Descrença no parlamento pode dar o tom das eleições na Colômbia 

 Neste domingo (11) os colombiano vão às urnas eleger os mais de 200 representantes para o Senado e a Câmara Federal. De acordo com pesquisas de opinião realizadas nas últimas semanas, a população não confia nestes organismos, vistos como “corruptos e ineficientes” e não sente necessidade de exercer o direito ao voto. 

Por Mariana Serafini

Farc - partido - Divulgação / Farc

Para este pleito, estão habilitados a votar 32.795.962 colombianos. Mas se usarmos como exemplo as parlamentares de 2014, vemos que nem metade saiu de casa para participar do processo eleitoral, apenas 43,58%. De acordo com analistas, isso é reflexo de um regime presidencialista pouco democrático que subestima o papel do Legislativo. Historicamente, só chegam à presidência do país, candidatos dos partidos Liberal e Conservador. 

 

Este é um dos principais fatores que podem prejudicar a Farc, a ex-guerrilha agora convertida em partido. De acordo com a fiscalização eleitoral, a maioria dos votantes são das capitais e grandes cidades. Já os possíveis eleitores da Farc estão justamente nas áreas mais distantes, onde o acesso às urnas é dificultado. 

 

A Missão de Observação Eleitoral (MOE) denuncia que, neste ano, 360 municípios sofrem com a dificuldade de acesso aos postos de votação. Além disso, o organismo considera que o sistema eleitoral é complexo, somado à baixa formação da população mais pobre, o exercício ao voto se torna ainda mais difícil. 

 

Isso ficou claro no referendo realizado em 2016 sobre o Acordo de Paz, onde a maioria da população escolheu a opção “não", ou seja, contrários ao fim da guerra entre governo e Farc. O mapa eleitoral deste processo mostrou, no entanto, que a maioria dos votos vinha justamente das maiores áreas urbanas, dominadas pelo uribismo – ex-presidente de extrema-direita do partido Conservador Álvaro Uribe. 

 

A Farc tem presença política principalmente nas regiões rurais mais afastadas, onde os então guerrilheiros conviviam em meio aos camponeses. Hoje, depois do acordo de paz, muitas destas regiões estão sem a proteção da guerrilha, e vulneráveis à violência dos paramilitares. 

 

Não à toa, depois que a Farc entregou todas as armas, aumentou o número de assassinatos de líderes sindicais e camponeses nas regiões que ficaram sem proteção. Apesar do acordo, o crime organizado continuou atuando, e o Estado não em cumprido seu papel, de proteger a população. 

 

Com o acordo de paz, as Farc se converteram em partido político e terão direito a 5 cadeiras no Senado e 5 na Câmara nesta eleição e na próxima, mesmo que não atinjam a quantidade de votos necessários para eleger seus parlamentares. Com isso, o novo partido supostamente terá tempo e espaço para desenvolver o diálogo político com a população e apresentar seu programa. 

 

Nestas eleições, os candidatos da Farc defendem ampliação da educação e da saúde pública e políticas públicas capazes de levar adiante uma paz estável e duradoura. 

 

A ex-guerrilha também está inscrita para concorrer ao pleito presidencial, a ser realizado em maio, mas retirou sua candidatura na última sexta-feira (9). O nome escolhido era do também presidente do partido, o ex-guerrilheiro Rodrigo Lodoño, conhecido como Timochenko. Ele teve complicações de saúde e precisou fazer uma operação no coração às pressas e se retirou da disputa. 

 

Mas o avanço da violência sobre líderes e a população rural também foi um fator a levar a Farc a sair da disputa, uma vez que o Estado não está cumprindo sua parte no acordo de paz e as comunidades rurais viraram alvo fácil do crime organizado.