Bresser-Pereira: "A democracia ainda tem uma chance com Haddad

Em artigo na Folha de S. Paulo, nesta quarta-feira (17), o economista e ex-fundador do PSDB Luiz Carlos Bresser-Pereira afirmou que a democracia brasileira ainda tem uma chance se eleger o candidato Fernando Haddad (PT).

Bresser Pereira na Bahia - Foto: Ascom PCdoB-BA

"A democracia ainda tem chance. Haddad não precisará rejeitar seu programa desenvolvimentista e social, que é o programa de uma vida, mas precisa deixar claro para todos os verdadeiros democratas, inclusive os liberais de centro-direita, que ele governará o Brasil muito melhor do que seu adversário”, afirmou Bressser.

Para economista, durante a campanha, "enquanto Bolsonaro só fazia críticas, ele fez propostas claras e bem fundamentadas". Segundo ele, Haddad escolheu tal estratégia "porque o voto racional é o voto a favor de um programa viável".

"É a escolha de um candidato que o eleitor prevê será capaz de bem governar. Mas terá condições políticas? Em relação aos eleitores que entendem que ‘nada é pior do que votar no PT’, não há nada a fazer (não estão sendo racionais); mas em relação à grande maioria dos eleitores, inclusive as classes médias tradicionais, há certamente um caminho”, ponderou.

Sobre os aspectos econômicos, Bresser-Pereira disse que tem se dedicado a lutar por uma política de centro-esquerda, que rejeite o liberalismo econômico e tire o Brasil da armadilha dos juros altos e do câmbio apreciado que vem desindustrializando o país e reduzindo sua taxa de crescimento para um quarto do que era antes de 1980.

"Venho explicando esse baixo crescimento pelo domínio de uma coalizão política de centro-direita, financeiro-rentista – que, ao insistir em querer crescer com poupança externa, pratica o populismo cambial –, e por um populismo fiscal de centro-esquerda que, a partir de 2012, levou o país à crise fiscal. E venho defendendo a rejeição dos dois populismos como condição do desenvolvimento brasileiro”, explicou o economista.

O ex-ministro define o capitalismo brasileiro como "um ‘povão’ atraído pelo populismo e pela liderança carismática de Lula, os empresários industriais e os intelectuais apostando em um desenvolvimento social de centro-esquerda, e a classe média tradicional, os rentistas e financistas, comprometidos com o liberalismo econômico e a armadilha dos juros altos";

Sobre o seu apoio ao candidato do PDT, Ciro Gomes nas eleições, Bresser disse que o voto em Ciro Gomes foi por acreditar que a democracia estava consolidada no Brasil. "Estas eleições, porém, indicam que eu talvez estivesse enganado em relação a esse último ponto: a democracia saiu gravemente ameaçada”.

“No dia 7, a democracia, a centro-direita representada pelo PSDB e a centro-esquerda, pelo PT, perderam; venceram o voto contra e o populismo de extrema direita. A centro-direita e o liberalismo foram derrotados, mas seus seguidores podem dizer que, ’em compensação, Bolsonaro está mais perto do nós’", destacou.

E conclui: "Estarão cometendo grande equívoco. A centro-esquerda foi igualmente derrotada, mas poderá ainda evitar o mal maior se os brasileiros elegerem Fernando Haddad no segundo turno. Quem ganhou foi a extrema direita. Ela se beneficiou da corrupção denunciada pela Operação Lava Jato, que atingiu todos os partidos, mas principalmente o PT, e da desmoralização dos políticos em geral. Venceu o primeiro turno porque aproveitou-se do clima apaixonado de ódio que tomou conta da política brasileira a partir de 2013, quando ficou claro que o governo Dilma fracassara. Venceu não porque tivesse propostas, a não ser a bala, mas porque apelou ao voto contra. O problema, agora, é saber se esse quadro extremamente preocupante pode ser revertido com a vitória de Fernando Haddad. Ele tem todas as condições pessoais para isto".