Subsidiar diesel importado não é racional, afirmam economistas da UFRJ

Manifesto assinado por 22 professores do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) afirma que a política de preços dos combustíveis alinhados ao mercado internacional prejudica o Brasil e visa aumentar os ganhos dos acionistas da Petrobras. Os economistas consideram irracional a ideia do governo Temer de conceder subsídio para importação de óleo diesel e afirmam que o objetivo é absorver a capacidade ociosa dos concorrentes do Brasil no mercado de petróleo.

O presidente da Petrobras, Pedro Parente - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O documento divulgado nesta quarta-feira (30) reúne, de forma inédita até então, uma grande quantidade professores de diferentes linhas de pensamento do Instituto de Economia da UFRJ, mas unidos em condenar a política de preços dos combustíveis instituída pela direção da Petrobras. Para eles, a política de preços negligencia “os efeitos danosos da volatilidade no preço do petróleo para a atividade econômica” e não considera os custos de produção da própria Petrobras. O documento é enfático ao afirmar que “a crise provocada pela reação dos caminhoneiros a essa política é fruto desse grave equívoco”.

Segundo os professores da UFRJ é indispensável rever a política para que a crise seja superada. Porém, o governo decidiu preservá-la e ainda vai subsidiar o óleo diesel a um custo anual de R$ 3 bilhões. Para o governo, é necessária para preservar a competitividade do diesel importado, o que é, para os subscritores do documento, algo irracional.

Ao final, o documento afirma que a “Petrobras foi criada para garantir o suprimento doméstico de combustíveis com preços racionais. Não é razoável que o presidente da Petrobras declare que o petróleo produzido no Brasil é rentável a US$ 35 dólares/barril e proponha oferta-lo aos brasileiros a US$ 70/barril”.



Leia a íntegra do manifesto:



Subsídios para o Diesel Importado?

Recentemente, o conselho de administração da Petrobras, negligenciando os efeitos danosos da volatilidade no preço do petróleo para a atividade econômica, decidiu manter os preços dos combustíveis alinhados com os preços dos derivados no mercado internacional, independentemente dos custos de produção da companhia. Com essa política, a empresa passou a repassar os riscos econômicos da volatilidade dos preços para os consumidores com o objetivo de aumentar os dividendos de seus acionistas. A crise provocada pela reação dos caminhoneiros a essa política é fruto desse grave equívoco.

Para superar essa crise, é indispensável rever essa política. No entanto, o governo decidiu preservá-la, propondo um subsídio para o diesel com reajustes mensais no seu preço. O governo estima que essas medidas custarão R$ 13 bilhões aos cofres públicos até o final do ano, dos quais mais de R$ 3 bilhões serão gastos para subsidiar o diesel importado O ministro Guardia justificou essa medida econômica heterodoxa como necessária para preservar a competitividade do diesel importado.

O Brasil importou 25,4 milhões de barris de gasolina e 82,2 milhões de barris de diesel no ano passado, porém exportou 328,2 milhões de barris de petróleo bruto. Na prática, esse petróleo foi refinado no exterior para atender o mercado doméstico, deixando nossas refinarias ociosas (31,9%) em março de 2018. Nesse processo, os brasileiros pagaram os custos da ociosidade das refinarias da Petrobras e aproximadamente US$ 730 milhões anuais pelo refino de seu óleo no exterior. Não é racional que o Brasil subsidie diesel importado para absorver a capacidade ociosa de concorrentes comerciais.

A Petrobras foi criada para garantir o suprimento doméstico de combustíveis com preços racionais. Não é razoável que o presidente da Petrobras declare que o petróleo produzido no Brasil é rentável a US$ 35 dólares/barril e proponha oferta-lo aos brasileiros a US$ 70/barril.

Professores do Instituto de Economia da UFRJ:

Adilson de Oliveira

Ary Barradas

Carlos Frederico Leão Rocha

David Kupfer

Denise Lobato Gentil

Eduardo Costa Pinto

Fernando Carlos

Isabela Nogueira

João Saboia

João Sicsu

José Eduardo Cassiolato

José Luís Fiori

Karla Inez Leitão Lundgren

Lena Lavinas

Lucia Kubrusly

Luiz Carlos Prado

Luiz Martins

Marcelo Gerson Pessoa de Matos

René Carvalho

Ronaldo Bicalho

Victor Prochnik