Crise do neoliberalismo bomba cursos de economia heterodoxos

Falta de resposta do neoliberalismo aos problemas que ele mesmo gerou, entre outras causas, aumentou procura por programas com abordagens alternativas.

Por Carlos Drummond

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Os dez anos da crise de 2008, o bicentenário do nascimento de Karl Marx, o aumento da desigualdade no mundo e a falta de respostas do neoliberalismo para os problemas que ele próprio criou desde os anos 1970 – todos esses fatores somados aumentaram o interesse na crítica à ortodoxia econômica e provocaram um crescimento inédito da oferta de cursos com abordagens heterodoxas na Europa, nos Estados Unidos, no Japão e em outros países.

“Uma década atrás, quando iniciei meu PhD em Filosofia das Ciências Sociais, havia apenas um punhado de cursos de verão fora do mainstream (corrente dominante) disponíveis para jovens pesquisadores interessados. Fico surpreso agora ao constatar que a quantidade de iniciativas com abordagens alternativas na área cresceu a uma taxa fantástica”, registrou Jakob Kapeller, editor da Heterodox Economics Newsletter, periódico dedicado ao debate dessa corrente.

Pesquisador destacado da Universidade Johannes Kepler, de Linz, na Áustria, Kapeller relacionou na edição de abril da newsletter dezenas de cursos de verão, workshops de pós-graduados e conferências de jovens economistas que considera “um grande sucesso para a comunidade de pesquisadores em economia heterodoxa”.

A agenda de eventos denota uma revitalização do interesse pela heterodoxia. A Sociedade de Economia Pós-Keynesiana realizará em maio em Londres seu décimo encontro anual de estudantes de doutorado e no mês seguinte a Associação Econômica da Armênia incluirá no seu oitavo encontro anual o debate sobre crescimento, desenvolvimento e economias em transição. Ainda em junho a Universidade do País Basco será sede de um congresso sobre Desenvolvimentos na Teoria e Política Econômicas.

O Fórum de Macroeconomia e Políticas Macroeconômicas fará em outubro em Berlim um congresso mundial intitulado “10 anos da crise de 2008: O que nós aprendemos?”. No mesmo mês, a instituição União para Políticas Econômicas Radicais celebrará seus 50 anos de fundação em evento na Universidade de Massachusetts com mesas redondas, workshops e painéis.

Ainda em outubro, a Sociedade Japonesa de Economia Política realizará em Kusatsu um evento para discussão da crise de 2018 com o tema Transformando o Capitalismo e a Perspectiva da Economia Política. Estes são só alguns exemplos da extensa agenda de eventos do gênero publicada pelo informativo.

No centro dos debates está a crítica à corrente neoclássica, que concebe o sistema econômico como uma rede de trocas impulsionada por escolhas feitas por consumidores “soberanos” e pouco discute como os processos reais de produção são organizados e modificados.

O economista Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel, assim ironizou aquela escola: “Há um velho ditado que diz que um garoto com um martelo vê tudo como um prego. Um economista com um kit de ferramentas neoclássico vê todo problema social como um “mercado” esperando para ser desenvolvido e aperfeiçoado. Com algumas marteladas aqui e ali, o mercado resolverá o problema social.”