O dia que Aretha Franklin libertou Angela Davis

Duas mulheres negras fundamentais para a luta do movimento negro nos Estados Unidos, cada uma em sua esfera: Aretha Franklin e Angela Davis não eram amigas, mas algo maior as unia e foi assim que uma não titubeou para defender a outra, porque o sonho coletivo se alimenta da generosidade e da coragem.

Aretha Franklin - AP

Era o começo dos anos 70 e Angela Davis estava presa, acusada pelo presidente do país de ser uma “perigosa terrorista”. A filósofa e ativista era, então, membro do Partido Comunista, onde mais tarde concorreu à vice-presidência do país.

Milhares de pessoas se mobilizaram pela libertação de Angela e a campanha tomou proporções nacionais, até chegar em Aretha Franklin que, à época, já era uma estrela da música norte-americana.

A cantora, que morreu nesta quinta-feira (16) não titubeou ao declarar apoio a Angela e se oferecer a pagar a fiança para que esta fosse libertada. Ela arriscou sua reputação e parte de seu patrimônio para defender outra mulher negra porque entendeu que desta forma estaria contribuindo com toda a luta do movimento negro, e assim foi.

À época, a revista Jet registrou o depoimento de Aretha onde ela explicou os motivos que a levaram a se engajar nesta campanha para libertar Angela.

Leia na íntegra:

“Meu pai diz que não sei o que eu estou fazendo. Bem, respeito ele, é claro, mas vou ser firme com aquilo que acredito. É preciso libertar Angela Davis. O povo negro será livre. Eu já estive atrás das barras (por ter "perturbado a paz" em Detroit) e sei que é preciso perturbar a paz quando você não consegue ter sua paz. A prisão é um inferno. Vou fazer de tudo para que ela seja liberta, se houver qualquer justiça em nossos tribunais, não porque acredite no comunismo, mas porque ela é uma mulher negra e ela quer liberdade para o povo negro. Eu tenho o dinheiro; foi o povo negro que me deu ele – eles me fizeram financeiramente capaz de tê-lo – e quero usar ele de formas que ajudarão nosso povo.”