Morre Winnie Mandela, ícone da luta sul-africana contra o apartheid

Winnie Madikizela-Mandela, militante sul-africana que lutou contra o apartheid e conhecida e aclamada por muitos africanos como “a mãe da pátria” e “a mãe da nova África do Sul”, morreu aos 81 anos nesta segunda-feira (2).

Winnie Mandela

“É com grande tristeza que informamos ao público que Winnie Madikizela-Mandela morreu no Hospital Milkpark, em Joanesburgo, na segunda-feira, 2 de abril”, disse o porta-voz Victor Dlamini em um comunicado. “Ela sucumbiu pacificamente nas primeiras horas da tarde de segunda-feira, cercada por sua família e entes queridos”, acrescenta a nota.

“Ela lutou valentemente contra o estado de apartheid e sacrificou a sua vida pela liberdade do país”, lê-se no comunicado. “Ela manteve viva a memória do seu encarcerado marido Nelson Mandela nos anos de Robben Island e ajudou a dar à luta pela justiça na África do Sul um dos seus rostos mais reconhecíveis.”

Winnie nasceu em Bizana, província do Cabo Oriental, em 1936. Mais tarde foi para Joanesburgo, onde estudou para ser assistente social. Em 1957 casou-se com Nelson Mandela, conhecido líder da luta antiapartheid. O casal separou-se em 1996, após a libertação de Mandela, em 1990. Enquanto o marido esteve preso, Winnie permaneceu na luta antiapartheid, passando por diversas prisões e confinamentos afastados. “Se eu não tivesse lutado, Mandela não teria existido, o mundo inteiro o teria esquecido e ele teria morrido na prisão como queriam as pessoas que o prenderam”, declarou em entrevista concedida ao jornal francês Le Journal du Dimanche, em 2013.

Em 1969, Winnie foi uma das primeiras pessoas detidas pela Lei do Terrorismo de 1967. Passou 18 meses numa solitária na Prisão Central de Pretória, antes de ser acusada pela Lei da Supressão do Comunismo, de 1950. Nesse meio tempo, foi torturada e passou dificuldades, como perder o emprego com o qual mantinha suas duas filhas jovens. Mais tarde, foi condenada à prisão domiciliar subúrbio de Soweto, em Joanesburgo, mesmo sem julgamento. Em 1977, pode escolher entre ir para a Suazilândia ou ficar no seu país; ela escolheu a segunda opção, que significava continuar a lutar.

Com o passar do tempo, como informa o jornal espanhol El País, a reputação de Winnie foi marcada por acusações de incitação de violência. A ativista manteve uma base de apoio popular e, ao contrário de Mandela, que defendia a reconciliação, ela apoiava táticas agressivas e de reação para acabar com o apartheid, participando do grupo Soweto Mandela United Football Club; esse fato acabou lhe custando críticas e acusações de violação dos direitos humanos pela Comissão da Verdade e Reconciliação.

Nas primeiras eleições democráticas de 1994, após a queda do regime de minoria branca e segregacionista no país, Winnie foi eleita deputada. Pouco depois foi nomeada ministra das Artes e da Cultura e em 2009 foi eleita para o parlamento. Até a sua morte nesta segunda (2), Winnie continuava a ser uma figura de referência dentro do Congresso Nacional Africano (ANC), maior e mais respeitado partido da África do Sul desde sua transição para a democracia.