Censura em universidades: “Tão próximo de 2019 quanto de 1964”

Guilherme Boulos, ex-candidato à Presidência pelo Psol, disse que "o Partido da Justiça entrou na coligação do PSL". OAB-RJ publicou nota de repúdio.

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Universidades e sindicatos de professores de ao menos 9 estados foram invadidos por policiais e fiscais de tribunais eleitorais, na noite dessa quinta-feira (25). As ações foram criticadas nas redes sociais e caracterizadas como "censura" e ataques à liberdade de manifestação.

O vereador David Miranda (Psol-RJ) criticou a falta de critério da Justiça. "Tempos sombrios que censuram universidades públicas por declarar contra o fascismo, enquanto nada acontece com candidato que apoia tortura. Tão próximo de 2019 quanto de 1964", publicou no Twitter.

O ex-candidato à Presidência pelo Psol, Guilherme Boulos, também se mostrou indignado com o fato. "Proibiram até a palavra "fascismo". Depois de duas semanas, não há notícia de qualquer apreensão em empresas de disparos no WhatsApp. O Partido da Justiça entrou na coligação do PSL (do candidato Jair Bolsonaro)", critica.

A bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), publicou uma nota de repúdio à censura e a favor da liberdade de expressão dos estudantes e professores. "Quaisquer restrições nesse sentido, levadas a efeito, sobretudo, por agentes da lei, sob o manto, de "mandados verbais", constituem precedentes eivados de autoritarismo, censura e intimidação", diz o texto.

Assinado pela líder da bancada, a deputada estadual Beth Sahão, a nota diz que as ações fazem referência a uma eventual apreensão de propaganda favorável ao candidato à Presidência Fernando Haddad (PT), mas é um "ato de violência e opressão". "Cobramos das autoridades imediatas medidas contra estas ações que nos remetem aos tempos de trevas da Ditadura Militar, que não tem mais lugar na nossa resistente democracia", finaliza.

Na última quarta-feira (24), o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro foi impedido de ministrar uma aula pública sobre o fascismo, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O campus foi um dos alvos das ações de ontem. "Se o Judiciário entende que proferir uma aula 'aberta' numa Universidade sobre o fascismo é ataque a um candidato numa eleição presidencial, é porque ele reconhece que está concorrendo um fascista, que então deve ser protegido de uma crítica procedente. E esse não é o Haddad", disse ele.

No Rio de Janeiro, a Universidade Federal Fluminense (UFF) teve de retirar de sua fachada uma bandeira em que aparecia "Direito UFF Antifascista". Durante a madrugada, o centro acadêmico colocou outra faixa com a palavra "censurado".

A Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ) manifestou repúdio às ações. Para eles, a Justiça Eleitoral censurou a liberdade e a expressão de estudantes e professores das faculdades de Direito. "A manifestação livre, não alinhada a candidatos e partidos, não pode ser confundida com propaganda eleitoral", critica.

O deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) também criticou. Para ele, a Polícia Federal e os membros Justiça Eleitoral demonstram o que é a escalada do Estado de exceção. "Faixas antifascismo censuradas? Ilegal é o fascismo e a ação de autoridades que estão coagindo manifestações legítimas! Censura e ataque à autonomia universitária, não!", publicou.