Manifestações no Reino Unido comemoram cem anos do voto feminino

Milhares de mulheres vão às ruas em várias cidades britânicas em homenagem às sufragistas, que durante décadas lutaram pela participação feminina nas urnas

manifestação comemorativa do voto feminino no Reino Unido - DW

Milhares de mulheres saíram às ruas em várias cidades do Reino Unido no domingo (10) para celebrar o centenário da lei que deu às primeiras mulheres o direito ao voto no país. As manifestantes aproveitaram a ocasião para reivindicar a plena igualdade de direitos.

As capitais das quatro nações britânicas, Londres, Edimburgo, Cardiff e Belfast, sediaram marchas simultâneas, nas quais as participantes carregavam lenços nas cores verde, branca ou violeta – que representam o movimento sufragista –, formando um grande mosaico tricolor.

Os atos deste domingo – um misto de desfile artístico com manifestação – foram organizados pelo grupo de arte Artichoke, especializado em grandes eventos colaborativos.

Antes das marchas, a organização pediu a cem artistas e grupos de mulheres que criassem faixas inspiradas nos clássicos e arrojados slogans das sufragistas, que lideraram décadas de protestos e desobediência civil para conquistar o direito ao voto feminino.

A organização Brownie packs and arts groups, para mulheres ex-presidiárias, e a associação de estofadoras Worshipful Company of Upholders foram alguns dos grupos que criaram banners para as manifestações.

As principais ruas das capitais britânicas se encheram de mulheres de todas as idades que levavam uma grande variedade de cartazes, com mensagens como: "Mulheres empoderadas", "Mulheres unidas mudarão o mundo" e "Poder feminino".

Também foram vistas faixas com a frase "No entanto, ela persistiu", que se tornou um bordão do movimento feminista no ano passado depois de a senadora americana Elizabeth Warren ter sido silenciada durante um debate.

"O objetivo é relembrar a luta que as sufragistas empreenderam para conseguir algo que agora parece normal, mas que foi uma ideia revolucionária em sua época", afirmou Amy McNeese-Mechan, coordenadora de cultura da prefeitura de Edimburgo.


A diretora do grupo Artichoke, Helen Marriage, disse ter se surpreendido com o alcance das manifestações. "Uma loja de artesanato em Londres nos disse que ficou sem tecidos nas cores roxa e verde, e eles não sabiam o porquê", contou a ativista.

Centenário do voto feminino

Em 1918, em plena Primeira Guerra Mundial, o Parlamento britânico aprovou uma lei que dava a mulheres acima de 30 anos e com um determinado patrimônio o direito de participar de eleições – na época, isso representava oito milhões de mulheres.

Somente dez anos depois, em 1928, o direito ao voto feminino foi igualado ao dos homens, e elas passaram a poder votar com 21 anos, independentemente do patrimônio.

Durante décadas, as mulheres lutaram em vão pelo direito ao voto e, no Reino Unido, essa luta foi a mais ferrenha entre todos os países da Europa, graças ao movimento sufragista.

Após anos de campanhas pacíficas, as ativistas recorreram a táticas mais violentas, chegando ao ponto de transgredir as leis para conquistar o direito de ir às urnas, incluindo se acorrentar a grades, quebrar vitrines e explodir caixas de correio.

Em abril deste ano, como parte das comemorações do centenário do voto feminino, uma estátua da líder sufragista Millicent Fawcett foi inaugurada em Londres, sendo o primeiro monumento em homenagem a uma mulher na Praça do Parlamento que, até então, tinha 11 estátuas de homens.

A líder feminista foi a fundadora da União Nacional pelo Sufrágio Feminino. Em 1866, ela recolheu assinaturas para a primeira petição exigindo a extensão do direito ao voto às mulheres.

Marriage, do grupo Artichoke, exaltou a memória das ativistas do sufrágio. "Elas foram pessoas realmente extraordinárias. Centenas delas foram mandadas à prisão. Elas foram alimentadas à força na cadeia. Nos termos de hoje, elas seriam descritas como terroristas", afirmou.

A ativista acrescentou que, embora o clima neste domingo seja de comemoração, as marchas pretendem também chamar a atenção para o tanto que ainda há a ser feito para alcançar a plena igualdade de direitos entre homens e mulheres, em temas como a disparidade salarial e o assédio sexual em locais de trabalho.

Em outros países, as mulheres precisaram lutar durante muitas décadas para finalmente ter o direito de votar. Na Suíça, por exemplo, a luta pelo sufrágio feminino durou até 1971. Na Arábia Saudita, as mulheres votaram pela primeira vez em 2015, mas apenas para escolher câmaras municipais com poucas atribuições. No Brasil, o sufrágio feminino foi aprovado nos anos 1930.