Cartola FC: futebol neoliberal

Nos últimos anos, temos visto o avanço de políticas e governos ultraliberais mundo afora atuando com firmeza nas relações de classe, influenciando a política, a economia e também a cultura de diversos países.

Por Guilherme Travassos*

Cartola FC - Divulgação

A cultura de países imperialistas vai se expandindo para outros continentes através de uma política comercial forte, tornando os países periféricos verdadeiras colônias, completamente dependentes em todas as esferas. Vide a expansão das ligas americanas de basquete e futebol americano, assim como da dominação que a UEFA Champions League e os clubes europeus exercem aqui no Brasil.

No futebol, o impacto do neoliberalismo é claro. A relação de torcida e clube vai mudando a cada dia, os projetos de sócios – torcedores vão avançando numa lógica de consumo, os estádios e as transmissões de TV dialogam hoje muito mais com a postura do expectador do que com o torcedor de fato. Falando do Brasil especificamente, temos aqui uma enorme lista de ações que deram essa cara neoliberal ao nosso futebol. Vamos falar agora especificamente de uma: O Cartola FC.

O Cartola FC é uma liga online inspirada em jogos similares de ligas de outros esportes americanas, onde o usuário escolhe e pontua através de jogadores, não através de times, criando assim, uma lógica de se torcer e acompanhar jogadores individualmente e não times. Onde quero chegar com Isso? Que o cartola estimula o esfriamento da cultura torcedora e fortalece a lógica do expectador, consumidor do espetáculo. Afinal, se torce para um “bom Futebol”, por pontos individuais no cartola e um pouco menos para seu clube.

Ok, o cartola não é decisivo nisso e o fanatismo ainda existe, mas ele não atua sozinho, atua junto com ingressos caros, Pay Per View, torcida única e ou torcida mista em clássicos, proibição de torcidas e um crescente movimento de expansão comercial das marcas que os clubes estão se tornando, somando isso com o modelo expectador e cada vez mais burguês dos frequentadores de arena de hoje em dia e temos torcidas hoje aplaudindo renda, debatendo finanças, venda do clube para empresários, apoiando arenas entre outras anomalias que só o neoliberalismo produz.

O processo empresarial da gestão do futebol avança a cada dia, em diversos clubes a solução para a gestão política e econômica não é debatida através de seus sócios, torcedores e funcionários, não se debatem saídas coletivas nem através do debate político, e sim através de gestores, empresários “salvadores da pátria”, bem semelhantes a postura de Doria, e outros representantes do setor empresarial na macro-política. No futebol, estes aparecem com um discurso de saúde financeira, ataque às torcidas organizadas, novas arenas, apresentam-se como uma saída viável à diretorias ultrapassadas, antíquadas e conhecidas por sua gestão amadora e corrupta, mas logo mostram sua verdadeira face, o lucro, a venda de jovens talentos para fora do país, um esporte elitizado e um futebol mecânico, nada popular, subserviente do mercado internacional, buscando assim novas formas de se fazer dinheiro.

Precisamos urgentemente de projetos de gestão responsáveis, populares, que estejam a altura de seus respectivos clubes e torcidas, que fortaleçam o mercado, as ligas e clubes nacionais, tornando o futebol brasileiro soberano do jeito que ele sempre deveria ser, enraizado na vida das pessoas como nunca deveria deixar de ter sido, com maior participação das pessoas, sócios com direito a voto, preços populares, festas nos estádios, camisas oficiais a valores acessíveis e principalmente presente no cotidiano de nosso povo, cumprindo um papel social e cultural que ele sempre deveria ter cumprido, que é o de representar verdadeiramente nosso povo, nossa cultura, mudar vida das pessoas em diversos aspectos, oferecer representatividade, emprego, cultura e principalmente orgulho para o povo brasileiro.