Após demissão em massa, editora Abril dá calote em trabalhador

A Editora Abril, da família Civita, pede recuperação judicial um dia antes da obrigação de pagar a indenização rescisória de 800 funcionárias e funcionários demitidos no início de agosto.

Arte decadência da editora Abril . Moscas e urubus sobre a árvore - Bessinha

O Ministério Público do Trabalho (MPT), de São Paulo, entrou com uma Ação Civil Pública para obrigar a empresa a explicar a demissão em massa de jornalistas, gráficos e administrativos.

Foram dispensadas pessoas “com 10, 20, 30 anos de casa”, diz Paulo Zocchi, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. E justamente “no dia em que as pessoas iriam começar a receber suas verbas rescisórias a empresa entrou em recuperação judicial, que é uma legislação de proteção às empresas”.

A recuperação judicial congela as dívidas contraídas pela empresa anteriormente ao pedido e, portanto, “suas dívidas passam a ser jogadas para um plano incerto, e as verbas trabalhistas estão entre elas", complementa o sindicalista.

O Comitê dos Jornalistas Demitidos da Abril divulga uma nota denunciando o calote da editora que já foi a maior do mercado de revistas da América Latina. Os ex-funcionários da Editora Abril denunciam que a empresa não liberou a possibilidade de saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e nem as guias do seguro-desemprego, “deixando os demitidos sem nenhuma cobertura financeira”, diz trecho da nota.

“O que nos causa muita indignação é que os donos, com a própria empresa, ao longo das décadas, acumularam uma fortuna de bilhões e apenas uma pequena fração disso hoje poderia pagar as verbas rescisórias e os direitos de todo mundo que ajudou a construir essa empresa e essa fortuna", argumenta Zocchi à Rede Brasil Atual.

Já Raimunda Gomes (Doquinha), secretária de Comunicação da CTB, denuncia a arrogância dos donos da editora, que chegaram a afirmar categoricamente que iriam derrubar a presidenta Dilma Rousseff, no início de seu segundo mandato, em 2011. A editora que já vinha em processo de deterioração, fechou mais onze de suas publicações, em agosto.

“A revista Veja (carro-chefe da Editora Abril) não poupou espaços para ataques contundentes aos governos Lula e Dilma, sempre em tabelinha com a Rede Globo e outras mídias, criando factóides e um clima perverso de ódio e violência contra os partidos de esquerda e movimentos populares", afirma Doquinha.

O Sindicato dos Jornalistas cobra a descrição dos valores a serem pagos e as guias de liberação do FGTS e do seguro-desemprego, além de acompanhar o MPT na ação para obrigar o pagamento aos demitidos. Na sexta-feira (24) está marcada uma reunião entre o Sindicato dos Jornalistas e representantes da empresa para discutir a situação dos demitidos.

Reportagem da revista Exame, da Abril, afirma que a empresa entrou com o pedido de recuperação judicial na quarta-feira (15) para levar à "recuperação judicial das dívidas que somam cerca de R$ 1,6 bilhão". E pior, "para atacar os problemas que afetam o negócio, a família Civita, controladora do Grupo Abril, contratou recentemente a consultoria internacional Alvarez & Marsal, especializada em reestruturação organizacional".

“Já Doquinha lembra que "o capital sempre se protege sem dar a mínima para a classe trabalhadora”. Para ela, "isso reforça a necessidade de regulação da mídia para acabar com os monopólios de comunicação, dando espaço para todos os setores da sociedade, diversificando a programação e criando mais empregos”.

Neste momento, diz a sindicalista, “as nossas atenções estão voltadas para as eleições de outubro para derrotarmos o golpe e juntamente com o conjunto da classe trabalhadora exigir a revogação da reforma trabalhista e lutar pelas reformas necessárias para o Brasil voltar a crescer com democracia e valorização do trabalho".