50 mil pessoas em Porto Alegre na defesa da democracia

Um verdadeiro mar de gente. Cerca de 50 mil pessoas tomaram conta da tradicional Esquina Democrática no centro de Porto Alegre em um ato histórico que reuniu, nesta terça-feira (23), lideranças políticas e sociais de todo o país em defesa da democracia e em solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo seu direito de concorrer nas eleições presidenciais de 2018.

Porto Alegre pela democracia - Foto: Ireno Jardim/Frente Brasil Popular

Tanto o ato como a caminhada até o anfiteatro Pôr do Sol, que ocorreu logo após, demonstraram o caráter pacífico das manifestações que estão se dando em Porto Alegre desde o dia 22, em razão do julgamento do ex-presidente Lula pelos desembargadores do TRF-4. Nos últimos dias, setores da mídia e até autoridades locais, como o prefeito de Porto Alegre, sugeriam que a capital do RS ficaria à mercê da violência por causa da presença de milhares de militantes sociais de esquerda.

Lula agradece solidariedade

O ex-presidente Lula, em sua fala, fez questão de agradecer a solidariedade do povo, em razão do processo que está enfrentando. “Não vou falar do meu processo e da Justiça (…) Vocês sabem da minha inocência. Eu vim aqui para falar do Brasil, da soberania nacional, da integração latino-americana”, declarou o ex-presidente, antes de emendar que espera que os juízes se atenham ao processo e deixem de lado “convicções políticas”.

Foto: Rafael Vilela

Lula relembrou ações do seu governo que tentaram unir a América Latina, rompendo com a mediação dos Estados Unidos para tudo. Também enumerou algumas conquistas sociais de seu governo, como a ascensão de classes sociais, pessoas que passaram a ter carne de frango no prato todos os dias, crianças que não precisavam mais ir dormir sem tomar um copo de leite, jovens que se tornaram os primeiros de suas famílias a entrar na faculdade, trabalhadores que conseguiram garantir aumento proporcional do salário mínimo. “Esse país, nós construímos. Por isso, não posso me conformar com esse complexo de vira-latas de uma elite subserviente”, afirmou.

Concluiu chamando à mobilização popular em defesa do Brasil: “Tenho 70 anos, estou com energia de 30 e tesão de 20 para mudar esse país”.

Resistência

A presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, iniciou sua participação lembrando que no dia 17 de abril de 2016 “tivemos um golpe de Estado na Câmara dos Deputados expressado por um impeachment sem crime de responsabilidade”. Luciana salientou que aquele “foi o início de um processo que tem o objetivo de interromper um projeto nacional e popular” e que não foi a primeira vez na história do Brasil que isso ocorreu. “Aconteceu no governo de Getúlio, com João Goulart e a resposta que o povo deu foi a resistência, o povo foi às ruas para garantir a retomada do projeto nacional e popular.”

Foto: Guilherme Imbassahy/Jornalistas Livres

Conforme destacou a presidenta, “o presidente Lula é um símbolo dessa luta porque foi exatamente no ciclo político de Lula e Dilma que o Brasil cresceu, adquiriu pleno emprego e conseguiu fortalecer o enfrentamento às desigualdades regionais”.

Por fim, Luciana Santos colocou: “O PCdoB nunca se furtou à luta. Foi o partido que foi em frente e para cima dos golpistas durante esse processo da luta contra o impeachment. E agora entra nessa luta com a pré-candidata gaúcha arretada Manuela D’Ávila, que está aqui para fazer valer a luta pela democracia e a luta para enfrentar a crise, defendendo o direito de Lula ser candidato”.

Manuela: “O juízo político é o juízo das urnas”

A deputada estadual e pré-candidata do PCdoB, Manuela D’Ávila, enfatizou a força da unidade popular na capital gaúcha. “É lindo ver Porto Alegre tomada por nossas bandeiras, bandeiras da nossa unidade, dos nossos partidos, dos movimentos sociais, daqueles que compreendem que eleição sem Lula é golpe porque julgar um inocente culpado é julgar tudo aquilo que nós construímos com as nossas mãos”. Para Manuela, “não se trata apenas de julgar Lula; é muito mais que isso. Julgar Lula culpado sendo ele inocente é a possibilidade que eles têm de acabar com a democracia no Brasil”.

Foto: Thallita Oshiro/Jornalistas Livres

Ao encerrar sua fala, a deputada colocou: “O juízo político é o juízo das urnas. Nós queremos que Lula seja julgado pelo povo nas urnas. Lugar de política é na eleição e não no Poder Judiciário”.

Dilma fala sobre a continuidade do golpe

Uma das falas mais importante do ato na Esquina Democrática foi a da presidenta legítima Dilma Rousseff. “Em 2016 sofremos um golpe de Estado, parlamentar, com o apoio da mídia e das corporações judiciais e também de grande parte do mercado. Esse golpe tirou uma presidenta eleita pelo povo brasileiro com 54 milhões de votos. E este golpe não foi apenas um ato para me tirar da Presidência. É um processo cujo primeiro ato foi o meu impeachment sem crime de responsabilidade”, lembrou.

O segundo ato, disse, “nós ainda estamos vivendo com um governo sem legitimidade, sem voto, que executa uma política de perda de direitos sociais, de reforma trabalhista que cria maior precariedade no trabalho, que vai reduzir os salários da população brasileira e a tentativa sistemática de vender nosso patrimônio, as nossas riquezas, de entrega-las às empresas estrangeiras”.

Foto: Rafael Vilela

O terceiro ato do golpe, explicou, é impedir que Lula seja candidato em outubro. “Eu afirmo aqui, para vocês: ele é inocente das acusações. Enquanto os culpados, que andam com malas para cima e para baixo, circulam livremente, o presidente está sendo julgado sem nenhum fundamento.”

Entre as muitas autoridades e lideranças presentes estavam os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Roberto Requião (MDB-PR), João Capiberibe (PSB), Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidenta do PT; a deputada Alice Portugal (BA), líder do PCdoB na Câmara; o ex-ministro Miguel Rosseto; os ex-governadores Olívio Dutra e Tarso Genro; João Pedro Stédile, do MST; Guilherme Boulos, do MTST; o escritor Raduan Nassar, o jurista Eugênio Aragão, a vice-presidenta da CTB-RS, Silvana Conti, a presidenta da UNE, Marianna Dias, além de deputados e representantes de centrais sindicais e movimentos sociais.

Depois do ato, o ex-presidente seguiu para São Paulo. Lula acompanhará o resultado do julgamento de amanhã, com a família, já que a data marca ainda um ano da internação da ex-primeira-dama Marisa Letícia, por um acidente vascular cerebral, que acabou sendo a causa de seu falecimento.