Jovens entram cada vez mais cedo no tráfico de drogas, diz pesquisa

Estudo com pessoas inseridas na rede de comércio ilegal de drogas observou aumento no número de ingressantes na atividade entre os 10 e 12 anos, de 6,5% dos entrevistados em 2006 para 13% em 2017.

Polícia - TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL

O perfil dos jovens que se envolvem em alguma função no comércio ilegal de drogas é um fato conhecido, no entanto, o ingresso na rede do tráfico vem acontecendo cada vez mais cedo. A constatação é da pesquisa Novas Configurações das Redes Criminosas após a Implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), divulgada nessa terça-feira (31), pelo Observatório de Favelas, no Rio de Janeiro.

De acordo com a pesquisa, que envolveu 261 jovens e adultos inseridos na rede do tráfico de drogas no varejo, a principal faixa etária em que os entrevistados afirmam ter entrado na atividade ilícita corresponde ao período entre 13 e 15 anos, com 54,4% das respostas. O estudo levanta ainda um dado preocupante: o aumento no número de pessoas que entrou para o tráfico entre 10 e 12 anos de idade. Esse percentual passou de 6,5% em 2006 para 13% em 2017.

O principal motivo citado para justificar a entrada no tráfico é a questão financeira, 62% alegam que queriam ajudar a família e outros 47%, ganhar muito dinheiro. A busca por adrenalina, a ligação com amigos e a dificuldade em conseguir um emprego também estão entre as razões mais citadas. O relatório acrescenta que 66,3% dos entrevistados tiveram experiência profissional anterior à entrada no tráfico, mas encontraram condições de trabalho precárias, o que tornou a opção pela atividade ilícita mais atraente.

"A gente registrou que existem momentos de saída (do tráfico), mas a grande pergunta é: por que ele volta?", ressalta o pesquisador Rodrigo Nascimento. Ele verificou que, entre os jovens, 40% já saíram voluntariamente em algum momento do crime. Para Nascimento, o retorno ao tráfico acontece porque eles ainda encontram as "portas fechadas". "De alguma maneira, não colocando a culpa especificamente nas instituições, mas há algo aí na relação com a escola e o mundo do trabalho que não está funcionando", afirma.

O objetivo do relatório é oferecer subsídios para a construção de políticas públicas centradas na infância e adolescência que visem à superação da lógica da guerra às drogas e, assim, prevenir a entrada de jovens na atividade e dar oportunidade de reinserção para quem já está envolvido.