Mercado pressiona e Temer desiste de eleição para atuar por Meirelles

A pressão do mercado financeiro por uma definição por parte da direita de um nome que consiga decolar nas eleições começou a produzir efeito. Michel Temer, como era esperado, desistiu de ser candidato a presidente e vai concentrar esforços para emplacar o nome do seu ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.

meirelles em ato de filiação ao MDB

De acordo com relatório produzido por grandes bancos internacionais e investidores estrangeiros, a incerteza eleitoral brasileira e a “estagnação” de presidenciáveis da direita estava deixando o rentismo preocupado.

A candidatura de Temer era apenas para marcar posição e tentar cavar um espaço para o PMDB no leque de alianças que a direita tenta construir para o pleito de outubro.

Com uma impopularidade recorde, o nome de Temer era rejeitado até mesmo entre os seus correligionários. Representantes de diretórios regionais da legenda criticavam a proposta de candidatura e apresentaram uma série de dificuldades políticas ante a possibilidade de terem que sustentar uma candidatura de Temer nos estados.

A preocupação era também porque, sem financiamento empresarial, a sigla teria que usar os recursos próprios para bancar o projeto, o que prejudicaria a distribuição de dinheiro para campanhas de parlamentares e de governadores país afora. Sem uma bancada numerosa, a cúpula de Temer perderia força.

Dando um sinal de que entendeu o puxão de orelha do mercado, o presidente do MDB, o senador Romero Jucá (RR), disse em entrevista ao Estadão que o principal objetivo é eleger “a maior bancada da Câmara e do Senado” e que as conversas com PSDB e PRB em busca de uma aliança já começaram.

“O MDB não ter candidato em prol de uma convergência está na mesa”, disse. “Temer está dizendo com todas a letras que não é empecilho. Se tiver um nome melhor do que o dele, que possa firmar, ele diz: ‘Retiro a candidatura’. Meirelles também não é empecilho, mas quer estar no jogo para ser avaliado”, completou Jucá, enfatizando que a legenda vai “ajudar a construir um entendimento se for uma candidatura mais viável”.

Contraditório, Jucá afirma que o fato de Meirelles ter apenas 1% das intenções de voto nas pesquisas é porque as eleições não começaram. Depois usa o argumento do mercado financeiro para dizer que o pré-candidato tucano Geraldo Alckmin é um “recall” de eleições para a Presidência.

“Você vê, Alckmin é o que tem maior índice [entre os candidatos de centro], mas está estacionado. Ele é um ‘recall’ de eleições para Presidência, foi governador quatro vezes, mas é importante que ele demonstre capacidade de vitória, de passar para as pessoas a condição de dar estabilidade”, disse Jucá, enfatizando que é preciso “discutir o que está nesse jogo”.

O que está em jogo é a quinta derrota consecutiva da direita, que só conseguiu chegar ao poder depois de um golpe dado contra o mandato da presidenta eleita Dilma Rousseff.

Jucá acredita que o PMDB “está evoluindo”, pois a sigla tem “outra prática política”. De acordo com ele, o “jogo” será entre os partidos da direita – que ele chama de “centro” – que já estão na disputa, não acreditando que virá um novo nome para o páreo.

“Acho difícil. O jogo já está jogado. Entre os partidos de centro, temos que achar um nome que tenha condição de fazer duas coisas: capacidade de repassar à sociedade preceitos dessa corrente e mostrar que pode ganhar eleição. Se for para o 2º turno, já ganhou eleição”, diz.

Em novembro do ano passado, ao anunciar que o PMDB lançaria candidato, Jucá afirmou que a condição era defender o “legado” de Michel Temer.

“Todos os partidos da base vão defender? Isso o PSDB é que vai ter que decidir. Se não tiver ninguém para fazer essa defesa, o PMDB não vai ficar órfão da defesa desse legado. O PMDB vai lançar um candidato a presidente da República para fazer a defesa desse legado”, disse na época.

Agora, ao ser questionado se o candidato ideal deveria defender o governo de Temer, o senador disse: “Não estamos discutindo a defesa do presidente. O presidente, se não for candidato, não estará na eleição. Estamos discutindo as ações do governo. Queremos inflação abaixo da meta e taxa de juros mais baixa? Queremos crescimento econômico e responsabilidade fiscal? Queremos que reformas desonerem o contribuinte? Quem for candidato de centro vai defender esses preceitos. Não é que vai no palanque elogiar Michel Temer”.