Pesquisa brasileira na Antártica está à beira do colapso

Cortes orçamentários no Ministério da Ciência e Tecnologia ameaçam o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), que deve inaugurar uma estação na região, "mas sem cientistas", alerta um dos coordenadores do projeto, Jefferson Cardia Simões.

Proantar Antartida

As atividades científicas do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) estão sob ameaça de cortes no orçamento. Sem edital previsto para novas pesquisas na região, o vice-presidente da SCAR (The Scientific Committee on Antarctic Research), Jefferson Cardia Simões alerta para o desmonte dos projetos por falta de investimento.

Existe a garantia de apenas R$ 1,5 milhão, que sustenta os estudos na Antártica até março deste ano. "Mas depois de março não tem mais dinheiro. Estamos vivendo na inércia", denuncia Cardia Simões. Prioridade dos governos Lula e Dilma, a produção científica do Proantar tinha R$ 14 milhões divididos em 18 projetos e prazo de três anos.

"A pesquisa antártica brasileira está à beira do colapso. Corremos o risco de inaugurar uma estação científica na Antártica de R$ 300 milhões, mas sem cientistas”, afirma o geólogo brasileiro, primeiro PhD brasileiro em glaciologia e vice-presidente do SCAR, de Cambridge (Reino Unido). O comitê é o mais importante da ciência antártica mundial.

Em razão dos cortes que inviabilizam a continuidade da parte científica da iniciativa já a partir de julho, a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG) solidarizou-se com o coordenador do programa. “Recebi denúncia gravíssima, em que eles informam que a falta de recursos financeiros ameaça a continuidade da parte científica do Programa Antártico Brasileiro a partir de julho de 2018”, disse a parlamentar.

No ano passado, Cardia Simões já havia denunciado a iminência de colapso da pesquisa Antártica brasileira, quando obteve recursos para finalização de projetos 2013-2016, envolvendo 200 pesquisadores e 22 universidades.

“Na oportunidade, fiz questão de agregar uma emenda parlamentar para o Ministério da Ciência Tecnologia, Inovações e Comunicações destinada ao Programa Antártico. Mas a minha emenda é insuficiente para que se garanta o edital e se sinalize ao mundo que o Brasil se dedica à pesquisa científica, principalmente a pesquisa Antártica”, alertou Jô Moraes.

O Brasil é um dos 59 países que estão na Antártica – o continente regulador térmico do planeta – e que tem direito a voz e veto de seu futuro, como membro consultivo do tratado que delibera sobre as atividades e o futuro da região.