A ameaça nas eleições presidenciais e seus responsáveis

Faltam 4 dias para o primeiro turno da mais tensa e imprevisível eleição presidencial dos últimos 29 anos no Brasil e cresce de forma cristalina a formidável manobra conjunta que reúne todas as instâncias da Justiça, os grandes conglomerados de comunicação, o mercado financeiro e parte significativa do grande empresariado para abrir espaço de modo que o ultradireitista Jair Bolsonaro chegue à presidência do país mais povoado e com a maior economia da América Latina. 

Por Eric Nepomuceno

Deputada Maria do Rosário (PT-RS) e o deputado Jair Bolsonaro (PSL - Marcelo Camargo/ Agência Brasi

Faltam quatro dias e se constata que as velhas ferramentas utilizadas anos atrás para favorecer o candidato direitista, um aventureiro chamado Fernando Collor de Melo, e derrotar Lula, são agora reforçadas por uma campanha muito mais abarcadora. Collor, como se sabe, foi destituído por um congresso logo após ser julgado por corrupção (havia fartas provas) e afundou o país. Mas conquistou o que realmente importava: derrotar Lula.

Faltam quatro dias e é como se todo o limite imposto por um mínimo de lucidez e decência tivesse sido sumariamente suprimido em todas as instituições, com objetivo de favorecer o sentimento anti-PT e anti-Lula. Esse é o eixo do que ocorreu nos últimos três dias e tratará de crescer nos próximo e decisivos quatro.

Faltam, sim, escassos quatro dias e fica claro que os verdadeiros autores do golpe de 2016 e seus principais sócios se negam a aceitar outro resultado – qualquer resultado – que não seja institucionalizar, pela via das urnas, o Estado de exceção apenas disfarçando que se instalou no país de agora.

Comecemos pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro, um provinciano deslumbrado com a fama e que deu amplas, astronômicas mostras de arbitrariedade e abuso.

Ao longo de meses e meses o ex-ministro da Fazenda da primeira presidência de Lula [Antonio Palocci] ofereceu sua “delação premiada”, com o objetivo de obter uma drástica redução de sua condenação por corrupção e descongelar parte de seu patrimônio. O Ministério Público rechaçou os termos da proposta da delação “por sua absoluta inconsistência das provas oferecidas”. Em um movimento inesperado, em abril – há seis meses – a Polícia Federal aceitou a “delação premiada”.

Pois na segunda-feira (1), quando faltavam seis dias para as eleições, Moro, que andava um tanto esquecido pelas luzes da televisão, determinou a suspensão do sigilo da proposta de Palocci.
Não há nada novo: o preso dispara munições de todos os calibres contra Lula, Dilma Rousseff, e claro, o PT, com base exclusiva em “eu soube”, “tive conhecimento”, “me chegou a informação”.

Ou seja, nada. Mas um nada que é farta munição para os meios hegemônicos de comunicação disparar todos os seus canhões contra Fernando Haddad, Lula e, claro, o PT.

Sempre há um “e, claro, o PT”, porque é disso que se trata.

Os meios hegemônicos de comunicação, por sua vez, sempre capitaneados pelo Grupo Globo (o mais podermos conglomerado da América Latina), usam e abusam do material fornecido. E, ao mesmo tempo, reforçam a ideia descabida de que o enfrentamento entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro é nada menos que um combate entre dois extremos.

Não existe nenhum indício de que ao longo de seus treze anos no poder, o PT, partido de Haddad, tenha dado um só passo contra os princípios básicos e essenciais do que se entende por democracia.

Não existe um só indício de que ao longo de seus mais de 20 anos na política, Jair Bolsonaro tenha dado um só passo que não fosse contra todo e qualquer princípio democrático.

Nem sequer quando estão claras as arbitrariedades e manobras imperdoáveis da Corte Suprema de Justiça, os meios hegemônicos de comunicação se manifestam de maneira contundente. Por exemplo: um juiz do Supremo Tribunal Federal, Ricarod Lewandowski, autoriza que uma reporte do jornal Folha de São Paulo (que, claro, apoiou o golpe de 2016) entreviste Lula, preso desde abril logo após um julgamento em que foi condenado sem nem sequer um vestígio de prova. Seu colega, Luis Fux, reverte a autorização. Lewandowski à reitera, e o presidente da Corte, Dias Toffoli, intervém: o tema será submetido ao Pleno, mas somente no ano que vem.

Semelhante prova de censura prévia não mereceu um mísero editorial dos grandes jornais ou da televisão. Ao fim e ao cabo, uma entrevista de Lula poderia ser fatal para Bolsonaro, e o empurrão final para a vitória de Haddad.

Mas há algo todavia mais assombroso. No sábado (29), centenas de milhares de manifestantes saíram às ruas, convocados por mulheres, para dizer “ele não”, em rechaço a Bolsonaro.

No domingo (30), centenas de milhares saíram às ruas, convocados pela campanha de Bolsonaro para dizer “ele sim”. Entre outras delicadezas, um filho do ultradireitista lançou a seguinte maravilha: “as mulheres da direita são mais bonitas que as da esquerda, que mostram os peitos e defecam nas ruas. As da direita são mais bonitas e mais higiênicas”.

E é quando aparece o mais terrível, o mais assombroso: com isso todo, Bolsonaro cresceu nas pesquisas. Agora tem dez pontos de vantagem sobre Haddad. E, pior do pior: sua aprovação cresceu entre o eleitorado feminino.

Há espaço para dúvidas e preocupações caso Fernando Haddad seja eleito presidente. Como se comportará o mercado e o empresariado? Como reagirão as forças armadas? Terá uma base mínima no Congresso?

Não há espaço para dúvidas se Jair Bolsonaro vencer: será o império da ultra-direita, conduzido por um troglodita desvairado que nem sequer merece ser classificado como fascista ou nazista: falta preparação intelectual para tanto.

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