Pinochet já fez o que Bolsonaro propõe e não deu certo

O representante da direita que lidera as pesquisas de intenção de voto para a presidência do Brasil, Jair Bolsonaro, propõe um programa de governo pautado em privatizações e violação dos direitos. Uma fórmula nada nova e já fracassada em outros países, entre eles o Chile, cujo golpe de Estado liderado pelo ditador Augusto Pinochet completa 45 anos nesta terça-feira (11).

Por Mariana Serafini

Augusto Pinochet - Divulgação

Em entrevista publicada no Vermelho nesta segunda-feira (10), a economista Leda Paulani afirmou que Bolsonaro conseguiu unir “o pior dos dois mundos” em seu programa de governo: ao defender o liberalismo ele foca apenas no mercado e deixa de lado os direitos individuais; e ao reivindicar a tradição militar exalta um nacionalismo fascista e xenofóbico, sem nenhum interesse na área de desenvolvimento da indústria nacional e soberania.

Este modelo que agora Bolsonaro apresenta como novidade, já deu muito errado no Chile, durante os quase 30 anos da ditadura de Pinochet (1973-1990). O país foi uma espécie de laboratório onde o neoliberalismo foi implementado a ferro e fogo e causa graves danos até hoje ao povo chileno, uma vez que várias medidas não foram revertidas, entre elas, a privatização da água.

O projeto foi elaborado e implementado pelos economistas chilenos formados na Universidade de Chicago sob a supervisão de Milton Friedman que ficaram conhecidos como “Chicago boys”. Durante o governo de Salvador Allende, eleito em 1970, eles teceram uma série de críticas e responsabilizaram o então presidente pela crise econômica. O discurso serviu de impulso para o golpe que o depôs três anos depois e implementou uma das ditaduras mais sanguinárias do continente.

Os Chicago boys ocuparam cargos chave no governo de Pinochet e foram responsáveis pelo sistema de privatizações, abertura para o capital externo e mudanças estruturais na Constituição do país (vigente até hoje). Ao mesmo tempo que acontecia o “Milagre Chileno”, porque tinha-se a sensação de crescimento econômico, a ditadura criminalizava organizações sociais, fechava sindicatos e partidos de esquerda, perseguia, prendia torturava e matava militantes políticos.

Pinochet foi responsável pela privatização do minério, da água, de empresas estatais prestadoras de serviços básicos – como transporte, por exemplo –, reduziu gastos do setor público, implementou um sistema previdenciário que colapsou recentemente e fez crescer radicalmente a desigualdade social no país.

Tudo isso, aliado a uma forma extremamente autoritária de governar. A ditadura chilena deixou um saldo de mais de 40 mil vítimas e é considerada uma das mais sanguinárias do continente. Pinochet perseguiu a imprensa, fechou partidos políticos, sindicatos e organizações sociais. Censurou artistas, e um dos ícones da resistência, Victor Jara, foi brutalmente torturado e assassinado pelos militares diante de seus alunos universitários.

As privatizações do período da ditadura até hoje não foram revertidas. O país é um dos poucos do mundo que garante em sua Constituição a água como um “direito de propriedade” que pode ser comprado, vendido ou herdado. Isso faz com que grande parte da população padeça com a falta de água porque o bem natural está concentrado na mão de monopólios empresariais.

O projeto de governo de Bolsonaro, que nada tem de novo, prevê a completa abertura ao mercado, privatização de setores básicos, redução de investimento no setor público e, consequentemente, enfraquecimento de políticas públicas e programas de redução da desigualdade social.

Ao relembrar o histórico do candidato como figura pública, é fácil perceber o autoritarismo. O discurso dele é marcado pela perseguição às mulheres, aos negros, aos LGBTs, aos imigrantes. Bolsonaro defende a não equiparação de direitos, a não igualdade salarial entre homens e mulheres que cumprem a mesma função, ataca os Direitos Humanos e acredita na violência como resposta à criminalidade.

A história já mostrou o que este tipo de programa traz ao longo do tempo: desigualdade, aumento da pobreza, redução de direitos. Um saldo que custa caro. A ditadura do Chile terminou há quase trinta anos e o país ainda não conseguiu reverter o estrago feito por Pinochet e seus Chicago boys.