"Fuga mostra covardia de Bolsonaro diante do debate", afirma Lalo

O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) decidiu manter a estratégia do primeiro turno e não participar de debates televisivos. Apesar da justificativa agora ser a recomendação médica, por conta do ataque a faca que sofreu em Juiz de Fora, Bolsonaro sempre fugiu dos debates desde o início da campanha. Em agosto, o seu advogado Gustavo Bebiano disse em entrevista à Reuters, que a participação do candidato nos debates "não é uma prioridade".

Por Dayane Santos

jair bolsonaro - Foto: Adriano Machado/Reuters

No primeiro turno, após o ataque, disse que não iria porque o médico não autorizou. Agora, no segundo turno, voltou a usar o atestado médico para fugir do debate com Fernando Haddad (PT), marcado para esta sexta-feira (12), na Rede Bandeirantes.

Portanto, podemos dizer que a “recomendação médica” caiu como uma luva na estratégia do candidato, que ainda levou de lambuja um verniz na imagem autoritária. Passou a ser vítima hospitalizada e sensível.

Para o jornalista e professor Laurindo Lalo Leal, enquanto tenta ser o salvador da pátria com um discurso “valentão”, a “fuga mostra a covardia dele diante do debate”.

“Ele tem a postura pública de valentão, que vai resolver tudo na base da força e da violência, mas quando ele é chamado a discutir ideias ele simplesmente foge”, enfatizou Lalo, que foi professora da Faculdade de Comunicação da USP. “Ele tem clareza que é impossível para ele, dada a sua limitação intelectual, argumentar e defender qualquer tipo de ideia um pouco mais elaborada”, acrescentou.

Lalo diz ainda que o pouco que Bolsonaro apresentou no debate que participou na RedeTV, por exemplo, constatou-se que ele tem um “discurso rasteiro, que não tem complexidade, elaboração ou sustentação teórica”. Ele lembrou que na ocasião não foi permitida a participação de Lula, que era o candidato, e nem de Fernando Haddad, que na época figurava como vice da chapa do PT.

“A insegurança dele para discutir qualquer tipo de ideia com os outros candidatos deixava claro que, se ele persistisse na participação de debates, ele perderia votos porque o eleitor por mais que se veja contemplado com suas ideias brutais, perceberia gradativamente que essas ideias não têm sustentação na civilização, no convívio com as pessoas pela violência”, avaliou.

“É um discurso vazio, de frases às vezes desconexas que é utilizado apenas para buscar através da emoção de grande parte da população que está motivada para isso, na ideia de que tudo é ruim”, frisou o professor, destacando que ele utiliza a estratégia adotada nas redes sociais para construir a sua narrativa de campanha.

“Isso faz parte da formação militar dele. Não admite contestação ou o contraditório por ter uma personalidade muito autoritária. Ele só fala para as redes sociais, gravando vídeos, e para alguns entrevistadores que são submissos e levantam a bola para ele”, pontuou.

A facada foi a desculpa perfeita para não participar dos debates, além de vitimização do sujeito que está hospitalizado. Depois se aproveitou disso para dar entrevistas exclusivas, o que contrária a lei eleitoral.

Sobre o prejuízo que isso causa ao eleitor, o professor Lalo disse que é difícil mensurar já que a campanha é completamente atípica em vários aspectos por conta da conduta adotada pelo candidato da extrema direita.

“Colocar frente a frente duas propostas que são excludentes: uma caminha pela emoção, pelo sentimento de repulsa à política e pela adoração a violência como resposta à violência; e outra que é uma proposta racional que discute ideias, projetos e encaminhamentos para o país. Não há linha de equilíbrio para estabelecer um debate entre essas duas visões. Um não vai ouvir e o que outro fala sem que o outro escute”, analisou.