Beto Teoria: Eleições – Avaliar o que foi e pensar no depois

Ao final das eleições de 2018, naturalmente começa-se uma série de reflexões e análises sobre o resultado do pleito. Em minha opinião e visão, no campo majoritário, em especial na disputa presidencial, ficou clara e evidente a polarização da disputa através de pensamentos, narrativas e ações de campanha eleitoral que sem duvida nenhuma refletiram no resultado das urnas.

Beto Teoria

De um lado um campo progressista social dito de esquerda, e do outro um campo conservador neoliberal dito de direita. Não foram poucas vezes que trombei na quebrada vários manos e minas que até ontem votavam na ala progressista e de esquerda, mas que agora enchiam a boca para declarar voto no campo conservador, aqueles que até outro dia votavam em Haddad pra ser prefeito da Capital paulista eram os mesmo que agora deram voto a Jair Bolsonaro.

Por vezes me dediquei à conversa, ao debate saudável, sempre lembrando da frase da Madrinha Sambista e Deputada Leci Brandão: “Quem Pensa Diferente de Mim, Não é Meu Inimigo”. Os argumentos eram os mais diversos e variados, a maioria sem embasamento, muitos do tipo vou votar porque sou contra mesmo e acabou, sou “Anti PT”, como se a disputa fosse Azul contra Vermelho sem levar em conta a pluralidade de partidos que existem que são pra mais de 30 deles, o PSL mesmo do Bolsonaro, até então era inexpressivo. Porem, também teve aqueles que trouxeram uma discussão mais ampla e uma postura mais clara sobre o que viam deste momento.

A questão do discurso da insegurança virou um fio condutor pra que boa parte da periferia votasse no campo conservador, pois a tragédia e vitimas nas quebradas são frutos da violência e, muito maior do que em qualquer bairro nobre, ninguém quer viver em meio a uma guerra civil. A falta de dialogo e presença daqueles que sempre tiveram as portas abertas na quebrada, mas que depois da entrada ao poder nos últimos anos mudaram suas tratativas e condutas, também explicam muito este avesso de boa parte da periferia ao campo mais progressista social e de esquerda.
As coisas mudam, né! Lideranças comunitárias que faziam a disputa no campo das ideias já não convencem mais. As igrejas, em especial as evangélicas cristãs, possuem mais influencias do que anos atrás e se fazem presentes nas periferias brasileiras, em suas doutrinas já é de práxis o discurso e postura conservadora.

É inegável o avanço político social que tivemos nos governos Lula e Dilma, a questão é que muitos nem conseguem fazer esta análise, que o Programa Minha Casa Minha Vida, por exemplo, é um acesso impulsionado por uma política pública do governo, pois muitos acham que é só por seu merecimento de trabalho e esforço e pronto, outro exemplo nesta mesma linha estão alguns pró-unistas que tiveram acesso a Universidade. Mas os programas sociais, não são de graça, alguém ajuda a pagar esta conta, é nesta hora que entra o lado conservador que não aceita fazer a divisão das riquezas e custos de um projeto de país que precisa ser mais justo e igualitário.

Não posso deixar de registrar a dificuldade que vi de boa parte do campo progressista de esquerda em falar com a periferia, alguns ainda insistem naquele discurso acadêmico, ou querem acreditar que as novas tecnologias estão aí pra todos, o que na verdade é uma grande mentira… Fazer campanha e ato político no Twitter? Para quem? Vídeos de 5 minutos, quem vai baixar? A galera muitas vezes tem um celular de boa qualidade porque comprou a perder de vista em várias parcelas, sem contar aqueles que não estão nem aí e compram na biqueira da quebrada mesmo.  Mas no dia a dia eles não tem dinheiro para colocar internet no celular; por falta de grana mesmo e porque a internet no Brasil é uma das mais caras do mundo.

Claro que após um resultado com print final das urnas fica fácil analisar ponto X ou Y de uma ou outra questão, mas fato é que a partir de agora teremos um novo cenário de Brasil, com governantes que prometem por a qualquer custo, sua linha de pensamentos e programas. E isso será um desafio pra todos nós. Para evitar retrocessos e garantir a vida da democracia brasileira conquistada por tantas lutas, é nesta hora teremos que ter sagacidade para ser oposição, de forma responsável e imponente.