Após difícil negociação do G7, Trump diz que irá retirar EUA do acordo

Trump ficou irritado com comentários do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, anfitrião do evento, feitos numa coletiva de imprensa já no fim do encontro do G7, na qual Trudeau criticou as tarifas impostas pelos EUA contra o aço e o alumínio importados. Através de um tweet, Trump disse que retiraria o apoio dos Estados Unidos da declaração final colocada no encontro 

G7 2018

A cúpula do G7 terminou em chamas neste sábado no Canadá. O grupo de países mais industrializados do mundo anunciou que tinha acordado em comunicado conjunto tratar de evitar uma escalada protecionista, depois de dois dias de reuniões muito difíceis pelo giro isolacionista dos Estados Unidos. A tensão estourou pouco depois. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, criticou a política de Trump em sua coletiva de imprensa de fechamento e o presidente norte-americano respondeu pouco depois: pelo twitter, retirou o apoio dos Estados Unidos da declaração final.

"Com base nas declarações falsas de Justin em sua entrevista coletiva e no fato de que o Canadá está cobrando tarifas pesadas dos nossos fazendeiros, trabalhadores e empresas dos Estados Unidos, eu instruí nossos representantes a não endossarem o comunicado enquanto examinamos as tarifas sobre automóveis que inundam o mercado dos EUA!", escreveu o presidente, retirando o apoio ao documento que tinha sido arduamente negociado pelos líderes do G7.

O G7 inclui o Canadá, a França, a Alemanha, a Itália, o Japão, o Reino Unido e os Estados Unidos. O grupo costumava ser chamado de G8 antes de a adesão da Rússia ser suspensa em 2014, após a eclosão da crise ucraniana.

Na coletiva de imprensa de fechamento, Trudeau considerou "um sucesso" as conversas "francas" entre os países, mas seu enfado era evidente: "Os canadenses somos amáveis e razoáveis, mas não nos vão avassalar", enfatizou. De novo, qualificou como "insultante" que Washington use o argumento da segurança nacional para subir as tarifas de seus produtos, tendo em conta, ressaltou, que soldados de ambos países "lutaram ombro a ombro em terras longínquas em conflito desde a primeira guerra mundial".

Durante o encontro do G7

“Somos o cofrinho de que todo mundo rouba”, declarou Trump à imprensa. Contra prognóstico, EUA, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão foram capazes de acordar um comunicado em que concordam em reduzir impostos, de forma genérica, e se comprometem a modernizar a Organização Mundial do Comércio (OMC), organismo que os Estados Unidos ajudaram a criar em 1995, mas que a nova ordem de Washington critica com dureza.

Trump declarou a guerra ao déficit comercial. Os EUA, a primeira potência econômica mundial, importam de outros países muito mais do que exportam, e este desequilíbrio, que somou 556 bilhões de dólares (472,5 bilhões de euros) no ano passado, foi sua fixação desde que começou sua caminhada para a Casa Branca. Ele o atribui a acordos comerciais injustos e lhe culpa pela perda de pujança fabril da economia. Neste contexto, ativou em junho uns tarifas ao aço (25%) e ao alumínio (10%) procedente do Canadá, México e a UE. Os afetados responderam com represálias equivalentes, alimentando uma escalada de tensão diplomática que marcou esta cúpula.

Os líderes do G7 chegaram ao fim da cúpula assinando um documento enfatizando a importância do livre comércio e a necessidade de modernizar a Organização Mundial do Comércio para torná-la mais justa. Também firmaram acordo em relação à promoção da igualdade de gênero, proteção dos oceanos e das democracias – contra interferências externas.

Desde que chegou ao poder em 2017, Trump tem se afastado de parceiros tradicionais dos Estados Unidos, com decisões como a retirada do Acordo do Clima de Paris, tratado firmado em 2015 para reduzir a emissão de dióxido de carbono a partir de 2020, ou a imposição de tarifas sobre produtos importados pelos EUA.

Em entrevista para a BBC, Christopher Meyer, diplomata que foi embaixador do Reino Unido nos EUA entre 1997 e 2003, observou que Trump não é entusiasta de acordos em bloco. "Sabemos que ele odeia reuniões multilaterais e prefere negociações bilaterais".

Reações

Os líderes europeus criticaram duramente a medida de Trump, chamando-a de "infantil" e "desanimadora". "Em uma questão de segundos, você pode destruir tudo com alguns caracteres no Twitter", disse o ministro alemão Heiko Maas. 

"A cooperação internacional não pode depender da raiva ou de pequenas palavras. Vamos ser sérios e dignos de nosso povo", infomrou o governo francês, em comunicado neste domingo (10). "Nós passamos dois dias trabalhando num acordo. Qualquer um que deixe isso para trás mostra incoerência", terminou, segundo informa a Folha de São Paulo. 

“Retirar [o apoio ao comunicado final da cimeira], por assim dizer, através do Twitter, é obviamente… desanimador e um pouco deprimente”, disse Angela Merkel, a chanceler alemã. Merkel declarou ainda que a União Europeia vai implementar medidas retaliatórias face às tarifas norte-americanas sobre as importações de aço e alumínio.

Para os assessores de Trump, a resposta do presidente foi um gesto de força. "Ele não vai deixar que o primeiro-ministro canadense o intimide", afimrou o conselheiro econômico norte-americano, Larry Kudlow. Sua reação pode ter sido uma mensagem ao líder da Coreia Popular, Kim Jong-un, de que não haverá acordo sem que haja a desnuclearização; ou, em outras palavras, que no final são os EUA que querem decidir, independente de negociações.