A coligação na Alemanha está formada, falta apenas a aprovação do SPD

A negociação da aliança para formar um governo na Alemanha já foi concluída entre os líderes Angela Merkel, dos conservadores (CDU), e Martin Schulz, dos sociais-democratas (SPD), que abandonou na quarta-feira (14) o cargo de líder do partido- a sucessora poderá ser Andrea Nahles, primeira mulher a liderar o SPD. As discussões causaram alguns descontentamentos, e agora falta apenas o resultado do referendo interno do Partido Social Democrata

Por Alessandra Monterastelli *

Partido Social-democrata Alemão - Reuters

Em setembro de 2017, Angela Merkel foi reeleita, mas sem maioria parlamentar; já o SPD teve o seu pior resultado nas eleições desde a Segunda Guerra. Ambos os partidos decidiram reativar sua coligação para fazer com que fosse possível governar. E agora os termos da nova coligação estão prontos, o que falta é apenas a aprovação dos militantes do SPD no referendo interno do partido.

O percurso não foi fácil. Merkel evitou acordos com a extrema-direita alemã, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que conseguiu 12% dos votos nas eleições de setembro, uma porcentagem alarmante- já que com ela a extrema-direita voltou a ter voz no parlamento desde a queda do nazismo no país. O Ministério das Finanças ficou sob controle dos sociais-democratas, o que aumentou as críticas dos conservadores em relação à Merkel. O deputado Christian von Stetten, em declarações a TV ARD, considerou que a formação do governo “é um grave erro político”, e publicações em jornais como o Bild e o Süddeutsche Zeitung criticaram fortemente a primeira-ministra, acusando-a de querer conservar o seu cargo “a qualquer preço”.

Mais do que na ala dos conservadores, o maior rebuliço atingiu os sociais-democratas, e mais especificamente seu ex-lider e principal figura a favor da coligação, Martin Schulz. Logo após o resultado das eleições de setembro (preocupante para o seu partido), Schulz anunciou que não negociaria com a CDU, e que seu partido voltaria a fazer oposição ao governo após reorganizar suas pautas conforme sua linha ideológica (em tese mais à esquerda). Pouco depois voltou atrás e defendeu que uma coalização que permitisse a participação do SPD na administração governamental possibilitaria a aplicação de medidas mais voltadas para o cunho social, sendo possível uma guinada à esquerda nas decisões do Estado.

O SPD ficou dividido: enquanto parte dos seus componentes apoia os argumentos de Schulz, a outra parte, especialmente os militantes jovens do partido, é contra a coalização com os conservadores. Segundo eles, ao fazer isso, o SPD deixa o caminho livre para que a AfD se torne a principal força de oposição ao governo, adotando a imagem de “alternativa” e de representação do “novo”.

Na semana passada, as críticas sobre Schulz dentro do seu próprio partido aumentaram drasticamente, após este aceitar o cargo de Ministro das Relações Exteriores em um governo com Merkel. Como informa o Publico, o ato fez com que a juventude partidária colocasse sua credibilidade em dúvida. “[Schulz] deveria saber que isso iria enfurecer as bases, tendo em conta o atual estado de espírito do partido. Foi um erro não ter elaborado uma narrativa qualquer para explicar a decisão de entrar no governo, depois de originalmente ter dito que não o faria”, apontou ao Financial Times o deputado do SPD Jens Zimmermann. Após as criticas, Schulz renunciou ao cargo: “anuncio a minha renúncia em me juntar ao Governo federal, ao mesmo tempo que desejo sinceramente que [esta decisão] ponha fim aos debates dentro do SPD”, esperando que essa sua decisão convença os militantes do SPD a votarem a favor da renovação da “grande coligação”. O resultado do referendo interno do partido será divulgado no dia 4 de março.

Segundo uma sondagem da Emnid para o jornal Bild am Sonntag, divulgado pelo Publico, 84% dos simpatizantes do SPD na Alemanha apoiam a nova coalização. Já o diário Frankfurter Allgemeine Zeitung, aponta que o número de apoiantes de uma “grande coligação” entre os entrevistados em geral é de 57%. Contudo, a divisão entre os membros do partido é grande, tornando difícil a previsão de qual será o resultado.


Andrea Nahles poderá ser a primeira mulher a liderar o SPD

Agora, Martin Schulz deixou a liderança dos sociais-democratas antes do previsto, justificando a decisão dizendo que o SPD precisa de renovação tanto em termos de pessoas, quanto em termos de programa. Uma possível sucessora é Andrea Nahles, antiga ministra do trabalho (foi durante seu mandato no cargo que a Alemanha aprovou o salário mínimo a nível nacional) e líder da bancada parlamentar do SPD. Como explica o Publico, ela é conhecida pela sua postura inconformada e pelos seus discursos incisivos, vista como uma das pessoas mais capazes para revitalizar o partido de centro-esquerda diante da sua maior crise de identidade até o momento. Se for legitimada pelos militantes em um próximo congresso, esse será seu maior desafio.