Prefeitura de Fortaleza desapropria Casa Frei Tito de Alencar

Decreto que define a residência como bem público foi assinado na sexta-feira, data em que Tito completaria 73 anos. Espaço deve se transformar em memorial.

Prefeitura de Fortaleza desapropria Casa Frei Tito de Alencar

A Casa Frei Tito de Alencar, no Centro, será transformada em memorial. O primeiro passo para isso foi o decreto que define a residência como bem público, assinado na última sexta-feira (14), data em que o religioso completaria 73 anos. A medida aconteceu após audiência pública realizada com familiares dele e representantes do movimento Ocupa Casa Frei Tito há uma semana, quando o prefeito Roberto Cláudio (PDT) firmou compromisso com a desapropriação do local para o tombamento definitivo do bem e construção do memorial. Manifestantes que ocupam o imóvel há mais de um mês afirmam que as movimentações continuam até que o ato de desapropriação seja confirmado.

Marcelo Rafael, 24, estudante, fotógrafo e um dos ocupantes da casa, localizada no número 364 da Rua Rodrigues Júnior, diz que o movimento sempre teve esperança de que o caso fosse ser resolvido. "E agora, com essa decisão do prefeito, estamos bem confiantes". Isso, porém, ainda não vai resultar na desocupação da casa. "Continuamos até que a casa não pertença mais ao atual dono e esteja nas mãos da Prefeitura", reforça.

Leonardo Sampaio, 66, um dos fundadores do Espaço Cultural Tito de Alencar, localizado no bairro Pici, avalia o momento como uma "grande vitória". "Porque o prefeito reconheceu a memória de Frei Tito e atendeu aos pedidos da família e de nós, que lutamos pelo movimento da ocupação da casa".

O prazo de conclusão dos trâmites legais do processo é até o fim do ano, conforme anunciou Roberto Cláudio na reunião. De acordo com o titular da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), Gilvan Paiva, o conceito do projeto será elaborado após as tratativas com o atual proprietário do imóvel e o seu tombamento. O secretário afirma que o centro de memória será desenhado em um grupo de trabalho com representantes do Poder Público, da sociedade civil e da família de Frei Tito.

Gilvan diz esperar que o memorial não seja apenas registro da história do religioso, mas também de outras pessoas que lutaram contra o Golpe Militar de 1964. "Que seja um espaço múltiplo, plural. Um espaço de reconhecimento do Frei Tito de Alencar, mas também da luta pelos Direitos Humanos, pela democracia e pela liberdade".

Sampaio afirma que o espaço dedicado ao frade no Museu do Ceará deverá ser transferido futuramente para o memorial. A residência do religioso que lutou pelos Direitos Humanos e contra a repressão da ditadura militar abrigará homenagens a outros cearenses perseguidos e torturados na época. "Essa proposta foi apresentada na reunião, o prefeito aceitou, e era também o que todos que mantêm a ocupação queriam". (Colaborou Lucas Barbosa)

Saiba mais

Tito de Alencar nasceu em 14 de setembro de 1945, em Fortaleza. Na infância e adolescência morava na rua Rodrigues Júnior, 364, com os pais, Laura e Ildefonso de Alencar Lima e dez irmãos. Em 1963, muda-se para Recife, eleito dirigente regional da Juventude Estudantil Católica. Três anos depois entra no noviciado do Convento da Ordem dos Dominicanos, em Belo Horizonte. Mudou-se, em seguida, para São Paulo. Neste tempo, foi preso, torturado com choques, queimaduras, espancamentos e afogamentos relatados em carta escrita dentro da prisão. Exilado em um convento em Lyon (França), foi encontrado morto em 1974.