A perspectiva de estudantes do ensino público e o governo Alckmin

Ao subir e descer pelas escadas, o barulho é ensurdecedor. No verão, o calor é infernal, as salas parecem fornalhas; no inverno, o frio é cortante, as salas são como enormes congeladores. Quem se senta no fundo, não ouve o que o professor diz diante do quadro negro. Se chove, só se escuta o barulho da chuva.

Por Emerson Santos*

Educação Arquivo Google

Esse é o cenário das salas de aulas improvisadas em contêineres de estruturas metálicas, num padrão condenável para esse fim. Trata-se das conhecidas escolas de lata ou latão e oficialmente chamada padrão Nakamura pelo governo estadual.

No estado mais rico do País, é inacreditável que significativo número de estudantes ainda esteja submetido a essas inadequadas e horríveis condições de estudo. Pois bem, aqui está o exemplo mais poderoso da nefasta política educacional dos governos tucanos, em especial os de Geraldo Alckmin, que fechou os olhos para essa cruel realidade.

As escolas mantidas pelo governo Alckmin vêm piorando nos últimos anos. Essa é a opinião da maioria da população (75%) ouvida pelo Instituto de Pesquisas Locomotiva, em levantamento encomendado pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial no Estado de São Paulo (Apeoesp), para avaliar a percepção da qualidade da educação nas escolas estaduais de São Paulo. A avaliação é compartilhada por grande parte dos professores entrevistados (75%), dos pais (60%) e dos estudantes (58%).

Professores desmotivados e não preparados, estruturas precárias, conteúdos que não dialogam entre si e com a realidade, falta de bibliotecas e laboratórios para a aplicação do conhecimento teórico, pouco ou nenhuma tecnologia e espaços para o desenvolvimento das potencialidades, habilidades e talentos dos estudante, falta de democracia, entre outros problemas, fazem parte de um política de total sucateamento da educação pública. Ao longo dos anos, essa política vem destruindo a qualidade do ensino e ceifando as perspectivas e sonhos de nossa juventude, uma vez que a escola se afasta cada vez mais de seu papel no desenvolvimento do ser humano, de sua cidadania e preparo para a vida profissional e/ou acadêmica. Situação essa que contribui para os números alarmantes de evasão escolar no ensino médio, que chegam a alcançar 11% do total de alunos, conforme apontam dados do Censo de 2017.

A falta de identidade dos estudantes com uma escola que parou no tempo aprofunda o desinteresse, diminui a participação dos pais na vida escolar de seus filhos e cria condições para uma cultura de autoritarismo e violência, presentes com mais força nas escolas de regiões mais vulneráveis. É um quadro que confirma a falta de interesse em construir políticas públicas para quem mais precisa. O modelo de escola não facilita o aprendizado e aprender torna-se um fardo. Basta percebermos o fracasso da progressão continuada da maneira como é aplicada hoje, a qual, em pesquisa, 33% dos pais afirmam que seus filhos já passaram de ano mesmo sem ter aprendido a matéria. A mesma resposta foi dada por 44% dos estudantes.

Em novembro do ano passado, Alckmin deu mais uma demonstração do não interesse em assegurar o direito constitucional dos estudantes a um ensino de qualidade. Ao despender até R$ 17,8 milhões com o Contrato de Impacto Social, para remunerar organizações privadas sob o argumento de melhorar a qualidade e combater a evasão escolar, o governo abre mão de sua responsabilidade na tentativa de iniciar uma onda de privatizações e jogar a educação em um balcão de negócios na disputa de quem lucra mais. Enquanto isso, o governo mantém congelados os salários dos professores, aprova o PL 920 (que limita investimentos em educação e saúde) e as escolas continuam abandonadas.

Estar hoje na sala de aula é resistir cotidianamente. É preciso construir uma escola para o nosso tempo, preparada para formar uma nova geração de meninos e meninas capazes de desenhar rumos do progresso da humanidade e desenvolvimento no estudo – o futuro da Nação. Num movimento histórico de defesa de nossas escolas, derrotamos Alckmin, ao impedir o projeto de reorganização escolar, instalando uma CPI para cassar os ladrões da merenda. Com as ocupações das escolas e da Alesp, provamos à sociedade que essa nova escola é possível. Um passo fundamental é combater os inimigos da educação.