Quando a análise de dados se uniu à extrema-direita

A influência que a Cambridge Analytica teve no comportamento eleitoral de milhões de norte-americanos é o produto das ambições alimentadas durante anos por Robert Mercer, um milionário que construiu uma fortuna no mundo dos fundos de investimento altamente especulativos, conhecidos como “hedge funds”

Quem o conhece descreve-o como um gênio da matemática, embora com reduzidas competências sociais. “Fico contente por viver sem dizer nada a ninguém”, disse em 2010 em resposta a um artigo do Wall Street Journal.

A genialidade que transformou este ex-programador da IBM em um milionário convivia com uma visão do mundo que estava nas margens do sistema político norte-americano. Mercer é um libertário, que defende um papel do Estado reduzido ao mínimo e a total desregulação da economia, e é também defensor da supremacia branca. O corolário do seu pensamento redundou num profundo ódio aos Clinton e a tudo o que representam. Várias pessoas que o conhecem contaram à New Yorker como Mercer lhes dizia que o casal Clinton estava envolvido numa alegada rede de tráfico de droga operada pela CIA num aeroporto do Arkansas.

Por volta de 2012, Mercer começou a utilizar os seus milhões para tornar a sua visão real, financiando várias organizações de activistas de extrema-direita, como a Citizens United – que entre outras actividades produz documentários com títulos como ACLU: Em Guerra contra a América, referindo-se à organização de defesa dos direitos civis. Foi por essa altura que o milionário encontrou um operacional à altura da sua ambição chamado Steve Bannon, que lhe foi apresentado por Andrew Breitbart, o fundador do influente site que congrega algumas das visões mais extremistas da política norte-americana e que se tornou uma plataforma de apoio de Donald Trump.