As sanções dos EUA que tentam isolar o Irã

Após deixar o acordo nuclear multilateral com o Irã, os Estados Unidos reativaram as sanções economicas contra o país persa. A Europa, que quer promover a manutenção do pacto, também está sendo afetada: todas as companhias europeias que mantém relações comerciais com governos ou corporações iranianas serão atingidas pelas represálias da administração Trump

Por Alessandra Monterastelli *

Trump acordo nuclear

A retomada das sanções permite que os EUA imponham duras punições a empresas ou países que negociarem com o Irã. Segundo o Estado de São Paulo, a primeira leva de sanções afeta setores econômicos como o automotivo, de ouro, aço e outros metais usados na indústria. Companhias de setores como o automotivo e o aeronáutico estão sendo forçadas a encerrar suas relações econômicas com o Irã para evitar o bloqueio do mercado americano a suas atividades, bem como manter o acesso ao crédito do dólar. As próximas sanções provavelmente recairão sobre o setor petrolífero iraniano.

A pressão dos EUA obriga as comnpanhias a escolher entre o mercado norte-americano, país com o maior PIB mundial, de cerca de 18 trilhões de dólares, e o Irã, que apesar de estar se tornando uma potência regional e de apresentar crescimento, possui um PIB de 393 bilhões de dólares. 

Trump deixou o acordo com o Irã no dia 8 de maio; segundo ele, o documento assinado também pelos líderes da China, França, Rússia, Reino Unido, Alemanha e União Europeia, só beneficiava o Irã e tinha de ser renegociado. Além disso, junto a Israel (que tem sua influência no Oriente Médio ameaçada pelo Irã), os EUA acusaram Teerã de não cumprir o pacto, apesar de um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ter comprovado que o Irã tem se mantido dentro das restrições impostas pelo acordo nuclear de 2015 (que consistia no fim das sanções contra o país persa desde que esse parasse de desenvolver seu programa nuclear). 

Após a ofensiva, Trump disse estar disposto a negociar "sem nenhuma pré-condição", ao que o presidente iraniano Hassan Rohani classificou como uma declaração contraditória: "não se pode negociar ao mesmo tempo em que há sanções". 

A Europa quer permanecer no acordo

Depois que Trump declarou que as empresas estrangeiras que mantiverem negócios com Teerã ficariam impedidas de manter atividades comerciais com os Estados Unidos, a União Europeia acionou o estatuto de bloqueio, um mecanismo elaborado em 1996; segundo este, as empresas europeias que estão no Irã poderão vir a pedir indenizações à UE por eventuais prejuízos causados pelas sanções norte-americanas. Proíbe ainda cidadãos da União Europeia de cumprirem as sanções dos EUA contra o Irã, com exceção dos casos em que exista uma autorização da Comissão Europeia.

Ainda assim, muitas multinacionais europeias anunciaram suas intenções de sair do Irã. É o caso da Daimler, Renault, Total, ATR, Sanofi, Nestlé e outras citadas pela Reuters. 

Desde que Trump decidiu deixar o acordo, a União Europeia afirmou que continuaria suas negociações com o Irã para manter o pacto. Comprometeu-se, inclusive, a enfrentar as ameaças norte-americanas contra as empresas europeias que queiram manter os seus contratos com o governo iraniano: "As partes que se mantêm no acordo comprometeram-se a trabalhar para a preservação e manutenção de canais financeiros com o Irã, e para a continuação das exportações iranianas de petróleo e gás", lê-se num comunicado citado pelo Publico.

Federica Mogherini, alta representante da União Europeia das Relações Exteriores, reiterou que "a preservação do acordo nuclear com o Irã é uma questão de respeito pelos acordos internacionais e de segurança internacional". 

Manobra política

É provavel que, com essa pressão economica, os EUA pretendem restringir a atuação política do Irã, que apoia grupos como o Hezbollah (nascido como resistência ao estado de Israel). O Irã vem ganhando cada vez mais influência, tornando-se uma potência regional no Oriente Médio e observado com receio por Israel, aliado de Washington. 

A Casa Branca negou que a queda do regime islâmico seja um objetivo das sanções, mas dadas as ações do governo norte-americano no Afeganistão e contra governos no Iraque e na Líbia depois dos anos 2000, é motivo de desconfiança. 

Como fruto das sanções, os iranianos tem começado a ter dificuldades: aumento de preços, redução de oferta dos medicamentos, classe média e operária sofrendo enquanto as elites que possuem operações no mercado clandestino enriquecem. 

O rial iraniano perdeu metade do seu valor desde abril por causa do temor de novas sanções, e a desvalorização cambial, junto com a crescente inflação e a perda de investimentos estrangeiros, propiciou manifestações esporádicas no Irã contra a situação econômica, incluindo reivindicações contra o governo; estas manifestações, ainda que poucas, tem sido amplamente apoiadas pelos EUA. 

O atual Secretário de Estado norte-americano, John Bolton, ultraconservador que foi representante na ONU na época do governo George W. Bush (presidente conhecido pela invasão do Iraque) e que já defendeu publicamente manobras de guerra contra o Irã e a Coreia Popular, aproveitou as recentes manifestações esporádicas no Irã para pressionar o governo do país: "o povo iraniano não está contente – não com os americanos, mas com a sua própria liderança. Estão descontentes com o falhanço da sua própria liderança em cumprir as promessas econômicas". 

Apesar do comentário daquele que está promovendo uma asfixia economica do Irã, é improvável que as sanções norte-americanas levem o Irã para o isolamento em que se encontrava antes do acordo de 2015, ou que o maior aperto econômico faça crescer a dimensão dos protestos, que não estão nem perto de um movimento generalizado.