Sem proposta, Bolsonaro decide fugir dos debates para não perder votos

O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) não vai mais participar de debates televisivos. A informação foi do presidente do PSL, o advogado Gustavo Bebiano,em entrevista à Reuters. Segundo ele, a participação do candidato nos debates "não é uma prioridade".

Por Dayane Santos

marina e bolsonaro debate

"Não é prioridade. Esses debates não favorecerem em nada, não acrescenta em nada", disse ele. Não é a primeira vez que Bolsonaro fala em não participar de debates. Em junho, por meio de um vídeo nas redes sociais, o próprio disse que não iria participar dos debates.

Segundo colocado nas pesquisas, 20 pontos atrás de Lula de acordo com o Ibope, Bolsonaro é conhecido por suas frases recheadas de chavões, mas sem conteúdo programático. Há dois anos Bolsonaro faz a sua campanha presidencial baseada em publicidade antiesquerda, atraindo um público principalmente nas redes sociais. Aliás, essa é a sua estratégia: privilegiar a campanha nas redes sociais com vídeos e frases curtas.

Com Lula crescendo nas pesquisas, a tática de Bolsonaro parece ter lógica. Para o jornalista e professor Laurindo Lalo Leal, a estratégia de Bolsonaro é acertada, pois pelo andar da carruagem ele, que está estagnado nas pesquisas, pode perder os votos que tem.

"Os debates estão prejudicados pela ausência do candidato que é líder em todas as pesquisas, que é o Lula. No caso do Bolsonaro, parece que ele percebeu que a exposição dele num debate tem fortes críticas. A gota d’água foi a interpelação da Marina que o deixou numa situação difícil e sem resposta", disse Lalo, se referindo a última participação de Bolsonaro em um debate, realizado pela RedeTV, em que ele perguntou a Marina se ela era a favor do desarmamento. Marina disse que não era a favor e aproveitou para atacar o capitão reformado, falando sobre a diferença de salário entre homens e mulheres. Bolsonaro contra-atacou: "Temos uma evangélica que defende plebiscito para aborto e maconha", disse.

Marina respondeu: "Quando a gente é presidente, não pode fazer vista grossa, dizer que não precisa se preocupar. Precisa se preocupar. Precisa defender a injustiça… Você acha que pode resolver tudo no grito, na violência. Você fica ensinando os nossos jovens que têm que resolver na base do grito. Esses dias você pegou na mão de uma criança e ensinou a atirar. E esse ensinamento que quer dar a nossas crianças".

Para Lalo, com a ausência forçada pela mídia da candidatura de Lula, Bolsonaro se torna alvo dos demais candidatos. Ele lembrou ainda que outros candidatos adotaram a tática de fugir dos debates.

"É uma tática que outros candidatos majoritários também fizeram. Me lembro de Fernando Henrique ter feito o mesmo. Somente o Lula não adotou essa tática, mesmo quando estava liderando as pesquisas", destacou.

O também jornalista Gilberto Dimenstein também comentou a decisão da campanha de Bolsonaro.

"Vamos reconhecer: ele está certo. O deputado não tem nada a ganhar nesses embates, apenas perder. As pessoas já perceberam que não adianta ficar atacando Bolsonaro por frases que demonstram seu apreço à tortura, ditadura militar, machismo, homofobia, e por aí vai. Isso apenas reforça a admiração de seu eleitorado – e não muda a opinião de quem já não gosta dele", comentou.

Para Dimenstein, o presidenciável ultradireitistas não vai aos debates porque sabe que será cobrado sobre alternativas ao país "e, aí, é um desastre total".

"É capaz de dizer barbaridades sobre dívida púbica, mortalidade infantil, trabalho da mulher. Sem exagero, ele não passaria numa prova de redação do Enem. Isso pelo simples motivo de que ele não estudou, apenas repetiu chavões e frases simplórias. Portanto, seu eu fosse ele (e graças a Deus não sou), ficaria na moita", ironizou.

Ao ser questionado se a decisão não comparecer aos debater era porque Bolsonaro teria um "telhado de vidro", o presidente do PSL bravateaou dizendo que "o que trouxe o candidato até aqui foi a espontaneidade, não fica em cima do muro, concorde-se ou não com as posições dele".

Bebiano aproveitou ainda para dizer que não concorda com os resultados das pesquisas. Disse, por exemplo, ter outra percepção sobre a falta de apoio do público feminino e a alta rejeição a Bolsonaro apontadas nos levantamentos, pois, segundo ele, de 10 mulheres que passam por Bolsonaro, "pelo menos metade para tirar foto".

Esse argumento nos dias de hoje não quer dizer muito. O ex-goleiro Bruno, condenado pelo assassinato da ex-namorada, também é assediado para tirar fotos e nem por isso significa que a sua popularidade está em alta.