Vasco: Do amor puro de Rondônia ao estranho amor de São Januário

No último dia 15 de setembro eu estava em Porto Velho, capital de Rondônia. Este foi o dia em que Vasco e Flamengo disputaram a partida válida pela 25ª Rodada do Brasileirão, jogo realizado em Brasília.

Por Wevergton Brito*

Vasco da Gama - Foto: Facebook da 47ª Família

Depois de uma rápida pesquisa na rede (“bar dos vascaínos em Porto Velho”), descobri que poderia assistir a partida na sede da 47ª Família da Força Jovem do Vasco. Para quem não sabe, a FJV se organiza em “Famílias”, espalhadas pelo Brasil e até pelo mundo (tem, por exemplo, a 52ª Família – Flórida, do meu amigo Leonardo).

Sede da 47ª antes de começar o último Vasco x Flamengo / Foto: Wevergton Brito

Mas confesso que fiquei, de início, em dúvida sobre assistir de fato o jogo na sede da FJV local, ressabiado com a guerra interna que a FJV vive no Rio de Janeiro, onde o que menos parece importar é o amor ao Vasco.

Porém, decidi ir, e foi a decisão correta, pois conhecer os vascaínos de Porto Velho fez muito bem a minha alma vascaína.

Em Rondônia, a mais de 3.400 quilômetros de São Januário, o amor ao Vasco existe em estado puro.

A ampla sede da FJV, em pleno centro de Porto Velho, é totalmente climatizada. Tem telão, TV e um bar próprio.

O churrasco, no dia do jogo, começou cedo, por volta de meio-dia, mas só pude aparecer pouco antes do início da peleja, às 18hs. Mesmo com o Vasco em péssima posição na tabela, no horário de início da partida havia mais de 80 torcedores, o que nem de longe lota a sede, com capacidade para cerca de 200 pessoas.

Quando o jogo começou, o presidente da 47ª (Bruno) e o vice-presidente (Marcos) puxavam a galera como se estivéssemos em São Januário.

Quem passasse perto da sede e não fosse ligado em futebol iria pensar que o Vasco estava disputando as primeiras colocações do campeonato, tal a animação do pessoal.

Quando Martin Silva fazia uma defesa (e nem precisava ser uma defesa difícil) lá vinha o coro empolgado: “PQP / é o melhor / goleiro do Brasil”.

No intervalo, a direção da “Família” fez diversos sorteios (camisas da “Família”, etc). Tudo custeado pela rapaziada através da compra de rifas. Eu comprei três números e ganhei um Litrão de Skol, devidamente consumido no mesmo momento com meus novos amigos vascaínos.

Em frente à sede, um bar (Bar Bolívia) ostentava uma grande bandeira do Flamengo.

“Nenhum problema”, garantiram os dirigentes da “Família”, “quando chegamos aqui eles já estavam lá do outro lado com esta bandeira e buscamos um respeito mútuo”. Pausa para a cara de espanto do leitor.

O Bar Bolívia estava com pouca gente, no máximo quinze pessoas, mas mesmo assim durante todo o jogo, mesmo quando fizemos o gol, não houve qualquer provocação dirigida diretamente ao nosso vizinho rubro-negro.

Quando a partida terminou, um membro da FJV, já meio chumbado, atravessou a rua na direção do Bar Bolívia, demonstrando intenções pouco pacíficas, no que foi imediatamente trazido de volta à sede.

Os gritos de “Vasco!” e “Casaca!” ainda ecoaram durante boa parte daquela noite de sábado em Porto Velho e eu me senti um garoto de 14 anos, indo pela primeira vez ao estádio sozinho para ver o Vasco, cercado por gente com o mesmo amor puro pelo clube que movia quase todos os vascaínos daquele tempo.

Proponho urgentemente que a 47ª Família assuma o controle nacional da FJV e venha ao Rio de Janeiro ensinar os vascaínos cariocas a torcer de verdade.

Já no Rio de Janeiro…

Contrastando com o exemplo de Rondônia, ignorando o drama de nossa equipe que luta para se salvar no campeonato, no Rio de Janeiro o grupo político do senhor Júlio Brant empurra o Vasco para a beira do abismo entrando na justiça para anular as últimas eleições.

Independentemente da opinião de cada um sobre o resultado do processo eleitoral no Vasco em 2017, vamos ter a partir de agora uma nova guerra em duas etapas: guerra jurídica, com a tentativa de uma parte tentando cassar a liminar que anulou as eleições e com outra parte buscando de qualquer maneira manter a liminar. Vencida esta etapa, caso a anulação seja mantida, a nova eleição igualmente irá paralisar o Vasco por preciosos meses.

Enquanto isso, ninguém assinará contrato, patrocinará ou fará empréstimos com um clube eternamente em guerra política. Fora este aspecto, o planejamento para 2019 também será totalmente inviabilizado, pois na melhor das hipóteses a nova eleição, se ocorrer de fato, será realizada em dezembro!

Mas tudo isso, acreditem os senhores, não é por sede de poder não. É por amor ao Vasco. O que faz lembrar o título daquele antigo filme: “Amor, Estranho Amor”.

Por mim, prefiro mil vezes o amor sincero e desinteressado dos vascaínos de Porto Velho.