Bolsonaro ganha palanque da Record para dizer que é vítima

Jair Bolsonaro (PSL) não foi ao debate da Rede Globo com os presidenciáveis, mas ganhou 30 minutos de palanque sob as bênçãos de Edir Macedo na TV Record, nesta quinta-feira (4).

Bolsonaro na record - Reprodução

O todo-poderoso bispo líder da Igreja Universal do Reino de Deus, exibiu a entrevista no mesmo horário do debate , enquanto os outros candidatos se enfrentavam na principal concorrência da emissora pentecostal. A campanha de Fernando Haddad (PT) e de Ciro Gomes (PDT), entraram com recursos na Justiça eleitoral denunciando que a entrevista configuraria “falta de tratamento isonômico” por parte da emissora, uma vez que os demais concorrentes não tiveram o mesmo espaço.

O ministro substituto do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Horbach, no entanto, negou os pedidos de suspensão, afirmando que “não se pode caracterizar eventual tratamento anti­-isonômico (…) a partir de notícias veiculadas em um único dia e em um único telejornal da programação da emissora”.

Demonstrando estar bem à vontade, Bolsonaro deu entrevista na sala de sua casa no Rio de Janeiro. Por algumas vezes os enfermeiros interrompiam a entrevista por verificar a saúde do candidato, que decidiu não ir ao debate da Globo por suposta recomendação médica, após o ataque a faca que sofreu em setembro.

Segundo dados, a entrevista chegou a atingir 13 pontos de audiência, quase o dobro do que a emissora costuma ter no horário. O debate na Globo, no entanto, tinha 25 pontos no momento.

Diferentemente da embate dos demais presidenciáveis, a entrevista de Bolsonaro foi um verdadeiro passeio. Sem questionamentos, a entrevista buscou suavizar a imagem do capitão e deu o microfone para que o presidenciável se colocasse como vítima do discurso de ódio que ele propaga, mas que nega fazê-lo.

“Onde tem um vídeo onde eu ataco negros? Onde tem um áudio meu atacando mulheres?”, questionou Bolsonaro, como se uma simples busca no Google não fosse possível encontrar falas sem cortes de todos os pontos citados por ele.

“Sou acusado de disseminar ódio e quem leva facada sou eu!”, emendou, demonstrando sua tentativa de se transformar a vítima inofensiva e pacata.

Ele tentou amenizar a proposta de reforma tributária do seu economista Paulo Guedes. Ele admitiu que pretende unificar a alíquota de imposto de renda em 20%, mas que houve um "problema de entendimento", novamente provocado pelos adversários que exploraram de forma errônea a proposta. "Quem ganha até R$ 5 mil não vai pagar imposto de renda, depois disso é que a alíquota será única de 20%. Porém, as alíquotas para a classe empresarial também vão diminuir", garantiu.

Na entrevista, Bolsonaro disse que as multidões que foram às ruas no movimento #EleNão era composto apenas por “artistas que estão mamando há anos na Lei Rouanet”.

Os atos foram convocados por grupos de mulheres nas redes sociais contrárias ao seu discurso misógino e machista. Foram milhares de pessoas em várias marchas pelo Brasil, contando com a adesão de alguns artistas, principalmente mulheres, que manifestaram apoio ao movimento.

Com a sua campanha sendo acusada de disseminar as chamadas fakes news (notícias falsas), Bolsonaro também tentou culpar a esquerda. Disse que “é duro combater [fake news], por que a esquerda vai em todos os locais pregando essas fake news contra nós, de que vamos acabar com Bolsa Familia”, respondeu.

Mas ele próprio postou um vídeo nas redes sociais e deus entrevistas criticando o programa e defendendo a extinção do benefício.

Quando foi questionado sobre as notícias falsas propagadas por seus seguidores, ele desconversou: “Eu não tenho controle sobre os milhões de pessoas que me seguem. Uma ou outra pessoa acaba extrapolando (…), mas nós não pregamos fake news”.

Com a voz trêmula, Bolsonaro mudou o tom que adotou durante os seus 30 anos de trajetória política. Disse que pretende "unir o povo brasileiro" e que "sempre" pregou a união de todos.