Aumentam as críticas à exclusão da Venezuela da Cúpula das Américas

A tentativa do governo peruano de excluir o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, da oitava Cúpula das Américas continua recebendo no Peru críticas diplomáticas e jurídicas a partir de diferentes setores.

Nicolás Maduro - Divulgação

Enquanto o embaixador de carreira Oswaldo de Rivero esclareceu documentadamente que é falsa a afirmação da chanceler, Cayetana Aljovín, de que o país sede pode decidir se outro Estado participa ou não, um jornal e vários analistas fustigaram a ministra por suas declarações em torno do tema.

O jornal La República, em seu editorial desta terça-feira (20), destaca a declaração oficial venezuelana que afirma que Maduro irá de todas as maneiras à reunião porque o ‘desconvite’ não tem efeito jurídico, e as críticas de Bolívia, Cuba e Uruguai à exclusão da Venezuela e à posição do Grupo de Lima.

O editorial acrescenta que essas reações ocorrem ‘quando a diplomacia peruana contrariando sua tradição histórica, endurece sua atitude neste assunto, ao extremo de defender que tem o controle dos mecanismos para impedir – entende-se, fisicamente – a presença de Maduro em Lima e na Cúpula’.

Acrescenta que essas declarações da chanceler só reafirmam a falta de argumentos situados no Direito Internacional que justifiquem a exclusão da Venezuela.

La República adverte que ‘está em risco o prestígio da política exterior de um país que precisa de acordos e amizades no contexto de um processo integrador intenso, inclusive mais além do êxito ou fracasso da Cúpula’.

O jornal pede que cessem ‘as explicações absurdas e o uso deste delicado assunto na política interna’ e sugere que se recorde o gesto de dignidade do chanceler Raúl Porras em 1960, contra a exclusão de Cuba da OEA, e conclui que ‘a melhor decisão é o retorno de um exercício profisisonal de nossas relações internacionais’.

Por sua parte, o historiador Nelson Manrique expressou que o presidente Pedro Pablo Kuczynski ‘não éo dono da festa mas o anfrtrião e emprestar a casa para a festa não pressupõe necesariamente o direito de vetar os convidados’.

‘Não foi a Cúpula que decidiu que Maduro não é bem-vindo na reunião; a decisão foi tomada unilateralmente por Kuczynski, que logo pediu o apoio do Grupo de Lima’, uma minoría de 14 países alinhados com os Estados Unidos.

Manrique acrescenta que não é verdade que o grupo, como alega a chanceler Aljovín, respalda a exclusão de Maduro, pois só expresou que ‘respeita’ a medida, o que diplomaticamente é diferente de apoiar.

O analista e historiador diz ainda que ‘por trás das ações de Kuczynski parece pesar sua nacionalidade norte-americana (à qual afrma ter renunciado), não só como status jurídico, mas como horizonte mental’.

Outro objetivo do esforço do mandatário peruano para marginalizar a Venezuela, segundo Manrique, é retirar da pauta política o tema da sua destituição pelo parlamento, que várias forças políticas impulsionam.

Por sua parte, o analista político Augusto Álvarez aponta que o governo mostra imperícia diante do anúncio de Maduro de que irá de qualquer maneira à Cúpula das Américas, e deplora as declarações da premiê, Mercedes Aráoz, no sentido de impedir a todo o custo a entrada do mandatário bolivariano no país.

Álvarez acrescenta que Kuczynski agita temas como o da Venezuela para sobreviver politicamente, diante de sua possível destituição, o que não lhe trará resultados positivos.