Moro diz que "jamais" pediu escusas por vazar grampo de Dilma. Será?

“Diante da controvérsia decorrente do levantamento do sigilo e da r. decisão de V.Ex.ª, compreendo que o entendimento então adotado possa ser considerado incorreto, ou mesmo sendo correto, possa ter trazido polêmicas e constrangimentos desnecessários. Jamais foi a intenção desse julgador, ao proferir a aludida decisão de 16/03, provocar tais efeitos e, por eles, solicito desde logo respeitosas escusas a este Egrégio Supremo Tribunal Federal”, escreveu o juiz Sérgio Moro resposta, em 2016.

Sergio Moro - Agência Câmara

Mas diante dos holofotes da grande mídia, sua fiel escudeira, o juiz Moro disse: “jamais pedi escusas”. A categórica e contraditória afirmação foi feita no programa Roda Viva desta segunda-feira (26), sendo em sua primeira grande "entrevista" oficial.

Apesar de em 2016, Moro ter enviado pedido de desculpas ao Supremo por ter atropelado a Constituição e vazado um grampo entre a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula dizendo que não teve intuito “político-partidário”, na entrevista Moro disse que tomou a decisão de vazar o áudio "pensando estar fazendo a coisa certa" e, segundo ele, "o ministro Teori entendeu que não e revisou”.

Moro tenta minimizar a sua conduta que atendeu aos interesses do golpe, já que tão vazamento contribuiu para a aprovação do impeachment na Câmara dos Deputados.

O que o juiz classifica como "entendimento” e “equívoco” foi de fato uma decisão política que violou a Constituição, já que o foro competente para decidir sobre a divulgação do áudio de um presidente da República é o Supremo Tribunal Federal, ainda que a conversa grampeada tivesse a "suposta obstrução à justiça", como argumenta Moro, o que não se configurou.

No despacho, o ministro Teori deixou claro que não foi mera interpretação diferente sobre o assunto, mas uma violação constitucional. “É descabida a invocação do interesse público da divulgação ou a condição de pessoas públicas dos interlocutores atingidos, como se essas autoridades, ou seus interlocutores, estivessem plenamente desprotegidas em sua intimidade e privacidade”, escreveu o ministro.

Falando como um cabo eleitoral, Moro comentou sobre as eleições em 2018 e traçou um perfil sobre como vê dos possíveis candidatos.

"Eu vejo bons candidatos, outros nem tanto. E outros que merecem juízo maior de censura", disse.

Ele também fez a defesa das produções cinematográficas que proliferam factoides e discurso de ódio fascista como a série 'O Mecanismo', do diretor José Padilha, que utiliza da teses de "liberdade criativa" para mentir sobre e dramatizar a Lava Jato, criando "bandidos e mocinhos".

Segundo ele, tanto a série como o filme 'Polícia Federal – A lei é para todos' 'exageraram no drama', "não retratam uma realidade como aconteceu, mas existem pontos comuns".

"Essas produções culturais têm um valor e, por esses fatos estarem acontecendo agora, é difícil ser fiel. Mas é importante para informar. Ambos revelam que a corrupção é um problema. Se servir para chamar atenção nisso, já é um grande papel", afirma Moro, na linha de que se fala a favor dela, tá valando.

A entrevista certamente foi agendada com a torcida de que o Supremo recusaria o pedido d habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que Moro seria o juiz a executar a prisão.

Sem o fato, Moro disse que cumprir a lei e esperar que o trânsito em julgado de todos os recursos para executar prisões de condenados, como determina a Constituição, seria um "desastre".

“Se for esperar o último julgamento seria um desastre muito grande, porque levaria à impunidade, especialmente dos poderosos. É um assunto que transcende o ex-presidente Lula”, disse Moro.

Auxílio-moradia

Questionado sobre a polêmica envolvendo o recebimento de auxílio-moradia por juízes, Moro defendeu o pagamento do benefício de R$ 4,3 mil devido à falta de reajuste salarial nos salários dos magistrados.

"Existe esse benefício, que é questionável e existe a previsão constitucional de que os subsídios do magistrado deveriam ser reajustados anualmente, o que não ocorre há três anos", disse ele, novamente usando a tese que os fim devem justificar os meios.