Planalto tenta comprar apoio de influenciadores na web e é rejeitado

Não é novidade que o governo vem comprando apoio midiático à famigerada Reforma da Previdência. O SBT foi um dos principais aliados nessa empreitada, com participação de Temer no programa dominical de auditório de Silvio Santos e, posteriormente, no programa do Ratinho para dar “amplitude” ao discurso que a reforma veio para acabar com privilégios e não afetará os mais pobres.

Temer - Reprodução da Internet

A bola da vez é a busca aos influenciadores digitais. De acordo com informação divulgada pelo site Poder360, pelo menos três usuários do LinkedIn, que possuem alto número de seguidores, publicizaram a “investida” governista para defender a reforma.

Flavia Gamonar (673 mil seguidores), Murillo Leal (255 mil seguidores) e Matheus de Souza (86 mil seguidores) relataram em seus perfis ter declinado a proposta.

Professora de pós-graduação da Universidade Estadual Paulista, Flavia Gamonar afirmou na rede social que ela poderia “cobrar o que quisesse” que o governo bancaria. “Há valores que compram carros e viagens incríveis, mas nenhum paga o compromisso com quem você é e o que acredita, com dormir com a consciência tranquila”, escreveu.

Considerado o terceiro brasileiro mais influente no LinkedIn em 2016, o colunista Matheus Souza também relatou o contato do governo federal: “Ontem [6.fev.2018] acordei com um “convite” do governo federal para falar (bem) da Reforma da Previdência”. E emenda: “Posso listar uma série de fatores que me fizeram dizer ‘não’.”

Outro procurado foi Murillo Leal, jornalista e palestrante. “Diziam representar a parte publicitária do governo. Era um “convite” do governo federal. Sendo influenciador aqui, queriam que eu escrevesse (positivamente) sobre a reforma da Previdência”, escreveu Murillo na rede social.

Procurado, o Palácio do Planalto afirmou que a prática é “comum”, mas negou ter autorizado os contatos a usuários do LinkedIn.

“É uma prática comum do mercado de comunicação utilizar-se de porta-vozes para transmitir mensagens à sociedade.

Também é pratica usual de empresas que oferecem esse tipo de serviço, atuarem proativamente e apresentarem propostas comerciais a marcas e governos. Para isso, consultam antecipadamente, os possíveis contratados, para saber de sua disponibilidade em participar ou não com tais depoimentos.

O governo não solicitou os contatos aos usuários do Linkedin e a proposta apresentada não foi autorizada”, diz a nota do Planalto.

Propaganda é tudo

Nesta semana, o governo ampliou sua campanha pró-reforma nas redes sociais e na TV. Na segunda-feira (5), publicou uma série de vídeos para tentar “viralizar” uma onda a favor proposta na internet. Nas peças, pessoas com aparência humilde e até com dentes faltando dizem que o Norte e o Nordeste vão sofrer sem a reforma.

O discurso é o mesmo que vem sendo adotado nas entrevistas dadas pelo presidente e seus aliados, tentando transmitir o terror em caso de não aprovação da matéria.

Isso tudo porque Temer ainda não tem o mínimo de 308 votos para aprovar a emenda constitucional na Câmara.

Esta semana, o relator da matéria chegou a apresentar uma nova versão do texto na tentativa de reduzir a insatisfação e conseguir os votos que faltam. No entanto, a batalha parece perdida, visto que desde o final de 2017, quando o governo adiou pela primeira vez a votação, não conseguiu um voto a mais a favor do texto.