Greve de 72 horas chega ao fim e amplia debate sobre privatização

À meia-noite desta quinta-feira (14) os trabalhadores eletricitários encerram a greve de 72 horas contra a privatização da Eletrobras. De acordo com Fabiana Antezana, diretora do Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal (Stiu-DF), o movimento teve um bom desfecho político. “Sem prejudicar a população, impusemos dificuldades aos planos do governo e conseguimos apoio da sociedade contra a privatização”, declarou a dirigente ao Portal Vermelho.

Por Railídia Carvalho

Eletroacre greve 72 horas - reprodução

O aumento na conta de luz será o primeiro impacto que virá com a privatização da Eletrobras, afirmou ao Brasil de Fato, Emanoel Mendes, diretor do Sindicato dos Eletricitários e da Associação de Empregados da estatal. Segundo ele, estudos da Agência Nacional de Energia Elétrica aponta para um reajuste de aproximadamente 20% na conta de luz.

“Com as usinas, a Eletrobras vende energia para o mercado cativo a R$40 MWh. Se a empresa for privatizada, isso vai para o mercado livre que vai vender a energia para a população a R$200 MWh. Ou seja, vai ter uma diferença aí de 160%. E ai quem vai pagar essa conta? A população brasileira. Vai ao mesmo tempo aumentar o preço da energia e precarizar o serviço para a população”, explicou Emanoel.

Fora Wilson Pinto

A saída do presidente da Eletrobras, Wilson Pinto, foi outra reivindicação da greve. Defensor da privatização da empresa, o gestor tem contribuído para desgastar a imagem da empresa no mercado, afirmam sindicalistas. Há cerca de um ano, Wilson Pinto se dirigiu aos trabalhadores da Eletrobras como “vagabundos” e “safados”.

“Nada vai apagar da memória dos trabalhadores as suas frases ofensivas, como dizer que to¬dos são vagabundos, ou mesmo contratar uma empresa de comunicação para desqualificar a Eletrobras. Ou seja, são atos de quem não tem a mínima condição de ser presidente da maior empresa de energia da América Latina”, afirma trecho de nota publicada no site da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU).

Emanoel enfatizou que o presidente da Eletrobras mente ao afirmar que a Eletrobras é ineficiente. “É uma mentira deslavada. A Eletrobras hoje controla quase 1/3 da geração de energia elétrica desse país e não faltou energia nesses últimos anos para a sociedade brasileira. Muito pelo contrário. Todo o investimento que foi feito em geração e transmissão a Eletrobras estava fazendo sozinha ou em parceria com o setor privado”.

Greve sem prejuízos à população

A greve começou na segunda-feira (11), data do aniversário de criação da Eletrobras. Eletricitários de Alagoas e Brasília confeccionaram bolo com as inscrições Eletrobras Pública e Fora Wilson Pinto.

Mesmo após declarar a greve legal, o Tribunal Superior Eleitoral (TST) ameaçou multar as entidades sindicais pela ausência do registro de presença de trabalhadores. De acordo com a FNU, a Eletrobras reteve as relações de presença de efetivo durante a greve. O tribunal determinou o funcionamento de 75% dos trabalhadores na área de manutenção, o que foi cumprido pelos trabalhadores.

A preço de banana

O governo de Michel Temer espera arrecadar 12,2 bilhões com a venda da Eletrobras. Só de ativos a empresa acumula 170 bilhões de reais. Em audiência pública realizada nesta quarta-feira (13) na Câmara dos Deputados, sindicalistas e parlamentares denunciaram a pressa do governo em se desfazer de uma empresa que é a maior do setor energético na América Latina.

"O processo está açodado, esse processo não está bem explicado, e mais, trará prejuízos inestimáveis para a região amazônica. É necessário arranjar uma saída estrutural, que garanta para o povo energia de qualidade e modicidade tarifária, porque não temos isso hoje, e que garanta também uma boa prestação de serviços. Se privatizar na Amazônia hoje, em menos de quatro anos eles devolvem a concessão, pode ter plena certeza. Energia não é mercadoria, sobretudo na Amazônia. Energia na Amazônia é para ocupar e desenvolver uma região estratégica do País", afirmou Edney Martins, presidente do Sindicato dos Urbanitários do Amazonas.

Alternativa à privatização

Nesta quarta em nova ofensiva do governo, pode entrar em votação regime de urgência para o Projeto de Lei 10332/2018, que facilita a privatização das distribuidoras da eletrobras. Em nota no portal da FNU, os urbanitários reafirmaram que não fazem concessões que prejudiquem a sociedade brasileira e os trabalhadores.

“O Coletivo Nacional dos Urbanitários (CNE) tentou convencer Rodrigo Maia da possibilidade de criar uma Empresa Nacional de Distribuição, que congregaria todas as distribuidoras da Eletrobras, além disso formularam proposta que prevê repasse de recursos de Tucurui para fomentar a viabilidade das diatribuidoras, alternativa que foi rechaçada pelo Deputado Aleluia, que entende não dever misturar as receitas”, diz nota da federação.

A proposta de criação da empresa nacional de distribuição está contida no substitutivo do Deputado Leonardo Quintão (MDB-MG), vice-líder do governo no Congresso Nacional e crítico da privatização da Eletrobras.