Temer explica rejeição: “As pessoas não vão com a minha cara”

Em entrevista ao jornal Correio Braziliense publicada nesta sexta-feira (18), Michel Temer classificou a conversa que foi gravada com o empresário Joesley Batista — em que endossa o pagamento em troca do silêncio de Eduardo Cunha, entre outras declarações – de um “embaraço do dia 17 de maio” do ano passado e que o erro não estava nas suas declarações, mas em gravar a conversa.

temer - Rafaela Felicciano/Metrópoles

“O erro foi ele gravar. Recebi inúmeras pessoas no Jaburu e não colocava na agenda. Foi um descuido meu, mas não que tenha sido um gesto criminoso, absolutamente não”, disse o ilegítimo.

Em seguida, Temer diz que marcou o encontro com Joesley, assim como fez com outras pessoas. "Se todos gravassem… Sei lá."

Temer disse também que não consegue entender os altos índices de impopularidade, que chegou a 87% em algumas pesquisas, sendo apenas 4,3% de aprovação. “Se vocês colocarem entre aspas, acho que as pessoas não vão com a minha cara”, admite. Ao perceber que cometeu um deslize, ele emenda: “Reconheço esta impopularidade derivada de uma campanha que é feita contra mim”.

Num caso que só Freud explica, Temer conta que sempre foi impopular. "Não sei, não consigo entender bem o porquê. Talvez porque eu não seja um sujeito de gestos populistas. Desde a época da faculdade, da procuradoria", lamenta.

Apesar disso, ele afirma que o problema não é ele, mas o povo e que nos EUA as pessoas são mais educadas. "O que falta ao Brasil, é educação cívica, uma certa liturgia, uma certa cerimônia entre as pessoas. Porque hoje o desapreço e o desprezo pela autoridade são muito grandes. Isso é ruim, nos EUA você não chama ninguém pelo primeiro nome, é Mr. Trump, Mr. Clinton", declarou

Delirante, Temer disse que quer ser julgado pela história "como alguém que passou por aqui, colocou o Brasil nos trilhos, permitiu uma sequência governamental". Sua gestão é considerada como um retrocesso que gerou 13,7 milhões de desempregados, cortou investimentos sociais e implantou reformas que retiram direitos. Na entrevista, Temer disse que lamenta não ter conseguido aprovar a reforma da Previdência, mas diz que conseguiu manter a ordem democrática citando como exemplo a intervenção militar no Rio de Janeiro.

Temer afirmou que o programa “Ponte para o futuro”, que foi lançado pouco antes do golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, foi para "conciliar com o governo".

"Não fui eleito diretamente, como cabeça de chapa, fui eleito indiretamente como vice. Mas concluí um programa, e tive coragem de concluir", disse Temer. Porém, o programa aplicado é completamente diferente do que foi aprovado pelas urnas em 2014. "Quando assumimos, cumprimos quase tudo aquilo que está no projeto. Agora, lançaremos outro, “encontro com o futuro”, informou.

Questionado se é candidato a presidente, como chegou a cogitar, Temer diz que "ainda estou meditando". Acredita que no fim de junho a direita terá um candidato para chamar de seu, mas que por enquanto o que tem é "um grande vácuo".

"Todos querem e acham que podem chegar lá", disse. Endossando a campanha em nos dos candidatos apolíticos, Temer afirmou que para ele não existe mais esquerda ou direita. "Sou contra os rótulos, né? Esse negócio de esquerda, direita, isso não existe mais. O que o povo quer é uma política de resultado, se ele vem de quem é de esquerda, direita, centro, não importa", emendou.

Contrariando a sua própria lógica, afirmou em seguida que "seria extremamente útil que tivéssemos um candidato de extrema esquerda, extrema direita e de centro". Temer e os partidos aliados,como PSDB e DEM, tem adotado a linha de dizer que eles são a opção de centro.

Nessa linha, segundo Temer, as pesquisas indicariam que o segundo turno seria Bolsonaro e o Ciro ou Marina. Portando, de acordo com a sua tese, o povo deverá escolher o candidato indicado por ele, pois este seria o centro.

Ele admitiu que se os partidos de direita não criarem um palaque unificado, a derrota é certa. "Se no chamado centro tivermos oito, nove candidatos, ninguém vai chegar lá.

Temer reconhece que há uma forte rejeição à classe política, mas disse que a "renovação do Congresso", no entanto, "não será muito grande".

"Por uma razão singela: não tem dinheiro na praça. São aqueles nomes mais conhecidos, que já percorreram municípios", analisou. questionado se o que vi prevalecer é a velha política, Temer respondeu: "Tenho a impressão de que é isso que vai acontecer".