contra as guerras e pela paz, com a clareza de que o maior inimigo dos povos é o imperialismo e sua máquina de guerra, a OTAN.

Socorro denunciou a disseminação das bases militares e os exercícios de guerra cada vez mais ofensivos como expressões da estratégia de dominação e saque dos recursos dos povos, assim como ameaças constantes a quaisquer governos que não se submetam às agendas das potências. Leia sua fala aqui.

No sábado, a oradora principal foi Aleida Guevara, que fez um discurso contundente sobre a luta do seu povo contra o bloqueio estadunidense, que já dura seis décadas, contra a usurpação do território de Guantânamo pelos EUA, com sua base naval e seu centro de detenção e tortura aí implantados contra a vontade do povo e do governo cubanos.

A programação deste dia incluiu ainda a discussão sobre a militarização do planeta e seus impactos ambientais, e painéis sobre regiões específicas, como América Central e do Sul, Oriente Médio e África. No painel latino-americano e caribenho participaram o presidente do Movimento Cubano pela Soberania dos Povos e a Paz (MovPaz) Silvio Platero, a co-presidenta do Movimento pela Paz, a Soberania e a Solidariedade entre os Povos (Mopassol) da Argentina, Paola Renata Gallo Peláez, a diretora executiva da Escola pela Paz da Colômbia, Myriam Parada Ávila, e a diretora executiva do Cebrapaz, Moara Crivelente, com uma breve fala.

Moara denunciou a ingerência cada vez mais evidente do imperialismo estadunidense, a militarização regional e a presença da OTAN, inclusive com a parceria recém anunciada entre o bloco beligerante e a Colômbia. Também destacou que há pouco tempo, em 2014, os líderes reunidos na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) declararam esta uma Zona de Paz, mostrando qual é a disposição dos povos e das forças progressistas na região, hoje contrariada pela ascensão de governos reacionários e neofascista, como no Brasil, mais que dispostos a servir ao imperialismo estadunidense. Leia o contributo aqui.

Também participaram nos diversos painéis os movimentos contra as bases militares de Ramstein, na Alemanha, em Okinawa, no Japão, contra o Comando Africano dos EUA (AFRICOM), entre outros.

Reuniões paralelas regionais ofereceram a oportunidade às entidades de identificar as prioridades de ação do próximo período e os principais desafios a priorizar.

No caso da América Latina e Caribe, os participantes destacaram a solidariedade ao povo venezuelano na defesa da sua soberania e da Revolução Bolivariana; a luta do povo cubano contra o bloqueio estadunidense e pelo retorno do território de Guantânamo usurpado pelos EUA; a defesa da paz e dos acordos na Colômbia contra a persistência do paramilitarismo e o assassinato de líderes sociais; a descolonização de Porto Rico, que segue sob o controle dos EUA; a oposição resoluta à implantação das bases militares na Argentina, por oferta do presidente Mauricio Macri, e à rendição da base espacial de Alcântara do Brasil aos EUA; e a necessidade da mobilização mais ampla e fortalecida na região, a começar com a participação no 6º Seminário Internacional pela Paz e a Abolição das Bases Militares Estrangeiras em Guantânamo, em 4 e 5 de maio de 2019.

Cabe apontar que alguns dos participantes, como os representantes de organizações da Palestina, da Sérvia, do Nepal, entre outros, não puderam comparecer à conferência porque tiveram seu pedido de visto negado pelas autoridades irlandesas.

Ao final do evento, uma declaração ampla e conjunta firmou o compromisso das entidades presentes e apoiantes de seguir impulsionando o esforço de unidade e levar adiante a Campanha Global contra Bases dos EUA e da OTAN. Os participantes destacaram também que em abril de 2019 a OTAN completa 70 anos ameaçando os povos e o planeta, ocasião contra a qual deverá haver mobilização em Washington, nos EUA, mas também nos diversos países, em coordenação, para amplificar a luta contra esta que ficou reafirmada como uma máquina de guerras imperialista.