O encontro entre Angela Merkel e Putin

Angela Merkel e Vladimir Putin se encontraram na sexta-feira (18), na residência presidencial russa em Sochi. Entre os temas principais estiveram a continuidade do acordo nuclear com o Irã, rompido unilateralmente pelos EUA, a passagem do gás russo por dutos que passam pela Ucrânia e uma revisão do acordo de Minsk (que pôs fim à guerra da Ucrânia em 2014), além da guerra na Síria

Merkel e Putin

As relações entre Rússia e Alemanha estavam um tanto quanto frias. Seja pela anexação da Criméia efetuada por Putin (território reivindicado pelos russos há tempos), seja pela presença russa na Guerra da Síria a pedido do governo de Bashar al-Assad para ajudar a enfrentar o terrorismo (o que, claro, vem expandindo a influência russa na região, sendo que Putin possui bons laços com o Irã e a Síria), e também pelas retaliações da Alemanha contra a Rússia após o envenenamento do ex-espião Skripal, que apesar das acusações do Reino Unido contra Moscou, nada foi provado. 

A Alemanha era, até a eleição de Trump, uma aliada fiel dos Estados Unidos em relação à geopolítica mundial. Agora, o país de Merkel se afasta dos EUA (que vêm se afastando de todos), deixando um espaço que pode ser ocupado pela França de Macron. A Rússia, junto com a China e com o Irã, parecem ser novos expoentes da geopolítica mundial.

Além disso, como explica o jornal alemão DW, a Alemanha não desempenhou um papel político internacional importante por quase um ano, devido a campanha eleitoral e a difícil formação de um novo governo Berlim, consideradas causas mais importantes.

Mas na sexta-feira (18) Merkel negociou diretamente com Moscou. Ambos os líderes defenderam o projeto do gasoduto Nord Stream 2, que enviará gás da Rússia diretamente para a Alemanha, passando sob o Mar Báltico. O governo alemão está sob pressão dos Estados Unidos para desistir do projeto, que tem previsão de ser inaugurado em 2019. Washington se opõe ao gasoduto porque ele contornaria a Ucrânia — hoje a principal rota do gás russo para o Ocidente e que tem um governo alinhado aos Estados Unidos. Os americanos também estariam interessados em vender gás liquefeito aos europeus, ocupando um mercado em que a Rússia tem o maior destaque. 

"Ele [Trump] está promovendo os interesses do seu negócio, que é garantir as vendas de gás liquefeito para o mercado europeu. Mas isso dependerá de nós, de como construímos as relações com nossos parceiros, dependerá de nossos parceiros na Europa. Acreditamos que o gasoduto será benéfico para nós, e lutaremos por ele", declarou Putin, citado pelo Globo.

Aparentemente, Putin concorda em continuar a deixar o gás russo ser transportado por meio de dutos que passam pela Ucrânia mesmo após a conclusão de uma nova linha do gasoduto Nord Stream, que vai passar no fundo do mar Báltico; isso representa sua disposição de negociar com a Ucrânia, que continuaria a lucrar com o negócio.

Em relação ao acordo com o Irã, tanto a Alemanha quanto a Rússia pretendem preserva-lo, independente da decisão unilateral dos Estados Unidos (pressionado por Israel) em deixar o pacto. Os EUA disseram que retomariam as sanções contra o Irã, o que recairá também sobre as empresas européias que continuarem suas relações comerciais com o país do Oriente Médio. A saída dos EUA do acordo com o Irã acabou por reaproximar os europeus e os russos, enquanto que os norte-americanos se isolaram mais.