Política de preço da Petrobras “é antinacional e antiempresarial”

Em entrevista ao Brasil de Fato, o professor de economia da Universidade Federal da Paraíba e integrante do grupo de estudos sobre globalização e crise na economia brasileira, o Progeb, Nelson Rosas, disse que o que existe por trás da política de preços adotada pelo governo Michel Temer e a direção da Petrobras "é o interesse de privatizar" a estatal.

Nelson Rosas - Reprodução

Para ele, a atual crise dos combustíveis atribuída aos impostos é uma lógica errada. O professor diz que é necessária uma revisão completa de todo sistema de impostos do país "porque ele é extremamente conservador, concentrador de renda, prejudica as pessoas que têm menores rendimentos e favorece as que têm mais rendimentos". Mas com relação ao petróleo e ao que está acontecendo, os impostos não têm absolutamente nada a ver com a crise de abastecimento dos combustíveis.

"Esses impostos já existem há muitos anos e nunca provocaram uma crise desse tamanho. Então qual foi o elemento que deflagrou a crise? Não tem nada a ver com impostos e sim com a nova política de preços que a Petrobras tem feito", apontou Nelson Rosas.

Desde que Temer assumiu o poder, após um golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, a Petrobras sob a direção do tucano Pedro Parente, implantou uma nova política de preços alterando a maneira de fazer os cálculos dos custos de produção.

"Qualquer empresário sabe que ao calcular o preço de um produto você leva em consideração quanto custou para produzi-lo. Depois disso, você joga uma taxa sobre esse custo de produção e obtém o preço pelo qual você poderá, ou pretenderá, vender o seu produto. A Petrobras, estranhamente, fez uma coisa que eu chamo de “jaboti”. No cálculo de custo de produção dela, ela enfiou dois “jabotis”. O primeiro foi calcular o custo de produção do petróleo pelos preços internacionais. Ora, não me consta que a Petrobras compre ao governo brasileiro o petróleo por preços do comércio internacional, pois é uma compra feita internamente, em que a Petrobras compra do Estado brasileiro o petróleo, o que não passa pelo mercado internacional", explicou Rosas.

O professor afirma ainda que o segundo “jaboti” é que a Petrobras admite que está comprando ao governo brasileiro o petróleo pelo preço internacional, ou seja, a estatal paga pelo preço em dólar em dólar . Portando, supõe-se que a Petrobras vai pagar em dólar. "Por isso, quando ela quer comprar o petróleo, ela teria de comprar dólar no mercado interno para comprar o petróleo ao governo brasileiro. Ora, todo mundo sabe que as compras feitas dentro das fronteiras do país não são feitas em dólar. É até crime você negociar uma mercadoria dentro de um país com moeda estrangeira. Portanto, esses dois argumentos que a Petrobras estava utilizando para subir o preço do petróleo, aumentado o custo de produção, são absolutamente inválidos", denuncia o professor.

Ele não tem dúvidas de que o interesse por trás da implantação dessa política de preços é a privatização da principal empresa brasileira. Segundo ele, o potencial de refino de petróleo, que atualmente só está utilizado em 70%, pois 30% foi desativado com a intenção de permitir que esses derivados, que não eram mais produzidos aqui dentro, começassem a ser importados.

Ao aumentar os preços internos, a direção da Petrobras dá condições aos importadores de concorrer internamente, porque com os preços que existiam a concorrência era impossível.

"A jogada foi elevar a preços internacionais para que esses amigos importadores pudessem pegar o petróleo, os derivados lá fora, trazer para o Brasil e começar a concorrer. É uma lógica antinacional, antiempresarial; é uma lógica suicida, de você ser obrigado a levantar os preços internos para permitir que o concorrente venha de fora com produto importado e entre no mercado", salientou.

Nelson Rosas lembra que "o grande proprietário da Petrobras continua a ser o Estado", através do Tesouro Nacional e das empresas estatais como BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica e somente um governo legítimo e comprometido com os interesses da nação pode mudar esse ciclo de retrocesso.

"Juntos, são mais de 60% do capital, então o dono é quem manda na empresa, o sócio majoritário, que é a nação. Portanto, a nação é que deve dizer qual deve ser a política que sua empresa deve praticar. O que temos que garantir é que o proprietário, que é o Estado Brasileiro, represente, de fato, os interesses do povo, da nação. Mas, com o governo traidor que temos aí, estamos rumando para um verdadeiro suicídio", completou.