Martônio Mont'Alverne: O Brasil empreendedor

"O pueril argumento de que Embraer não teria condições de concorrer após uma união entre Bombardier e Airbus, a atrasada preocupação em diminuir direitos trabalhistas por meio de uma reforma, como se isso realmente fosse ameaça, não passam de uma razão subalterna, reveladora da indigência econômica e política de empresários incapazes de enxergarem além do próprio nariz”.

Por Martônio Mont'Alverne Barreto Lima*

Boeing Embraer - Ilustração: Bruno Galvão

Em 16 de julho, Putin e Trump terão um encontro histórico na Finlândia, em seguida à reunião da OTAN, onde Trump cobrará dos parceiros europeus mais dinheiro para manter a maior aliança militar mundial. Parece razoável: os interesses comerciais e econômicos dos europeus e dos EUA não podem ser somente sustentados pela força militar às custas dos últimos.

O encontro tem sido criticado pela maior parte da imprensa dos EUA, fortemente “russofóbica”, como muitos cientistas políticos e economistas da Rússia definem a imprensa ocidental: imagem negativa da Rússia, de seu presidente, das posições russas sobre Coreia do Norte, Crimeia, Irã. Em meio a uma possível guerra comercial entre China e EUA, o encontro realizar-se-á.

Um dos comentários mais contundentes dos EUA veio do ex-militar Ralph Peters: Trump fora “devorado” por Putin. O que se observa é cada um dos lados – chineses, EUA, europeus e russos – recorrendo à geopolítica para a defesa de seus interesses, de sua tecnologia e da influência mundial, e de suas empresas. Em outras palavras: organizam-se para a defesa de sua soberania econômica e política. Possuem elites nacionais com capacidade de compreender o complexo xadrez internacional, a ponto de terem posições definidas.

Se formos observar a recente venda da Embraer para a Boeing, chega-se à conclusão oposta quanto ao empresariado nacional. O pueril argumento de que Embraer não teria condições de concorrer após uma união entre Bombardier e Airbus, a atrasada preocupação em diminuir direitos trabalhistas por meio de uma reforma, como se isso realmente fosse ameaça, não passam de uma razão subalterna, reveladora da indigência econômica e política de empresários incapazes de enxergarem além do próprio nariz.

Um país como o Brasil merecia mais respeito dos ditos empreendedores brasileiros, o que se daria com forte incentivo à pesquisa tecnológica, como diz o art. 219 da Constituição. Ao invés, estes empreendedores apoiam um governo que se encarrega de destruir suas universidades. Uma tragédia a exigir pelo menos 50 anos para sua reversão.


*Martônio Mont'Alverne Barreto Lima é professor titular da Universidade de Fortaleza (Unifor)

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