Jesualdo Farias: Nem na faca, nem no fogo e nem na bala

“Só há uma forma de salvar o País do arbítrio iminente, é cultivando o diálogo e a tolerância e praticando à exaustão os ideais democráticos”.

Por *Jesualdo Farias

Eleições 2010

Faltando pouco mais de vinte dias para o primeiro turno das eleições mais conturbadas da história do Brasil, vive-se um clima de incerteza e medo. O ódio e a intolerância agudizam-se e continuam destruindo amizades e laços familiares. Parece não haver limites. É compreensível, embora não justificável, que pessoas atingidas pela profunda crise econômica aproveitem este momento para protestar de forma ríspida, pensando mais nos seus problemas domésticos, do que naqueles que assolam o País.

Ainda há tempo para uma reflexão. O Brasil não suportará mais quatro anos de instabilidades política, econômica e democrática. A grande mídia e boa parte da população, que apoiou o golpe parlamentar que derrubou a presidente Dilma em 2016, sabe que dois anos depois, o Brasil não melhorou e tornou-se um País sem governo, sem democracia, sem soberania, sem limites, a caminho da barbárie.

Atentados a políticos, como as balas que atingiram os ônibus da caravana do Lula, a faca que atingiu o candidato Bolsonaro, as balas que vitimaram Marielle e a violência contra o reitor Cancellier, empurrando-o ao suicídio, são traços de um País que avança a passos largos para o precipício. A este cenário somam-se declarações polêmicas de candidatos e de oficiais das Forças Armadas que em nada contribuem para a construção de um ambiente civilizado, onde a livre manifestação balizada nos princípios democráticos deveria prevalecer, sobrepondo-se ao discurso do ódio, da intolerância e da apologia à violência.

A quem interessa este ambiente hostil? Uma eleição não deveria ser conduzida pelo debate para a mitigação do enorme drama social que destrói uma nação? O Brasil tem 518 anos, dos quais, pouco mais de 50 anos de lapsos de democracia e mais de 350 anos de escravidão. Mesmo assim, ainda não se aprendeu que o problema social, herdado de meio século de exclusão, não será resolvido nem na faca, nem no fogo, nem na bala. Só há uma forma de salvar o País do arbítrio iminente, é cultivando o diálogo e a tolerância e praticando à exaustão os ideais democráticos.


*Jesualdo Farias é Professor Titular da UFC

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