Rosemberg Cariry – Cine Ceará: Um patrimônio cultural do Ceará

“O Estado do Ceará precisa reconhecer o Cine Ceará como um valioso patrimônio cultural. A sua realização anual, não deveria mais depender apenas de patrocinadores eventuais e cada vez mais difíceis, mas ser assegurada por lei, com dotação própria. Um evento de tal grandeza levou décadas para se consolidar e foi construído com o esforço de centenas de pessoas. O atual boom do cinema cearense muito deve a esse evento”.

Por Rosemberg Cariry*

Rosemberg Cariry

Um festival de cinema não é apenas uma festa, é muito mais. Um filme é sempre projetado na alma e tem uma existência social e imaginária. A tela está dentro de nós, mas reflete o mundo. Um festival de cinema não é apenas um evento oficial, é muito mais. Embora as autoridades sejam citadas e os patrocinadores louvados, embora os prêmios sejam distribuídos e as homenagens prestadas, um festival é, sobretudo, o que se insurge, o que incomoda, o que provoca perguntas inusitadas. Um festival é um exercício da crítica, não a crítica factual e ordinária, mas a crítica que interroga, que expõe, que aponta caminhos possíveis e impossíveis. Um festival é como um microcosmo da sociedade e do tempo histórico em que vivemos, reproduzindo (em laboratório fílmico) muitas das belezas, das dores e das inquietações humanas.

No Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema, nestes seus 28 anos de existência, o que me interessa é mais a busca de compreensão do que a história; é o debate vivo, a parceria que acontece de forma inusitada, é o que permite a ruptura, o que aponta para o futuro e para o novo, ao mesmo tempo em que lança luzes sobre o presente e o passado. O que interessa é como o nosso cinema passou de “pequena produção cinematográfica provinciana” para um dos “mais importantes polos de produção audiovisual do Nordeste’. Importante vitória, que muito deve a ele. O festival cumpriu e continua a cumprir seu papel mais importante: trazer o cinema e as ideias contemporâneas para provocarem os nossos corações e mentes.

O Estado do Ceará precisa reconhecer o Cine Ceará como um valioso patrimônio cultural. A sua realização anual, não deveria mais depender apenas de patrocinadores eventuais e cada vez mais difíceis, mas ser assegurada por lei, com dotação própria. Um evento de tal grandeza levou décadas para se consolidar e foi construído com o esforço de centenas de pessoas. O atual boom do cinema cearense muito deve a esse evento. Por outro lado, quando o Cine Ceará acontece, o Ceará torna-se mais visível na mídia mais importante do Brasil, da América Latina e mesmo de países ibéricos.

*Rosemberg Cariry é cineasta e escritor

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